22 abril 2014, Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil http://portalctb.org.br (Brasil)
Marcos Aurélio Ruy
“Todo dia era dia de índio. Mas agora eles só têm o
dia dezenove de abril”, diz a canção Todo
Dia Era Dia de Índio, de Jorge Ben Jor e Tim Maia, ao denunciar a
sofreguidão na qual viviam os povos indígenas algumas décadas atrás. A situação
dos índios brasileiros melhorou um pouco recentemente, mas os problemas da
falta de demarcação de suas terras persistem. Os conflitos agrários são
permanentes com costumeiros assassinatos de índios por capangas de
latifundiários que se sentem ameaçados em suas posses ou desejam ampliá-las
tomando as Terras Indígenas para si.
O desrespeito aos direitos dos inúmeros povos
indígenas é tão grande no país que o Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgou em 2013 o Relatório
Violência Contra os Povos Indígenas no Brasil com dados intrigantes. O quesito
Violência Contra o Patrimônio mostra crescimento de 26% das violações das
Terras Indígenas. Em 2011 ocorreram 99 e em 2012, 125. Já no caso de Violência
por Omissão do Poder Público os índices são alarmantes com avanço de 72%. Em
2012 tivemos 106.801 vítimas, enquanto em 2011, 61.988 vítimas. Em Violência
Contra a Pessoa é ainda pior. O aumento foi de 237%, sendo registradas 378
violações em 2011 e 1.276 em 2012. Neste item são consideradas as ameaças de
morte, homicídios, tentativas de assassinato, lesões corporais e violência
sexual.
Somente em 2012 foram assassinados 60 índios, nove a
mais do que em 2011, 37 apenas no Mato Grosso do Sul, onde têm ocorrido os
maiores conflitos recentes por posse da terra.
O relatório mostra também que o
conflito por terra pode continuar porque boa parte das Terras Indígenas
permanece sem regulamentação.
Por isso, neste sábado (19) não basta comemorar mais um Dia
do Índio. A data sugere profundas reflexões sobre a civilização
brasileira e sobre que tipo de país se quer legar para as gerações futuras. Os
índios precisam de terras. Os irmãos Villas-Boas estabeleceram contato com
muitas tribos nas décadas de 1960 e 1970 e criaram a Reserva do Xingu, para
onde foram levados diversos povos indígenas. Atualmente, além das reservas são
demarcadas as Terras Indígenas para manter os povos em seus habitat naturais.
A importante data instituída em 1943 por Getúlio Vargas
para regulamentar os direitos dos povos indígenas no Brasil. O dia 19 de abril
foi escolhido porque nesse dia em 1940 aconteceu o 1º Congresso Indigenista
Interamericano no México, onde foi criado o Instituto Indigenista
Interamericano para defender os direitos dos índios no continente. O Brasil
somente aderiu ao instituto após intervenção do Marechal Rondon, quando a data
ficou como o Dia do Índio.
Historiadores garantem que existiam milhões de índios
por estas bandas quando Pedro Álvares Cabral aqui aportou com sua esquadra e
foi iniciada a colonização do Brasil. Em 1500, estima-se uma população indígena
entre 5 milhões e 10 milhões de pessoas. Atualmente, de acordo com a Fundação Nacional
do Índio (Funai) essa população beira os 900 mil habitantes, dos
quais mais de 500 mil vive no meio rural e o restante na zona urbana. Existem
ainda 69 povos não contatados. São 274 diferentes línguas faladas pelos índios
brasileiros, 17,5% ainda não falam português.
A Funai informa que existem atualmente 677 Terras
Indígenas representando pouco mais de “13% do território nacional, localizadas
em todos os biomas, com concentração na Amazônia Legal. Tal concentração é
resultado do processo de reconhecimento dessas Terras Indígenas, iniciadas pela
Funai, principalmente, durante a década de 1980, no âmbito da política de
integração nacional”. Para a antropóloga Manuela Carneiro da Cunha os
representantes dos ruralistas e das mineradoras querem que os indígenas deixem
de ser índios. Para ela, a principal mudança que o texto da Carta Magna
acrescentou à questão dos povos indígenas, foi a de respeitá-los como povos.
Todo o problema das Terras Indígenas passa também pela
questão da reforma agrária, muito tímida no país com imensas porções de terras
agricultáveis e com muita riqueza de fauna, flora e no subsolo das florestas
brasileiras. Com isso, muitos interesses gananciosos e capitalistas querem as
Terras Indígenas e a banca ruralista no Congresso exorbita contra essas
possessões assim como esbravejam contra a reforma agrária para apaziguar o
campo brasileiro.
A situação é tamanha que vale
lembrar a música de Djavan Cara de
Índio, onde o cantor alagoano diz que “nessa terra tudo dá, terra
de índio. Nessa terra tudo dá, não para o índio”. E conclui: “Apesar da minha
roupa, também sou índio”. Também ouso alterar a bela canção de Jorge Ben Jor e
Tim Maia, porque para a CTB Todo Dia
É Dia de Índio. Respeitar os povos indígenas significa respeito
pela humanidade e pelo futuro. Integrar esses povos à nação brasileira não pode
significar aniquiliar suas culturas, seus saberes e suas vidas.
Todo Dia Era Dia de Índio (Jorge Ben Jor e Tim Maia)
Cara
de Índio (Djavan)
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