sábado, 19 de abril de 2014

BRICS, БРИКС/DECLARAÇÃO DE VITALY CHURKIN, EMBAIXADOR DA RÚSSIA NO CONSELHO DE SEGURANÇA DA ONU

14 abril 2014, Redecastorphoto http://redecastorphoto.blogspot.com (Brasil)
12/4/2014 , The Saker - The Vineyard of the Saker
Traduzido da transcrição em inglês pelo pessoal da Vila Vudu


Obrigado, Senhora Presidenta.

Hoje se ouviram muitas palavras, muitas declarações, mas a primeira impressão que gostaria de partilhar com meus colegas é que não estão prestando atenção ao relógio. Nesse momento são 21h30, o que significa que são 3h30 da madrugada na Ucrânia. Dentro de duas horas e pouco será dia, 14 de abril, na Ucrânia. Na verdade, é a hora em que, segundo ordens criminosas distribuídas pelo Sr. Turchinov, o Exército Ucraniano deverá entrar em ação para reprimir as manifestações de protesto.

Ouviram-se aqui muitas palavras injustas, mas com certeza a fala que supera todas as demais e supera até o que ele próprio já disse aqui, foi de meu colega ucraniano. Quer processar a Rússia por terrorismo. Por que nunca pensaram em processar os que aterrorizaram o seu próprio governo durante vários meses, até o dia 21 de fevereiro? Quem fez guerra contra a Polícia, quem queimou vivos oficiais de Polícia da Ucrânia, quem matou a tiros, policiais e pessoas que protestavam contra o governo e que parecem ser aliados do hoje governo de Kiev? O senhor jamais antes os chamou de terroristas e, isso, por alguma razão. E até os eximiu de qualquer responsabilidade por suas ações criminosas, que se repetiram por vários meses.

Outra vez, infelizmente, se ouviram aqui várias acusações ridículas contra a Rússia. Disseram que a Rússia quer desestabilizar a Ucrânia, até que tenta sufocá-la. Tão preocupados estão com a Ucrânia! Mas por que não responderam nosso pedido para que se iniciasse um diálogo sobre como ajudar a Ucrânia a enfrentar e combater uma crise quando ela estava começando? Por que só fizeram incitar o confronto, para que continuasse? Por que aconteceu tão tarde a manifestação dos ministros de Relações Exteriores da França, da Alemanha e da Polônia, dizendo que a União Europeia, sim, realmente precisava conversar com a Rússia sobre
perspectivas econômicas da Ucrânia, Geórgia e Moldávia, no caso de esses países virem a associar-se à União Europeia? Por falar nisso, não me lembro de ter ouvido alguém, em Bruxelas, que apoiasse a posição daqueles ministros. Fomos acusados de “sufocar a Ucrânia” porque nos recusamos a doar, gratuitamente, nosso gás natural à Ucrânia.

Esperemos, para saber qual será a resposta dos Ministros da União Europeia, até dia 14 de abril, à carta do presidente Putin sobre como podemos trabalhar juntos para arrancar a Ucrânia do pântano econômico em que está.

E Washington – que, de fato, nem está na lista dos que receberam essa carta – já está pressionando a Europa e já diz que a carta seria “chantagem econômica”. Esperemos para vez se ainda resta alguma soberania à União Europeia, se é capaz, ou não, de tomar decisões racionais.

Durante toda a crise na Ucrânia, a Rússia votou “não” a qualquer movimento que contribuísse para acirrar os ânimos e desestabilizar o país. Não nos interessa nem acirrar os ânimos nem desestabilizar o país – absolutamente não nos interessa, porque a Ucrânia é nosso importante parceiro econômico e político, país muito próximo da Rússia em vários sentidos. A Rússia sempre votou contra a desestabilização da Ucrânia. Não somos absolutamente culpados pela situação que se observa hoje.

O Sr. Fernandes Tarancoa disse que representantes da ONU começaram a observar ações em que pessoas do sudeste da Ucrânia estariam capturando alguns prédios do governo. Não se pode esquecer que, evidentemente, muito aprenderam de Maidan e de Kiev, em matéria de capturar prédios públicos. Lá, capturaram prédios públicos durante meses!

Nossos parceiros ocidentais dizem que Maidan foi “exemplo de democracia”, não se sabe por quê. Mas mudam de opinião sobre as mesmas técnicas, quando o pessoal do sudeste faz coisa semelhante.

Aconteceu dia 6 de abril, já se passou um mês e meio desde 21 de fevereiro, quando o presidente Yanukovich foi derrubado e assinou-se acordo que, sim, impediria o agravamento ainda maior da situação.

Desde o início dissemos sempre que aquele acordo tem de ser implementado. Que talvez se tenha de convocar uma Assembleia Constituinte, para que se possam fazer gestos decisivos para o sudeste da Ucrânia. Algum gesto foi feito?

Pode-se dizer que sim: finalmente, o Sr. Yatsenyuk foi [ao sudeste da Ucrânia], disse alguma coisa e partiu no dia seguinte. Mas, um dia depois, o Sr. Turchinov discursou e disse que discorda de Yatsenyuk. Fato é que eles preferem usar a força.

Têm-se observado outros eventos preocupantes, durante várias consultas que mantemos com nossos colegas ocidentais. O Ministro de Relações Exteriores, Sergey Lavrov, como os senhores sabem, conversa quase todos os dias, por telefone, com o Secretário de Estado dos EUA, John Kerry.

Em todos os telefonemas, Kerry dá sinais de que compreende – porque é compreensível – que não entendamos coisa alguma dessa confusão, e tenta, e procura fazer alguma coisa, e tenta falar com Kiev para ajudá-los a compreender as necessidades e as preocupações do sudeste, sobre a autonomia e os direitos deles à própria língua.

Então, de repente, um dos deputados deles faz um discurso no Congresso e diz “Sabemos que essas conversas darão em nada, mas temos de gastar o tempo”. Gastar o tempo. Quer dizer: será que haveria algum cenário de  Turchinov “usar o exército”, na cabeça de alguém em Washington? É mais que hora de parar de culpar a Rússia, que estaria procurando a desestabilização.

A representante dos EUA mencionou que o Vice-Presidente Biden irá à Ucrânia, se lembro bem, dia 21 de abril. Mas por que esperar tanto? Ele que pegue um telefone e telefone ao Sr. Turchinov, como telefonou tantas vezes ao Presidente Yanukovich, antes de 21 de fevereiro. Que o vice-presidente Biden diga ao Sr.Turchinov o mesmo que disse ao Sr. Yanukovich. Segundo o gabinete de imprensa do vice-presidente, ele disse “Não use força, pelo amor de Deus! Tire seus policiais do centro de Kiev”. Foi o que o Sr. Biden disse.

E agora? Agora os EUA aprovarão aquela ordem criminosa, para usar o exército contra civis? Por que, quando o povo estava indo assaltar a residência do presidente ucraniano os EUA pediram que não usassem a força e, agora, na situação atual, mudam completamente de posição, adotam o ponto de vista oposto e apoiam a ordem de Turchinov?

Por tudo isso, Sra. Power, por favor, peça que o Vice-Presidente Biden telefone ao Sr. Turchinov imediatamente, já, porque dentro de algumas horas os eventos podem tomar rumo irreversível.

Alguns colegas disseram, sobre aquele encontro que foi anunciado, que deve, com sorte, acontecer dia 17 de abril. A verdade é que estivemos tentando todas e quaisquer formas de diálogo – há vários meses, e especialmente depois de 21 de fevereiro – que conteriam a crise; e acertamos que haveria um encontro entre o Ministro de Relações Exteriores da Rússia, o secretário de Estado dos EUA, a alta comissária da União Europeia, Sra. Ashton, e o Ministro interino de Relações Exteriores da Ucrânia. Esperávamos que dessa reunião brotasse um amplo diálogo político sobre a Ucrânia, que surgisse dali uma saída da crise. Mas alguém realmente supõe que alguma conversa seja possível, se o exército ucraniano iniciar operações militares? Qualquer conversa estará, nessas circunstâncias, absolutamente desvirtuada.

Por favor, portanto, paremos com especulações, perseguições, caçando fantasmas russos em todos os cantos da Ucrânia, e nos concentremos no que podemos fazer – nesse ponto, falo diretamente aos meus colegas ocidentais – para impedir ações temerárias, impensadas do governo de Kiev, que acaba de dar essa ordem criminosa, dada pelo Sr. Turchinov. Temos de impedir que aconteça. As consequências serão terríveis sobre o povo da Ucrânia e temos de evitar que aconteça.

Obrigado.

(Na sequência, depois da fala dos representantes da Ucrânia e dos EUA)

Dessa vez, falarei bem menos. Só preciso dizer duas coisas. Primeiro, Yuriy Anatolievich, você chama o seu próprio pessoal de “bandidos” com excessiva facilidade. Excessiva facilidade. O “Setor Direita” e os demais que, hoje, dizem que precisam sair matando gente, essa gente não são “bandidos”. Essa gente – foi com certeza o que você quis dizer − é a “elite política” em Kiev [ironia]. E os que protestam hoje no leste, com certeza, nada fariam se a Rússia não os mandasse fazer [ironia]. Estou entendendo. Para entender o horror do que o governo de Kiev está fazendo na Ucrânia… só se a Rússia mandar fazer. Entendi [ironia]. Ninguém na Ucrânia é capaz de entender coisa alguma. São radicais chegados da Rússia, que dizem a eles que lá estão para implantar uma nova ordem a ferro e fogo. Entendi. Se os russos não descerem lá e explicarem tudo aos ucranianos do leste, eles não entendem nada. Toda a experiência de uma vida inteira deles no próprio país deles, é nada, nada ensina. Como é possível? Por que vocês insistem nessa abordagem tão simplória?

E, por fim, quanto ao que disse nossa colega dos EUA, Sra. Power. Até agora, ainda não manifestou sua posição sobre essa ordem para usar o exército no leste da Ucrânia. Assim sendo, ainda tenho esperança de que, depois da reunião de hoje, como disse também ao nosso colega ucraniano e a outros de nossos colegas ocidentais, espero que todos peguem os telefones e telefonem aos seus patrões e digam a eles que façam valer a influência que tenham sobre o governo de Kiev. Que suspendam a luz verde para o ataque. Porque ninguém, no governo de Kiev, faz coisa alguma sem a aprovação deles. E nosso objetivo deve ser resolver os problemas mediante o diálogo, não em confronto militar.

Obrigado.


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