25 abril 2014, Partido
Comunista Português Avante! EDITORIAL http://www.avante.pt (Portugal)
Comemoramos esta semana
os 40 anos desse acontecimento maior da nossa história, o 25 de Abril de 1974.
Dia em que um levantamento militar logo seguido de um levantamento popular,
culminando uma prolongada e heroica luta antifascista, punham fim à mais longa
ditadura fascista da Europa. 48 anos de terror que tolheram o desenvolvimento
do País, comprometeram a nossa soberania e independência nacionais, colocaram
as alavancas da nossa economia nas mãos de grandes monopolistas e
latifundiários, foram responsáveis por uma das maiores vagas de emigração da
nossa história, conduziram a uma guerra colonial em três frentes com muitos
milhares de mortos e feridos dos dois lados, deixaram um imenso rasto de
miséria, atraso, obscurantismo e isolamento.
Vários factores fundamentais intervieram nesta
viragem, como reconhecia Álvaro Cunhal, em entrevista a L'Humanité em 29.04.1974: «a crise
interna do regime fascista, as consequências económicas, sociais e políticas da
guerra colonial, o isolamento e condenação internacional do fascismo e do
colonialismo português, os êxitos dos movimentos de libertação na Guiné-Bissau,
em Moçambique e Angola e o grande ascenso da luta do povo português».
Gloriosa data em que um povo, que muitos diziam
despolitizado, apático e conformado, invadia as ruas e os campos, e, lado a
lado com os militares do MFA,
cavava a sepultura ao fascismo. Com ambos, lá
estava, com destacado papel e em profunda ligação às massas, o Partido da
resistência antifascista, o Partido da classe operária, de todos os
trabalhadores, o Partido Comunista Português, partilhando a imensa alegria pela
liberdade duramente conquistada e, ao mesmo tempo, organizando, logo ali, a
luta pelas mudanças necessárias, prevenindo para os perigos à espreita,
apelando à unidade dos democratas, organizando as massas para os novos
combates, contribuindo para a aliança Povo-MFA, consolidando as conquistas
revolucionárias, projectando os valores de Abril.
Uma semana depois, as gigantescas manifestações
unitárias do 1.º de Maio confirmariam o rumo revolucionário das transformações
que viriam a mudar a face do País: instauração do regime democrático, das
liberdades democráticas fundamentais e dos direitos básicos dos cidadãos,
nacionalizações, reforma agrária, controlo operário, melhoramento das condições
de vida do povo, fim da guerra colonial e reconhecimento do direito à independência
aos povos colonizados, libertação dos presos políticos, soberania popular,
poder local democrático, fim do isolamento internacional e adopção de uma
política de paz, cooperação e amizade com todos os povos do mundo, afirmação da
soberania e independência nacionais – são algumas das conquistas e valores que
a Revolução de Abril enraizou na sociedade Portuguesa e catapultou para o
futuro de Portugal.
Iniciado o processo
contra-revolucionário em 1976 com o I Governo Constitucional (PS/Mário Soares),
durante 37 anos de política de direita, o processo de recuperação capitalista,
profundamente acelerado pela nossa entrada na CEE/UE, procurou reconstituir o
edifício económico que os monopólios haviam perdido na viragem revolucionária
de Abril.
Ao mesmo tempo, levantou-se uma vigorosa acção de
massas na resistência a esta política de retrocesso, semeada por um número
incontável de lutas (incluindo 10 greves gerais) travadas pelos trabalhadores e
as massas populares organizadas pelo poderoso movimento sindical da CGTP-IN e
por outras estruturas unitárias. De novo e sempre com as massas trabalhadoras,
lá esteve o PCP, força política organizada e organizadora. E com o PCP, a CDU
(antecedida pela APU e pela FEPU), num combate incansável, ao longo destes 37
anos, que apesar das enormes perdas e retrocessos, impediu que os partidos da
política de direita – PS, PSD e CDS-PP – conseguissem, até hoje, a total
reconstituição do velho poder perdido.
E muito menos conseguiram (ou vão conseguir) apagar os
valores de Abril.
Portugal é hoje uma
república que, apesar de limitada na sua soberania, tem uma Constituição que
reflecte grande parte desses valores. Importa defendê-la. Importa continuar a
luta nas empresas, locais de trabalho e nas ruas bem como nos órgãos do poder e
junto deles. Importa prosseguir a luta ideológica e o esclarecimento para a
próxima batalha eleitoral.
40 anos são volvidos sobre o 25 de Abril de 1974.
Muitas das conquistas sucumbiram à ofensiva do grande capital. O Portugal de
Abril é hoje quase irreconhecível no quadro de desastre económico, político,
social e cultural para que as políticas de direita arrastaram o País. Mas os
valores de Abril ganharam raízes fundas na sociedade portuguesa. E Abril vive e
viverá porque a luta do povo português continua pela ruptura com a política de
direita, por uma política patriótica e de esquerda, pela democracia avançada,
pela sociedade socialista que a Constituição, apesar de mutilada, continua a
consagrar.
Hoje, como antes do 25 de Abril, há quem considere o
povo português despolitizado, apático e conformado. Mas a verdade é que, apesar
de tantas dificuldades, não deixou cair os braços. Tem os olhos na Revolução de
Abril cujas marcas e valores são sementes de futuro.
Por isso mesmo vai marcar presença nas comemorações do
25 de Abril, do 1.º de Maio e nas lutas que virão. Sem esquecer a grande
jornada de 25 de Maio, reforçando, pelo voto, a CDU.
Porque todo o tempo é de Abril, quando de luta é feito
o tempo que vivemos.
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