Vivemos uma nova realidade na América Latina que implicará mudanças na velha receita dos EUA e da extrema direita para manobrar o Continente.
19 setembro 2008/Brasil de Fato http://www.brasildefato.com.br
Editorial ed. 290
Tudo aconteceu e se agravou exatamente nos dias que antecederam e durante a semana em que se completavam 35 anos do golpe contra o Governo do presidente chileno constitucionalmente eleito, Salvador Allende, em 11 de setembro de 1973.
No Paraguai, alarmes soaram no 1º de setembro, quando o presidente Fernando Lugo reuniu a imprensa e denunciou movimentos de dois ex-presidentes do país, os senhores Nicanor Duarte e Lino Oviedo, no sentido de gerar uma desestabilização institucional que poderia culminar em golpe de Estado.
Em seguida, os oligarcas separatistas (“autonomistas”) do Oriente da Bolívia, lançaram-se a mais uma aventura no sentido de desestabilizar e derrubar o Governo do presidente Evo Morales, que acabava de sair vitorioso do Referendo Revogatório de 10 de agosto, com 67,41% dos votos.
Enquanto isto, o presidente venezuelano Hugo Chávez anunciava o desbaratamento de uma tentativa de golpe também contra o seu Governo, que incluía o seu assassinato.
Se nos casos do Paraguai e da Venezuela, a situação interna rapidamente se recompôs, na Bolívia a crise se estendeu por toda a semana e, embora ainda não esteja de todo debelada, a pronta ação da União das Nações Sul-Americanas (Unasul) que se reuniu em Santiago (Chile), no dia 15, tenha sido importante para estancar, pelo menos provisoriamente a crise. Até o momento, os dados oficiais falam de 15 camponeses mortos, 25 feridos e 106 desaparecidos, em conseqüência da chacina promovida pelos capatazes (e pistoleiros contratados no Brasil e Peru) do governador “autonomista” de Pando, senhor Leopoldo Fernández, preso desde o dia 16.
O Governo Morales declarou o embaixador dos EUA na Bolívia, Philip Goldberg, persona non grata ao país, e o presidente Chávez expulsou de Caracas o embaixador estadunidense, senhor Patrick Duddy. Enquanto isto, o presidente de Honduras, Manuel Zelaya, suspendeu o recebimento das credenciais do novo embaixador de Washington em seu país, em solidariedade ao seu colega boliviano, Evo Morales.
Na opinião do candidato democrata à Presidência dos Estados Unidos, senhor Barack Obama, a expulsão dos embaixadores é um “confronto fabricado” pelo Governo Chávez. Para seu colega republicano, senhor John McCain, esta escalada das tensões diplomáticas é um alerta sobre “as tendências perigosas” no Continente.
Ou seja, foi uma semana em que a América Latina ferveu, e quando se aproveitou para lançar ainda mais lenha na fogueira: Caracas recebeu em seu aeroporto militar dois bombardeiros estratégicos russos TU-160, e aproveitou para divulgar que, até o final deste ano, deverá receber o contratorpedeiro Pedro O Grande, o cruzador Almirante Chabanenko e outros vasos de guerra russos.
Da parte deles, o arroz com feijão de sempre
Enfim, crises geradas a partir de uma velha receita das elites do Continente. Primeiro, a palavra de ordem é abortar qualquer experiência política que fuja aos interessses dos oligarcas e elites da região, e/ou que possa fugir ao controle e aos projetos de Washington. Para isto, inicia-se a conspiração, envolvendo diplomatas da Casa Branca e os representantes das elites locais. Passo seguinte, ganhar as forças armadas do país em questão. Apoio e presença indispensável, a grande mídia comercial é sempre indispensável. Assim, cria-se algum pretexto capaz de desqualificar o Governo em questão para que os grandes jornais, revistas, rádios, TVs comerciais possam fazer a campanha. Nesse meio tempo, um trabalho de articulação diplomática com os países vizinhos e algumas potências para garantir o apoio internacional. Daí, avalia-se se essas forças são suficientes. Caso positivo, desencadeia-se o golpe (sempre em nome da democracia), como foi regra nas Américas desde sempre, ainda que nossa memória se detenha mais nos exemplos dos anos 1960 e 1970, no Cone Sul do Continente, a começar pelo golpe de 1964, contra o governo do presidente João Goulart – o Jango, em nosso país. E todos os seguintes, como o Chile, em 1973, Argentina, 1976, etc., fazendo descer uma espessa noite no Continente.
Caso a aliança dessas forças não dê conta da empreitada, bem, os mercenários podem sempre ser contratados. E num Continente onde a maioria dos países fala a mesma língua, nada é tão difícil assim. Exemplar nesse sentido foi a inavasão da Guatemala, em 1954, por um exército de mercenários recrutados pelos EUA e pelas elites guatemaltecas entre a marginália e o lumpesinato da América Central e do Caribe.
O que pode ter mudado no Continente?
Acontece, porém, que vivemos uma nova realidade na América Latina, especialmente na América do Sul que certamente implicará mudanças na velha receita dos EUA e da extrema direita para manobrar o Continente.
Os atuais governos do Continente, apesar de todas as nuances do espectro de centro-esquerda, e mesmo um que outro que fuja a esse campo, têm apostado numa diplomacia capaz de garantir a autodeterminação dos diversos países da região, e a busca de pontos de unidade que os defenda de ingerências externas e intervenções, mesmo considerando-se o Haiti um ponto negro dessa história. A criação da Unasul, há um mês, faz parte dessa nova concepção de política internacional dos países do Continente.
No documento resultante da reunião da Unasul, A Declaração do Palácio de La Moneda, aprovada por unanimidade, os chefes de Estado e Governo presentes manifestam “seu mais pleno e decidido apoio ao governo constitucional do presidente Evo Morales”, e rejeitam qualquer situação que leve a um golpe, a ruptura da ordem institucional, ou comprometa a unidade territorial da Bolívia.
O que pode ter mudado no Continente?
Acontece, porém, que vivemos uma nova realidade na América Latina, especialmente na América do Sul que certamente implicará mudanças na velha receita dos EUA e da extrema direita para manobrar o Continente.
Os atuais governos do Continente, apesar de todas as nuances do espectro de centro-esquerda, e mesmo um que outro que fuja a esse campo, têm apostado numa diplomacia capaz de garantir a autodeterminação dos diversos países da região, e a busca de pontos de unidade que os defenda de ingerências externas e intervenções, mesmo considerando-se o Haiti um ponto negro dessa história. A criação da Unasul, há um mês, faz parte dessa nova concepção de política internacional dos países do Continente.
No documento resultante da reunião da Unasul, A Declaração do Palácio de La Moneda, aprovada por unanimidade, os chefes de Estado e Governo presentes manifestam “seu mais pleno e decidido apoio ao governo constitucional do presidente Evo Morales”, e rejeitam qualquer situação que leve a um golpe, a ruptura da ordem institucional, ou comprometa a unidade territorial da Bolívia.
http://www.brasildefato.com.br/v01/agencia/analise/america-do-sul-em-transe
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