Alex Rodrigues, repórter da Agência Brasil http://www.agenciabrasil.gov.br
20 setembro 2008
Brasília - Coordenador do comitê interministerial responsável pela elaboração do Plano Estratégico de Defesa Nacional entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 9, o ministro de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, acredita que a iniciativa, embora conduzida por civis, irá contribuir para a superação de eventuais divergências entre civis e militares.
Mangabeira afirma não haver, da parte do atual governo, qualquer atitude revanchista por conta da perseguição a oposicionistas da ditadura militar (1964-1985), mas reconheceu que o golpe que depôs o presidente João Goulart aprofundou o distanciamento entre a sociedade civil e os militares.
"Vivemos um período de antagonismos e de suspeitas entre civis e militares que foi agravado por toda a experiência do regime militar”, afirmou Mangabeira à Agência Brasil. “Acho que estamos superando isso e, a meu ver, essa é uma das conquistas menos visíveis da formulação do Plano de Defesa, selar a superação desse legado histórico”
Segundo o ministro, enquanto no resto do mundo os defensores de “projetos nacionais” são os mesmos grupos associados às pessoas que querem o fortalecimento da Defesa Nacional para que seus países tenham “uma margem de manobra que lhes permita construir seus próprios modelos e resistir às agressões e intimidações externas”, no Brasil aconteceu algo singular.
“Devido a toda a nossa história, houve uma divergência, agravada pelo regime militar, entre os que defendiam o projeto de desenvolvimento e os que reclamavam um projeto de fortalecimento de nossas Defesas”, disse Mangabeira. Ele explicou que, enquanto o desenvolvimentismo foi associado aos grupos de esquerda, a noção de Defesa foi associada aos militares que combatiam esses mesmos grupos.
Mangabeira lembrou que, embora não tenha sido a única causa, o afastamento entre militares e esquerdas ajuda a explicar “a marginalização da causa da Defesa” e o conseqüente sucateamento das Forças Armadas brasileiras.
“Claro que essa não é a única explicação. Entre todos os países grandes, o Brasil é o menos beligerante e o que menos contato teve com guerras. Não temos inimigos, não estamos ameaçados por qualquer um de nossos vizinhos e o pacifismo faz parte de nossa identidade nacional. Estamos predestinados a nos engrandecer sem imperar. Nada disso, no entanto, nos exime da responsabilidade de nos defendermos”.
Segundo Mangabeira, outra consequência desse antagonismo seria a existência de poucos especialistas civis aptos a discutir o tema e colaborar para a definição das estratégias adotadas pelo país. “Em todos os países grandes do mundo há uma burocracia civil especializada em questões militares. Nós não a temos. Por isso eu julgo importante que essa proposta entregue ao presidente tenha sido conduzida por civis, com a colaboração dos militares. Ao longo do último ano, eu ouvi de vários oficiais que eles jamais haviam discutido com civis as grandes questões militares ”.
Após receber a proposta do Plano de Defesa, Lula pediu ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, que convocasse uma reunião do Conselho Nacional de Defesa para que se amplie o debate sobre o assunto. Jobim preside o comitê interministerial criado em setembro de 2007 para formular a estratégia nacional.
http://www.agenciabrasil.gov.br/noticias/2008/09/19/materia.2008-09-19.9793342857/view
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