Brasília, 18 setembro 2008 (Lusa) - Os Presidentes brasileiro e paraguaio terminaram hoje sem acordo uma reunião de mais de duas horas em Brasília sobre a polémica em torno da hidroeléctrica de Itaipu, mas decidiram criar uma comissão para analisar a questão.
Lula da Silva e Fernando Lugo querem alternativas que respondam aos interesses dos dois países em relação à tarifa paga pelo Brasil ao Paraguai pela energia da hidroeléctrica binacional.
Em conferência de imprensa, após o encontro presidencial no Palácio do Planalto, os ministros das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, e do Paraguai, Alejandro Hamed Franco, informaram que a comissão será formada dentro de dez dias.
"Todos conhecem as posições dos dois governos e não houve hoje nenhuma mudança de posição. Vamos esperar as ideias que vão aparecer na mesa das negociações. Não é um jogo de um ganhou e outro perdeu. É um jogo em que os dois têm que ganhar", afirmou Amorim.
"Queremos que Brasil e Paraguai se sintam compensados pela riqueza gerada por Itaipu", acrescentou o ministro, destacando que a discussão sobre a hidroeléctrica não estará limitada aos números.
Por seu turno, Hamed Franco disse que o Presidente Lugo notou uma "ampla vontade de entendimento" por parte do governo brasileiro, mas destacou a urgência do Paraguai em resolver a questão.
Segundo o Tratado de Itaipu, firmado em 1973 e cuja revisão apenas deveria ocorrer em 2023, a energia gerada pela hidroeléctrica é dividida igualmente entre Brasil e Paraguai.
Como o Paraguai utiliza apenas cinco por cento da energia produzida, que é suficiente para responder a quase toda a sua procura, os 45 por cento restantes são vendidos ao Brasil.
Actualmente, o Brasil paga ao país vizinho 45,3 dólares por megawatt de energia, mas 42,5 dólares são abatidos na dívida que o Paraguai tem pela construção da hidroeléctrica.
O Paraguai recebe, portanto, 2,81 dólares por megawatt vendido e é esta parcela que o governo paraguaio quer ver revista.
No total, o Brasil paga por esse excedente 1.500 milhões de dólares (1.000 milhões de euros) ao ano, mas o Paraguai fica com cerca de 300 milhões de euros, já que mais de 700 milhões de euros destinam-se ao pagamento de dívidas do financiamento da obra da hidroeléctrica.
O reajuste da tarifa paga pelo Brasil pela parte paraguaia da energia de Itaipu foi uma das principais bandeiras da campanha presidencial de Fernando Lugo.
Além da possibilidade de revisão do Tratado de Itaipu, Lugo e Lula da Silva discutiram a abertura de linhas de crédito por instituições brasileiras para financiar a construção de infra-estruturas no Paraguai, como pontes, estradas e uma linha de transmissão de Itaipu a Assunção.
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