Por Patrick O'Connor
World Socialist Web Site/2 Setembro 2008
Fonte da tradução: timorlorosaenacao/4 setembro 2008
Continuam por verificar uma série de questões pendentes no que respeita ao governo australiano e militares nas tenebrosas relações com Reinado desde o seu papel na crise de 2006.
Nas semanas que antecederam a 11 de Fevereiro de Reinado e os militares australianos, utilizaram Angelita Pires como intermediária, informando-se mutuamente sobre as respectivas deslocações, a fim de evitar eventuais encontros inesperados no interior de Timor. Além disso, é agora também conhecido que, pelo menos, um militar australiano de alta patente foi directamente envolvido nas negociações entre Ramos Horta e Reinado no mês de Janeiro. De acordo com um artigo em 22 de Agosto o Major Michael Stone acompanhado do presidente Horta esteve na reunião em 13 de Janeiro que ocorreu em Maubisse.
Stone foi nomeado conselheiro militar sobre a situação por Ramos Horta em finais de 2007, após ter sido concedido um período de dois anos de suspensão de funções no exército australiano.
Não pode haver dúvida de que a inteligência australiana teria tido o ex-militar e elementos principais sob estreita vigilância até 11 de Fevereiro. Do mesmo modo, é altamente improvável não terem sido interceptados telefonemas e mensagens de texto de Reinado enviadas a partir de seu telefone móvel - inclusive chamadas efectuadas e recebidas a partir Austrália.
Como foi então possível Reinado e seus homens serem capazes de conduzir a partir do distrito Ermera, sudoeste da capital, até Dili e à casa de Ramos Horta sem serem detectados por qualquer pessoa, incluindo as centenas de soldados australianos e da Nova Zelândia, no país?
Com doze homens fortemente armados a acompanharem Reinado em dois veículos, e um outro com dez homens do grupo de Gastão Salsinha, em outros dois veículos, era praticamente impossível não detectar aquele comboio de viaturas. Além disso, os homens de Reinado disseram à imprensa que fizeram o percurso lentamente para evitar uma chegada antecipada àquilo que acreditavam ser uma convocação para satisfazer o presidente.
"Os rebeldes salientaram que viajaram devagar até Dili, com paragem em locais para "matar o tempo", a fim de chegarem à hora para que tinham sido convocados", relatou The Australian.
Um dia depois dos atentados de 11 de Fevereiro, o Brigadeiro-General Taur Matan Ruak, do exército timorense, expressou a sua preocupação: "Dado o grande número de forças internacionais presentes em Timor-Leste, nomeadamente no âmbito da capital, como é que é possível que os veículos que transportam pessoas bem armadas entrarem na cidade e executarem operações nas residências do presidente e do primeiro-ministro sem terem sido detectadas? Tem havido uma falta de capacidade demonstrada pelas forças internacionais, que têm a principal responsabilidade pela segurança dentro de Timor-Leste, ao prever, reagir e evitar esses acontecimentos. "
Ramos Horta, posteriormente, fez comentários semelhantes: "Eu não vi nenhum ISF [Australian-led Estabilização Força Internacional] nem elementos da UNPOL [policiais] na área ... Normalmente eles são supostamente para actuar instantaneamente, e neste caso de extrema gravidade que seria normalmente vedarem toda a região, bloqueando a saída dos atacantes isso não aconteceu. Tanto quanto sei, nenhuma perseguição aos atacantes foi feita durante vários dias. Como foi possivel o Sr. Alfredo Reinado não ser detectado em Dili quando era suposto o ISF manter debaixo de olho os seus movimentos? "
As circunstâncias da morte de Reinado levantam a questão de saber se as forças australianas o fizeram deliberadamente deixando-o descer para Dili em 11 de Fevereiro.
Tal seria um acto incompatível com o que diz Camberra, que afinal consegue um imundo recorde em Timor-Leste.
Em 1975 o governo do Trabalhista Whitlam incentivou a junta militar indonésia para invadir e anexar a ex-colónia Portuguesa; mais tarde o governo trabalhista Hawke-Keating concluíu um acordo com os militares do ditador Suharto para a exploração ilegal dos mil milhões de dólares em reservas de petróleo e gás do Mar de Timor.
Em 1999, o governo Howard expediu centenas de militares a fim de proteger os australianos da elite dominante e os interesses vitais nas meias-ilha, supervisando a sua transição para a chamada independência perante o colapso do regime Suharto.
O papel desempenhado pelo governo australiano no envio de forças militares em 2006, na "crise" e subsequente violência ainda está para ser determinado.
Não há dúvida, porém, que o governo Howard manipulou a agitação para justificar o envio das tropas e, em seguida, foi o engenheiro da "troca de regime" à medida dos seus interesses financeiros e estratégicos.
Mari Alkatiri e a sua administração foi considerada demasiado perto de poderes rivais, nomeadamente de Portugal e da China, tendo-se revelado menos dispostos a acolher plenamente as exigências de Camberra durante as negociações sobre a atribuição do petróleo e gás natural no Mar de Timor
Após ter despendido esforços e substanciais recursos para expulsar Mari Alkatiri, o governo australiano teria visto com alarme o Presidente Ramos Horta com aparente disponibilidade para proceder à dissolução do governo Gusmão, vendo potencialmente a possibilidade do regresso ao poder de Alkatiri.
Em meio da escalada de hostilidade entre os timorenses para com a presença militar da Austrália, esse seria um grande revés, com potenciais consequências geoestratégica para além das fronteiras de Timor. A crescente influência da China está a criar sérias preocupações no âmbito da política externa australiana e o estabelecimento de Camberra na hegemonia do Pacífico Sul, que está a ser fatalmente minada.
Foi isto, acima de tudo, que levou às operações militares e policiais da Austrália em toda a região nos últimos anos, nomeadamente em Timor-Leste.
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