Por Ricardo Bordalo, da Agência Lusa
Luanda, 23 setembro 2008 (Lusa) - O retorno à guerra após as falhadas eleições gerais de 1992 em Angola foi o fator que mais influenciou os resultados das eleições legislativas de setembro, defende o sociólogo Paulo de Carvalho em entrevista à Agência Lusa.
Assim como a esmagadora vitória do MPLA, com mais de 81% dos votos, o destaque destas eleições vai para o insucesso da Unita, que ficou com 10% dos votos.
O partido sofreu também pesadas derrotas em colégios eleitorais em que costumava ser vitorioso, como o Huambo, Benguela ou Kuando Kubango.
Paulo de Carvalho defende que foi a “destruição e a morte provocada pela retomada do conflito em 1992 que mais influência exerceu na abstenção ou na mudança de opção por parte de metade do eleitorado tradicional da Unita”.
“Não nos podemos esquecer que foi exatamente nas suas áreas tradicionais de recrutamento de militantes e simpatizantes que a guerra mais terá provocado a morte e a destruição”, explica.
O sociólogo entende que a penalização da UNITA “é mais visível, porque teriam sido os mais jovens dessas áreas (descendentes de pessoas que teriam votado na UNITA em 1992) a optar - agora - pela abstenção ou pela transferência de votos para o MPLA”.
Falta de empenho
Paulo de Carvalho adianta que, para minimizar esse impacto, “era preciso que a Unita tenha consciência disso e a sua direção agir psicologicamente junto das pessoas que sofreram muito tempo pela opção de guerra que o líder da Unita, Jonas Savimbi, sempre tomou”.
Os dirigentes do partido, entende o sociólogo, “deveriam ter andado de província em província, dando conta do reconhecimento dos erros cometidos pelo seu partido durante muitos anos”.
“Isso não foi feito, em prejuízo da própria Unita. Do ponto de vista sociológico, penso haver necessidade de a mudança de postura da Unita (refiro-me à sua transformação em partido político) dever ter sido associada à meia culpa, pois as pessoas sabem que só se recupera aquele que assume os seus erros”, refere ainda.
Isto porque Paulo de Carvalho, um dos sociólogos angolanos que mais se tem debruçado sobre a realidade política no país, considera igualmente que as propostas políticas dos partidos ainda não foram determinantes nas escolhas feitas pelos eleitores.
Alternativa
A experiência de governo que o MPLA tem, o fato de o partido estar associado à conquista da paz e uma opção pelo mal menor foram outros fatores que teriam motivado uma opção quase generalizada, defende o sociólogo.
Carvalho admite também que a afirmação antiga do MPLA como partido que nega o tribalismo, o racismo e a discriminação social, como ficou claro nos vários discursos pré-eleitorais do presidente do partido, José Eduardo dos Santos, pode ter exercido alguma influência sobre os eleitores.
“Acredito que isso tenha exercido alguma influência sobre o eleitorado. Realmente, o MPLA ainda se mantém no imaginário popular como o partido político com mais confiança em relação à não discriminação por fatores subjetivos”, frisa.
Texto anterior
MPLA faz festa em Angola e promete "trabalho árduo"
Nenhum comentário:
Postar um comentário