sábado, 20 de setembro de 2008

«É hora de dar salto qualitativo», diz novo secretário da CPLP

Por José Sousa Dias, da Agência Lusa

Lisboa, 19 setembro 2004 (Lusa) - A hora chegou para que a CPLP, 12 anos após sua fundação, dê um salto qualitativo em suas intervenções, por meio de ações concretas para ganhar maior visibilidade junto às comunidades lusófona e internacional. Foi o que disse o novo novo secretário-executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o guineense Domingos Simões Pereira.

Simões Pereira, que já foi ministro na Guiné-Bissau, disse que os orçamentos da organização são insuficientes, uma vez que, "se pretende fazer algo mais, o orçamento de 1,1 milhão de euros (R$ 3 milhões) tem de ser revisto".

"Mas há dificuldades, entre elas as financeiras. Qualquer orçamento é relativo e tudo depende do que se pretende fazer e, se quisermos ir mais longe, terá de se rever", disse Simões Pereira.

O novo secretário-executivo lembrou ainda que Portugal é atualmente o detentor da presidência da comunidade, razão pela qual aguarda pelo relatório que está sendo elaborado pelo ministério português das Relações Exteriores.

"O meu desafio é interpretar corretamente as recomendações saídas da última cúpula (em julho deste ano, em Lisboa), tendo em conta as preocupações inerentes à criação da organização, a promoção da Língua Portuguesa, da concertação político-diplomática e da cooperação", explicou.

Metas

Simões Pereira se mostrou satisfeito pelo fato de se ter estipulado novos objetivos para a CPLP, como o impulso à agricultura, garantia à segurança alimentar e energética.

Além disso, ele disse que o petróleo dos países membros não deve constituir uma prioridade, por exemplo, o óleo existente em dois membros - Angola e Brasil - e as reservas de outros três - Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e Timor Leste.

"Antes de se recorrer às receitas do petróleo deve se apostar primeiro na agricultura e na segurança alimentar e, sobretudo, criar disciplina na gestão da governabilidade das nações mais frágeis. É necessário fortalecer e consolidar a administração do Estado. O petróleo, sem uma administração capaz, só traz problemas", avisou.

Simões Pereira deu como exemplo o sucesso de Cabo Verde, que assumiu o desafio, apostou na formação, nos recursos humanos e na competência, definiu as regras e os resultados são agora consensualmente considerados um êxito.

Visibilidade

Tendo como pano de fundo o aumento da participação da sociedade civil na vida da CPLP, Simões Pereira admitiu que, para o simples cidadão lusófono, a organização pouco ou nada diz, ou o beneficia, reconhecendo a responsabilidade da comunidade.

Nesse sentido, adiantou que vai promover uma campanha de aproximação ao cidadão lusófono, em que o mesmo será incentivado a contribuir e participar das discussões.

"Dar visibilidade é um grande desafio, mas até a própria Comunidade Britânica (Commonwealth), que cumpre 60 anos de existência, tem ainda as suas lacunas", frisou.

Simões Pereira, graduado em engenharia pela Universidade de Odessa (ex-URSS e atualmente Ucrânia), e mestre em estruturas pela Universidade de Fresno, nos Estados Unidos, realçou que as críticas à visibilidade da CPLP são normais, mas rejeitou a idéia de criticar apenas por criticar.

"Não basta reclamar. É preciso que quem reclama também participe das discussões. A CPLP oferece muitas oportunidades e a sua atuação não se resume ao secretariado executivo", sustentou.

Uso da língua

Sobre a Língua Portuguesa, Simões Pereira reconheceu que uma grande fatia dos povos lusófonos não fala português, razão pela qual defende a realização de uma campanha para "explicar a importância da utilização" do idioma no cotidiano das populações.

"O português oferece um conjunto de oportunidades que só estarão disponíveis a quem o domine minimamente. Aproxima-os ao futuro, à ciência, às novas tecnologias, à cultura, à informação", salientou.

Para Simões Pereira, outra polêmica que tem de ser esclarecida é de que a língua portuguesa não está competindo com outros idiomas ou dialetos locais, ressaltando que neste quesito, a campanha será útil.

Sobre o acordo ortográfico, o secretário-executivo se mostrou aberto à discussão e, admitindo não ser um técnico no assunto, apelou ao espírito de abertura para dar norte a discussão.

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