segunda-feira, 27 de outubro de 2014

CUBA E O COMBATE AO ÉBOLA

27 outubro 2014, Jornal de Angola EDITORIAL http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)

Os grandes gestos devem ser enaltecidos, sobretudo quando se trata de acções de solidariedade que salvam vidas humanas.

A África foi afectada por um vírus que comporta elevados riscos de contágio e que já causou a morte de mais de cinco mil pessoas no continente. Referimo-nos ao ébola. Identificado pela primeira vez em 1976  no Hospital de Yambuku, no Norte da então República do Zaire, o vírus do ébola é um sério problema de saúde pública e atinge em grande escala a Libéria, a Serra Leoa e a Guiné-Conacri.

Para se ter uma ideia da gravidade da situação, retomamos as seguintes palavras proferidas por um responsável pelas operações de combate ao ébola na Serra Leoa: “Diariamente, há 75 a 100 corpos que precisam de ser retirados em Freetown (capital da Serra Leoa) e no resto do país são entre 20 a 50 corpos. Não se pode cometer nenhum erro. Temos de ser extremamente disciplinados”.

Num momento em que a epidemia do ébola suscita medo em todo o mundo, ao ponto de países fecharem as suas fronteiras a
cidadãos da Libéria, Serra Leoa e Guiné-Conacri (decisão muito criticada) e de empresas estarem a encerrar as suas actividades produtivas nesses Estados, importa  enaltecer os gestos de solidariedade de Cuba, que estende a sua mão aos africanos que carecem de meios sanitários e de recursos humanos para fazer face a uma doença que é letal em 90 por cento dos casos.

Cuba não hesitou em mandar médicos e enfermeiros aos países africanos mais afectados pelo ébola, tendo a Organização Mundial da Saúde (OMS) indicado que aquele país latino-americano é o que até aqui enviou mais profissionais da saúde às regiões do continente em que está  instalada a doença.

Segundo dados recentes, Cuba enviou à África do Oeste mais de cento e cinquenta técnicos da Saúde (médicos e enfermeiros), demonstrando a sua  firme disponibilidade para contribuir para superar um problema que deve mobilizar todo o mundo, particularmente os países ricos.

Brigadas médicas de Cuba já estão operacionais na Libéria, Serra Leoa e na Guiné Conacri e permanecerão nesses países por seis meses sem substituição. Os profissionais que compõem essas brigadas são de alto nível e com larga experiência, tendo já trabalhado em condições de catástrofes naturais ou epidemiológicas. Margaret Chan, directora geral da OMS, recordou em Setembro que Cuba “é mundialmente conhecida pela sua capacidade de formar excelentes médicos e enfermeiros”.

A generosidade de Cuba perante a situação dramática que se vive na Libéria, Serra Leoa e Guiné Conacri, em consequência do ébola, mereceu largos elogios de prestigiadas personalidades que têm destacado a pronta resposta do país de Fidel Castro aos apelos da Organização Mundial da Saúde para o combate ao ébola.

Um pesquisador, Remy Herrera, escreveu na revista “Afrique-Asie” (edição de Outubro de 2014) que os médicos e enfermeiros cubanos que foram à Africa do Oeste para combater o ébola dão um exemplo de “coragem, solidariedade e humanismo”. Ele  sublinha que esses técnicos da Saúde “deixaram os seus familiares e amigos para desafiar a morte no continente africano e para tentar salvar o maior número de vidas possível. Só há uma palavra a dizer aos cubanos: obrigado”.

Os angolanos já  testemunharam noutras circunstâncias a coragem e a solidariedade de Cuba, quando o nosso país beneficiou da ajuda desinteressada do povo cubano na luta  pela defesa da nossa liberdade, independência e soberania. Nunca nos esqueceremos daqueles que nos estenderam a mão nos momentos difíceis.

Numa altura em que três países africanos atravessam uma situação difícil, Cuba coloca à disposição do continente berço da humanidade recursos humanos para tratar dos nossos irmãos que sofrem na Serra Leoa, Libéria e Guiné Conacri. As palavras do Presidente da Serra Leoa, Ernest Bai Koroma, não podiam ser mais claras quando afirmou em Agosto último que, devido ao ébola, “a essência da nossa Nação está em jogo.”

Em face de uma epidemia como a do ébola, os países devem continuar a conjugar esforços para combatê-la, e a melhor atitude a tomar é enfrentar a doença ali onde a situação é mais crítica, não devendo os países que estão em condições de ajudar de forma substancial deixar de prestar a assistência necessária aos que dela precisam.

Muitos acreditam que o bom exemplo de Cuba pode levar outros países a um maior  envolvimento na luta contra a epidemia do ébola. Estaremos todos descansados quando a doença desaparecer. E se todos queremos que a doença desapareça, temos todos de trabalhar rapidamente para ultrapassar um problema que, a não ser eficazmente combatido, pode atingir proporções maiores, com custos elevados.


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