27
outubro 2014, ADITAL Agência Frei Tito para
a America Latina http://www.adital.com.br (Brasil)
Marcela Belchior
Em uma das eleições mais instáveis e disputadas dos
últimos anos no Brasil, Dilma Rousseff, do Partido dos Trabalhadores (PT), é
reeleita presidente do país. A petista obteve 51,64% dos votos válidos contra
48,36% do candidato de direita Aécio Neves (Partido da Social Democracia
Brasileira - PSDB). Pelos próximos quatro anos, a mandatária terá como algumas
das principais incumbências reestabilizar a economia do país, lidar com uma
oposição aparentemente fortalecida e consolidar sua integração com a política
autônoma do hemisfério sul.
A diferença entre os dois candidatos foi de
apenas 3,4
milhões de votos dentre os 141,8 milhões de eleitores brasileiros — a menor em
um segundo turno desde as eleições de 1989, no período de redemocratização do
Brasil, quando Fernando Collor de Mello (então PRN – Partido da Reconstrução
Nacional) venceu Luiz Inácio Lula da Silva (PT) por 4 milhões de votos, registrando-se
53,03% contra 46,97%, respectivamente. Já na última eleição, em 2010, Dilma
venceu o candidato tucano José Serra com diferença de 12 milhões de votos.
As abstenções no pleito superaram marcas históricas.
Os eleitores que optaram por não votarem nem em Dilma nem em Aécio somaram 6%
de votos em branco e/ou nulos do total das urnas. No primeiro turno, esse
número chegou a 10%. Analistas compreendem o percentual como um reflexo do
descrédito de grande parte do eleitorado com relação à política, aos partidos
políticos, aos próprios representantes públicos e ao Estado brasileiro.
Em seu primeiro discurso após reeleita, reunindo a
militância em hotel próximo ao Palácio da Alvorada, em Brasília, Dilma
mencionou uma série de compromissos da nova gestão. O principal deles, segundo
ela, será a concretização da reforma política no país, que prevê a alteração
nos moldes eleitorais e na própria estrutura do Estado brasileiro.
Após uma campanha de tom e recursos fortemente
agressivos e diante do resultado apertado entre os dois candidatos, a
presidenta se recusou a compreender o Brasil como um país dividido, conclamando
as diversas vozes políticas à união e ao diálogo. "Tenho a esperança de
que a energia mobilizadora preparou um bom terreno para a construção de pontes.
(...) Vou estimular o diálogo e as alianças com todas as forças produtivas do
país”, declarou a petista.
Articulações para novo
mandato
Até 1º de janeiro, quando assume o novo mandato, Dilma
tem a missão de compor os cargos do governo em primeiro e segundo escalão,
negociando com uma ampla gama de forças políticas que a apoiaram durante a
campanha eleitoral. Além disso, a nova composição do Congresso Nacional conta
com uma maioria conservadora, especialmente na Câmara dos Deputados, que deve firmar
uma dura oposição ao governo e dificultar as negociações entre Executivo e
Legislativo.
A presidenta reeleita também enfrentará um quadro
econômico instável, devendo trabalhar para recuperar a confiança de
investidores, organizar as contas públicas sem que o ajuste fiscal sacrifique
programas sociais, que são os principais avanços do governo esquerdista
comandado pelo PT desde 2003 e que contribuem, de maneira decisiva, para a
mudança do quadro social brasileiro. Dilma deverá articular os muitos interesses
programáticos e ideológicos dos aliados, além das divergências dentro do
próprio Partido dos Trabalhadores.
O desempenho do candidato Aécio Neves também alerta
para uma oposição mais dura nos próximos quatro anos. Nos últimos anos, os
maiores conflitos políticos com o governo foram protagonizados por grandes
conglomerados de comunicação, e não por um antagonismo organizado dos partidos
opositores. Agora, o PSDB de Aécio elegeu para o Senado Federal um grupo que
sinaliza fazer frente, de maneira mais contundente, dificultando a
governabilidade da presidente e galgando uma candidatura forte para as eleições
de 2018.
Parceria
latino-americana
Em comunicado, o presidente da Venezuela Nicolás
Maduro celebrou a conquista da petista. "A vitória da presidenta Dilma
Rousseff é o resultado de uma extraordinária mobilização das forças populares
do Brasil, que, uma vez mais, demonstram o elevado nível de consciência
política e de compromisso com a união da região sul-americana, latino-americana
e caribenha”, escreveu o mandatário. "Sem dúvida alguma, ela garantirá a
continuidade do processo de construção da Pátria Grande, como sonharam o
libertador Simón Bolívar e o herói José Ignacio Abreu de Lima”, complementou o
bolivarianista.
Maduro manifestou apoio ao governo e ao povo
brasileiro no que ele entende por "nova etapa sociopolítica” para um
compromisso com a chamada Revolução Bolivariana, na consolidação de uma aliança
estratégica entre Brasil e Venezuela. O presidente venezuelano destacou que os dois
países deverão fortalecer planos e projetos de desenvolvimento conjuntamente.
Para ele, a gestão petista escreve uma nova história no Brasil que, juntamente
com o restante da América Latina e Caribe, segue em direção à soberania,
independência, proteção recíproca, unidade e paz.
Sobre Dilma
Dilma é economista e iniciou sua trajetória política
na militância armada contra a Ditadura Civil e Militar no Brasil (1964-1985).
Após a redemocratização brasileira, foi militante do Partido Democrático
Trabalhista (PDT) juntamente com Leonel Brizola, na época um dos maiores
líderes da esquerda no país.
Integra o PT há 14 anos e, durante o governo do
ex-presidente Lula (2003-2010), assumiu a chefia do Ministério de Minas e
Energia e, posteriormente, da Casa Civil. Foi indicada por Lula para sucedê-lo
na Presidência e, em 2009, foi eleita a primeira mulher presidenta do Brasil.
Seu primeiro governo apresentou economia instável, mas manteve e ampliou os
programas sociais implantados por Lula.
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