quinta-feira, 16 de outubro de 2014

África/UNIÃO PARA ATINGIR O SUCESSO

16 outubro 2014, Jornal de Angola Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao (Angola)

Roger Godwin

Cada vez mais e de forma altamente positiva começa a ganhar força a ideia de que a união de esforços entre os países mais pobres do continente africano é a chave para que estes possam atingir o sucesso económico que logicamente ambicionam.

A fórmula não é nova, mas alguns constrangimentos políticos, infelizmente, ainda se conseguem sobrepor aquilo que é a força da razão, impedindo, desse modo, que os avanços sejam feitos de forma mais afirmativa.

Há um ano, um grupo de países onde estão o Quénia, Ruanda e Uganda decidiram obrigar as suas respectivas companhias de telefonia móvel a reduzirem drasticamente os custos das chamadas internas e de ligação conjunta
entre eles.

Passados poucos meses dessa decisão foi anunciada a redução em 60 por cento do custo total das chamadas internas e entre o Quénia, Uganda e Ruanda.
 
No caso das ligações internacionais a decisão foi a de reduzir os custos dos serviços roaming, precisamente, nos 60 por cento exigidos pelos respectivos governos.

Um ano decorreu desde que essa decisão entrou em vigor e foi com alguma surpresa que as três companhias tuteladas pelos respectivos governos desses países verificaram que o volume total de dinheiro arrecadado com as chamadas internacionais, apesar das medidas de redução adoptadas, aumentou em 20 por cento.

Isso só foi possível devido ao aumento do número de pessoas que, beneficiando do abaixamento dos preços, passou desde essa altura a comunicar-se com familiares que vivem nos países abrangidos por este acordo conjunto.

Esta singular forma de unir os esforços no sentido de possibilitar que mais pessoas possam beneficiar, a nível do continente africano, das novas tecnologias de comunicação, neste caso concreto, é um bom exemplo que deve servir para que os responsáveis pelas economias nacionais usem de mecanismos similares, embora extensivas a outros sectores, de modo a vencer barreiras para poderem assim ombrear também com os seus parceiros regionais mais evoluídos.

Cada vez mais existe a necessidade dos diferentes blocos regionais africanos acertarem entre si mecanismos de cooperação que beneficiem as respectivas populações e possam ser por elas entendidos como uma mais valia para o seu desenvolvimento e valorização social.

Por exemplo, fica difícil entender que apenas cerca de metade (18 por cento) dos adultos africanos tenham uma conta bancária no sistema financeiro formal, o que contrasta com a média de 89 por cento verificada nos chamados “países ricos”.

Segundo o Banco Mundial, que divulga estas percentagens, isto acontece porque a esmagadora maioria das populações africanas não sabe, ou não tem condições, para amealhar dinheiro e quando o tem não confia na fiabilidade das instituições financeiras optando, muitas das vezes, por guardar o dinheiro na própria residência.

No Uganda, ainda segundo o Banco Mundial, cerca de 99 por cento da população guarda o dinheiro em locais que a sua própria família desconhece, o que levanta sérios problemas quando uma pessoa morre e ninguém sabe os bens que possuía nem onde os tinha.

O sistema financeiro formal, sobretudo os bancos, não têm sido suficientemente agressivos nas suas campanhas para esbater a desconfiança que incute junto de populações pouco informadas e nada habituadas a lidar com esquemas complexos.

Para essas populações ter o dinheiro na mão é uma garantia de que nada sucederá que fuja do seu controlo e representa, até por questões culturais, uma afirmação de estatuto para se impor e sobressair numa sociedade ainda distante dos modernismos que lhes tarda a chegar.

É para esbater essa desconfiança que países como o Zimbabwe e o Quénia, por exemplo, aceitam que as suas operadoras de telefonia móvel facilitem a circulação financeira através de um esquema simples onde apenas é necessário ter um telefone e um número para através de uma simples recarga poder efectuar a transferência para um outro utilizador da mesma companhia.

São esquemas simples, como este, onde o destinatário depois vai a um representante da operadora e levanta em dinheiro sonante o saldo que lhe foi enviado por uma simples mensagem de texto, que estão a possibilitar a algumas populações, sobretudo do interior dos respectivos países, poderem ter acesso a valores enviados por familiares e assim movimentarem os seus pequenos negócios sem a necessidade de percorrerem longos quilómetros para acederem a uma filial bancária onde, ainda por cima, teriam que esperar largas horas.

Os exemplos de inovação dados pelas populações africanas são imensos mas carecem de alguma coordenação para que possam ter uma maior abrangência, tanto a nível regional como continental.

É por isso que os diferentes blocos regionais, ou mesmo a própria União Africana, deveriam estudar com mais acuidade toda esta problemática de forma a que, usando os seus próprios recursos, as populações e os governos africanos pudessem tirar maior proveito das suas capacidades, unindo-se no sentido de projectar um desenvolvimento e crescimento do continente melhor consolidado.

Mais uma vez, neste caso concreto, bem se poderá aplicar a máxima de que a união é que faz a força.

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