Por Patrick O'Connor
World Socialist Web Site/2 setembro 2008
Fonte da tradução: timorlorosaenacao/4 setembro 2008
Dois relatórios da autópsia que foram publicadas na íntegra no site do WikiLeaks vêm refutar definitivamente a versão oficial dos acontecimentos de 11 de Fevereiro em Timor Leste, segundo a qual o ex-rebelde Alfredo Reinado se tinha envolvido num tiroteio em casa do Presidente José Ramos Horta com as suas forças de segurança.
Esta foi a suposta versão oficial que alegava uma tentativa de golpe e assassinato de Ramos Horta e Xanana Gusmão, Primeiro-Ministro. As provas agora disponíveis chamam à atenção para as fortes probabilidades levantadas desde o inicio pelo World Socialist Web Site - que Reinado foi atraído para Díli a fim de ser assassinado.
O relatório da autópsia de Reinado indica que ele morreu após ser baleado no olho à queima-roupa.
De acordo com um perito forense consultado pelo jornal australiano, a conclusão da autópsia da "queima e escurecimento da pele circundante" para cada uma das quatro feridas de Reinado (para os olhos, peito, pescoço e mão) significa que ele foi alvejado a partir de um intervalo de menos de 30 centímetros. O relatório sobre o colega de Reinado, Leopoldino Exposto revela que ele foi morto por um único tiro na parte de trás da cabeça, também por uma arma em "alta velocidade disparada e fuzilando a curta distância".
Reinado e seus homens estavam fortemente armados quando entraram na casa de Ramos Horta no início da manhã de 11 de Fevereiro. As autópsias relataram que Reinado vestia uma jaqueta verde com 12 carregadores contendo um total de "347 munições". Exposto tinha carregadores com 39 munições na sua jaqueta, bem como um saco com mais 98 munições.
É inconcebível que Reinado - que tinha recebido treino militar na Austrália - possa ter conduzido os seus homens numa operação hostil contra Ramos Horta, mas em seguida se deixasse balear à queima-roupa sem que tivesse ferido um único guarda presidencial.
Um homem de Reinado, dos que foram detidos disse sob juramento que eles tinham entendido que havia uma convocação para um encontro com o presidente. Várias testemunhas civis têm agora apoiado este testemunho.
Meses após o assassinato de Reinado e Exposto, e a tentativa de assassinato de Ramos Horta, que a imprensa faz eco do noticiado pelo Australian, contrariando a linha oficial apresentada por ambos os governos, timorense e australiano.
Profundamente cépticas são as declarações emitidas por uma série de altas figuras políticas em Díli, muito em especial as da Fretilin e do seu líder e ex-Primeiro-Ministro Mari Alkatiri, que já havia declarado ter provas fotográficas de que o alegado atentado ao veículo de Gusmão havia sido encenado.
A versão oficial dos acontecimentos é agora tão implausível e desacreditada que mesmo a média australiana sente-se obrigada a mudar de rumo.
Após a análise das provas da autópsia, o australiano Paul's Toohey afirmou em 13 de Agosto: "O que é certo é que os acontecimentos no interior da casa presidencial naquela manhã não são tão claros como anteriormente apresentados, e pode indiciar que Reinado e Exposto caminharam para uma armadilha…”.
Um artigo publicado mais tarde no mesmo jornal acrescentou: "Muitos timorenses acreditam que tudo isto foi um set-up; que o líder rebelde Alfredo Reinado foi convidado para ir a Dili para ser morto, ao fim de dois anos de stand-off, em que ele e o seu grupo se mantiveram rebeldes e armados nas colinas no oeste do país. "
Um artigo publicado na imprensa em 19 de Agosto, no Fairfax, lançou sérias dúvidas sobre a anterior alegação de que um dos homens do Reinado, Marcelo Caetano, tinha dado os tiros no Presidente Ramos Horta.
"Os investigadores acreditam agora que os tiros partiram de um homem vestindo um uniforme diferente do dos homens de Reinado, pertencente a um gangue de uma gangue que veste esse tipo de uniformes" esta é a história revelada.
"A revelação irá ser combustível fresco para a especulação em Dili, sobre que Reinado foi atraído a casa do Sr. Ramos Horta, mas onde pistoleiros os estavam esperando."
A série de provas e as fugas noticiosas que surgiram nos últimos quinze dias levantam a pergunta óbvia: se, como parece cada vez mais, Reinado foi atraído para a residência de Ramos Horta para ser morto, foi porquê e por quem?
Essa questão não foi ainda levantada por qualquer órgão da média australiana. Ainda mais espantoso não ter sido feita uma única pergunta sobre os acontecimentos de 11 de Fevereiro e suas consequências, quer Gusmão ou ao primeiro-ministro australiano, Kevin Rudd, durante a conferência de imprensa conjunta, realizada em Camberra, na passada segunda-feira.
Gusmão e a crise de 2006
As novas provas apontam para a possibilidade de o Primeiro-Ministro Gusmão, ou forças estreitamente alinhados com ele, serem responsáveis pelo assassinato de Reinado. Não há dúvida de que ele estava entre os que têm mais a ganhar com a morte do Reinado.
Semanas antes de sua morte, o ex-rebelde Reinado fez uma declaração acusando directamente Gusmão de instigar a dividir em 2006 os militares timorenses, o que precipitou a violência generalizada e culminou com a implantação de centenas de soldados australianos, seguida pela demissão do Primeiro-Ministro Mari Alkatiri.
Já há substanciais indícios que apontam Gusmão no papel de provocador da crise 2006. Reinado expressou na sua declaração que o primeiro-ministro não tinha explorado apenas dividir os militares para os seus próprios fins, mas tinha também trabalhado activamente para provocar a violência, a fim de fazer cair o governo da Fretilin.
O DVD, amplamente divulgado, onde essas acusações foram feitas também incluiu ameaças de Reinado de revelar mais informações sobre as acções de Gusmão.
Reinado foi morto antes que tivesse a oportunidade fazer mais declarações. Mas foi mesmo sério que as suas primeiras acusações tivessem desestabilizado Gusmão, já instável na coligação governamental.
No início de Fevereiro, o presidente Ramos Horta tinha indicado que ele concordava com a Fretilin na realização de novas eleições e a eventual constituição de uma nova administração.
Em uma reunião realizada em Díli em 7 de Fevereiro - apenas quatro dias antes de Reinado ser morto a tiros - Ramos-Horta anunciou que iria convocar uma reunião de parlamentares e o governo para tentar chegar a um acordo para novas eleições. Com Gusmão firme na oposição e insistindo em que seu governo poderá continuar a governar, a reunião terminou inconclusiva. Outras reuniões foram programadas, mas jamais realizadas, devido à violência de 11 de Fevereiro, após o que Gusmão anunciou o "estado de sítio" e alegou a emergência de poderes autoritários.
A aparente aproximação de Ramos Horta com a Fretilin coincidiu com a tentativa do presidente acordar uma "rendição" com Reinado. O presidente reuniu-se com o "rebelde" soldado em 13 de Janeiro e ofereceu a amnistia para as acusações contra Reinado (decorrentes de ataques em 2006 às forças governamentais), se ele aceitasse primeiro desarmar-se e submeter-se à prisão domiciliária.
Estas negociações apontam igualmente para a inexistência de qualquer motivo lógico para Reinado querer conduzir um ataque armado contra Ramos Horta.
INVESTIGAÇÕES BLOQUEADAS E PROVAS CORROMPIDAS
No rescaldo dos acontecimentos de 11 de Fevereiro, o Primeiro-Ministro Gusmão tem bloqueado a formação de um inquérito internacional, apesar do parlamento timorense o ter exigido. Como resultado, o único inquérito em curso é chefiado pelo procurador-geral do país, Longuinhos Monteiro, que tem pouca credibilidade, em Díli. Um relatório das Nações Unidas em 2006, na crise, acusava Monteiro de seguir cegamente Gusmão, e concluiu que ele não "funcionava independentemente do estado de Timor-Leste".
De acordo com um relatório das Nações Unidas sobre Monteiro transpareceu do inquérito sobre a morte do Reinado e atentado a Ramos Horta, que o Departamento Nacional de Investigação tinha sido submetido a "ingerência política e militar" e uma grande falta de cooperação.
A Associated Press acrescentou: "Houve manipulação de provas - incluindo as armas utilizadas pelos rebeldes…
Uma fonte próxima à investigação disse que as F-FDTL [Forças Armadas timorenses], os soldados que estavam guardando o presidente teve telefone celular de Reinado ativado, e continuou a receber e efectuar chamadas até vários dias após a sua morte, antes da sua entrega aos pesquisadores."
Esta crítica, junto a provas de corrupção, combinado com o veto de Gusmão a um inquérito internacional, pode resultar na inexacta versão do curso dos acontecimentos que levaram à morte do Reinado e do atentado a Ramos Horta, conduzindo a nunca serem conhecidos. Monteiro do relatório final será provavelmente um desculpar.
Sérias dúvidas têm sido levantadas pela jornalista portuguesa Felícia Cabrita acerca de Assis, um dos militares da segurança pessoal de Ramos Horta. Em um relatório publicado no jornal semanário Sol, em Março, Felícia Cabrita sugeriu que Assis traiu tanto Reinado como Ramos Horta. Os registos telefónicos indicam que Assis e Reinado tinham mantido contactos frequentes no período que antecedeu a violência de 11 de Fevereiro. O relatório também alegou que o líder dos amotinados “peticionários”, Gastão Salsinha, também contactou Assis, que lhe disse que Reinado e Exposto tinham sido mortos e que Ramos tinha sido atingido e estava bastante mal.
Gastão Salsinha pertencia ao grupo de Reinado, mas, em vez de falar com ele, que sabia estar deslocado em casa de Ramos Horta, ligou para Assis. Por que razão Assis falou com Gastão Salsinha a dizer-lhe o que tinha acontecido? A guarda de Ramos Horta da guarda já sabia de antemão que o líder dos “peticionários" tinha chegado a Díli com Reinado?
Às muitas questões por responder resta apenas acrescentar a incerteza sobre o que realmente aconteceu em relação ao alegado atentado a Gusmão que alega que o comboio de veículos em que seguia foi vítima de tiroteio, depois dos incidentes em casa de Ramos Horta.
Muitas suspeitas também têm caído sobre a componente indonésia de Hércules MARÇAL Rosário, que visitou Díli apenas 11 dias antes de Fevereiro.
"Hercules nasceu em Timor-Leste, em Jacarta ganhou notoriedade na década de 1990 como gangster", o Melbourne's AGE relata e continua. "Seu gangue também serviu com agente para o regime Suharto, para intimidar dissidentes e activistas pró-independência de Timor-Leste. Seus “clientes” foram altas patentes militares como o então general Prabowo Subianto, genro de Suharto. Numa fase em que ele viveu em Jacarta foi na casa do Major-General Zacky Anwar Makarim, que em 2003 foi indiciado por um Tribunal Penal das Nações Unidas para os crimes contra a humanidade. "
Pesquisadores têm noticiado que HÉRCULES contactava e se reunia com Reinado. Seu número também foi encontrado na lista do telefone móvel de Reinado.
Em 21 de Janeiro, apenas três semanas antes de Reinado ser morto, Hércules reuniu-se com Gusmão, aparentemente como parte de uma delegação empresarial indonésia investigando oportunidades de investimento.
Num extraordinário movimento, o governo Gusmão anunciou no início deste mês que Hércules adjudicara um contrato para a construção de uma mini-Mart e piscina no local de um campo de refugiados no centro de Díli - apesar dos relatos sobre o gangster, suspeições e potenciais referências para investigação no âmbito de provável envolvimento na morte de Reinado e atentado a Ramos Horta.
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Continua - a seguir: DUVIDOSO DESEMPENHO DAS FORÇAS AUSTRALIANAS?
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