28.10.2015, Правда.Ру, Pravda.ru http://www.pravda.ru (Россия, Rússia)
O fim da
lei internacional e da diplomacia
O fim da Guerra Fria
foi festejado como uma nova era de paz e segurança, quando as espadas seriam
convertidas em arados, ex-inimigos em amigos, e o mundo assistiria a uma nova
aurora de amor, paz e felicidade universais. Claro, nada disso aconteceu. O que
aconteceu foi que o Império Anglo-sionista autoconvenceu-se de que havia
"vencido a Guerra Fria" e a partir de então estava no comando. De todo o planeta, nada menos que isso. E por
que não? Havia construído por todos os cantos de 700 a 1.000 bases militares
(dependendo de sua definição de "base") por todo o mundo, e dividira
o globo em várias áreas de exclusiva responsabilidade sua chamadas
"comandos". A última potência que havia acumulado em si toda a
megalomania necessária para distribuir pedaços do planeta entre dois diferentes
'comandos' foi o Papado, em 1494, com o (mal)afamado "Tratado de
Tordesilhas".
Para deixar esse ponto
muitíssimo claro, o Império decidiu usá-lo como exemplo, e disparou todo seu
furioso poder contra a pequena Iugoslávia. Iugoslávia, membro fundador do
Movimento dos Não Alinhados foi perversamente atacada e desmembrada, criando
uma imensa onda de refugiados, a maioria dos quais sérvios, que o mundo
democrático e civilizado resolveu ignorar. Mais que isso, o Império inventou
outra guerra, daquela vez na Rússia, que pôs o regime semicomatoso de Eltsin
contra o que adiante seria parte chave de al-Qaeda, ISIS e Daesh:
os wahhabistas na Chechênia. Mais uma vez, muitas centenas de milhares de
"refugiados invisíveis" resultaram também daquela guerra, mas também
foram praticamente ignorados pelo mundo democrático e civilizado, especialmente
os russos étnicos.
A Rússia precisou de
toda uma década para afinal esmagar aquela insurgência Wahhabista-Takfiri ,
mas, afinal, a Rússia prevaleceu. E àquela altura os anglo-sionistas já haviam
mudado a atenção para outro ponto: os "estados profundos" de EUA e
Israel planejaram e executaram em conjunto a operação de 'falsa bandeira'
conhecida como "o 11/9", que lhes deu a desculpa perfeita para
declarar uma "guerra global ao terror" , a qual, basicamente, deu aos
anglo-sionistas uma "licença para matar" universal à la 007,
exceto que, nesse caso, o alvo não era uma pessoa, mas países inteiros.
Todos nós sabemos o que
veio depois: Iraque, Afeganistão, Filipinas, Somália, Etiópia, Sudão, Iêmen,
Mali, Paquistão, Síria, Líbia, Ucrânia -- em todos os cantos do mundo os EUA
estavam em guerra, fosse oficialmente ou clandestinamente. O espectro ia de uma
(tentada) completa invasão contra um país (Afeganistão), ao apoio a vários
grupos terroristas (Irã, Síria) e ao total financiamento e gestão de um regime
nazista (na Ucrânia).
Os EUA
também deram total apoio aos wahhabistas na longa cruzada deles contra os
xiitas (Arábia Saudita, Bahrain, Iêmen, Síria, Irã). O que mais essas guerras
tiveram em comum é que todas foram completamente ilegais - os EUA e qualquer
"coalizão" ad hoc "de
vontades" tornaram-se substitutos aceitáveis do Conselho de Segurança da
ONU.
Aqui outra vez é
importante relembrar a todos - especialmente aos muçulmanos que se regozijaram
com o bombardeio contra os sérvios - que tudo isso começou com a destruição
completamente ilegal da Iugoslávia, seguido de bombardeamento ainda mais ilegal
da Sérvia.
Claro, o Império também
sofreu umas poucas derrotas humilhantes: em 2006 o Hezbollah infligiu a Israel
o que bem pode ter sido uma das derrotas militares mais humilhantes na história
moderna; e em 2008 uma pequena forças de heroicos combatentes ossetianos
apoiados por contingente militar russo comparativamente pequeno (só uma pequena
parte de militares russos envolveram-se) esmagaram as forças da Geórgia
treinadas e pagas pelos EUA: a guerra durou só quatro dias. Mesmo assim, a
primeira década do século 21 viu um triunfo da lei da selva sobre a lei
internacional e incontestável comprovação do velho princípio bárbara segundo o
qual "a força faz a lei".
Logicamente,
esses foram também os anos quando a diplomacia dos EUA basicamente deixou de
existir. A única função dos diplomatas dos EUA continuou a ser a distribuição
de ultimatos do tipo "obedeça, porque se não...", e o Império
simplesmente parou de negociar fosse o que fosse. Diplomatas sofisticados e
experientes como James Baker foram substituídos ou por psicopatas feito
Madelaine Albright, Hillary Clinton e Samantha Power, ou por não entidades
medíocres feito John Kerry e Susan Rice. Afinal, o quanto teria de ser
sofisticado alguém cuja única missão é distribuir ultimatos? As coisas ficaram
tão ruins que os russos abertamente reclamaram da "falta de
profissionalismo" de seus contrapartes norte-americanos.
Quanto aos pobres
russos e sua patética insistência em que se respeitassem as leis internacionais,
pareciam lamentavelmente fora de moda. Nem mencionarei aqui os políticos
europeus. Quem mais bem os descreveu foi o prefeito de Londres, Boris Johnson,
que os chamou de "
supinas lesmas protoplasmáticas invebradas".
Mas então, algo mudou.
Dramaticamente.
O
fracasso da força
De repente, tudo virou
de ponta cabeça. Cada vitória dos EUA de algum modo converteu-se em fracasso:
do Afeganistão até a Líbia, cada 'sucesso' dos EUA tinha de algum modo se
metamorfoseado em situação na qual a melhor opção, no caso em que houvesse
alguma, ou a única restante, era "declarar vitória e escafeder-se". A
pergunta óbvia que se impõe é "o que aconteceu"?
A primeira óbvia
conclusão é que as forças dos EUA e seus ditos "aliados" tem baixo
poder de fixação. São razoavelmente bons para invadir países, mas na sequência
rapidamente perdem controle de praticamente tudo. Uma coisa é invadir um país,
bem outra é administrá-lo e, isso, sem falar em reconstruí-lo. Fato é que as
"coalizões de vontades" que os EUA lideram não conseguem completar
serviço nenhum.
Em segundo lugar,
tornou-se óbvio que o inimigo que fora supostamente derrotado apenas se
recolhera, sumira e esperava melhor ocasião para a vingança. O Iraque é
perfeito exemplo disso: longe de ter sido realmente "derrotado", o
Exército Iraquiano (sabiamente) optou por de autodesmobilizar e voltar à cena
sob a forma de insurreição sunita gigante, que gradualmente se foi convertendo
em
ISIS.
Mas o Iraque não foi caso isolado. O mesmo aconteceu praticamente em todos os
cantos.
Há quem diga que os EUA
não se importam com se controlam ou se destroem um país, desde que o outro lado
não consiga "vencer". Discordo. Sim, os EUA sempre preferirão a
destruição de um país a vitória declarada do outro lado, mas isso não significa
que os EUA não prefiram controlar um país, se possível. Em outras palavras,
quando um país afunda no caos e na violência, não é vitória dos EUA, mas, com
absoluta certeza, perda dos EUA.
O que os EUA não veem é
que
a diplomacia torna o uso da força muito mais
efetivo. Primeiro, diplomacia cuidadosa torna possível
construir ampla coalizão de países desejosos de apoiar a ação coletiva.
Segundo, a diplomacia também torna possível reduzir o número de países que
abertamente se opõem à ação coletiva.
Será que alguém se
lembra de que a Síria realmente enviou soldados para apoiar as tropas dos EUA
contra Saddam Hussein na [Operação] Tempestade no Deserto? Com certeza não
fizeram grande diferença, mas a presença daqueles soldados garantiu aos EUA a
certeza de que a Síria, no mínimo, não se oporia à política dos EUA. Ao obter
que os sírios apoiassem a [Operação] Tempestade no Deserto, James Backer tornou
difícil para os iraquianos argumentar que a coalizão seria anti-árabes,
anti-muçulmanos ou, mesmo, anti-baathistas, e pôs Saddam Hussein em posição de
claro isolamento (mesmo quando os iraquianos puseram-se a disparar mísseis
contra Israel).
Além disso, a
diplomacia também permite reduzir a quantidade total de força a ser empregada,
porque não é necessário produzir grande número de mortos instantaneamente
[orig.
"instant overkill"] para
que o inimigo convença-se que você não está brincando de guerra. Em terceiro
lugar, a diplomacia é a ferramenta necessária para alcançar legitimidade, e
legitimidade é crucial, quando se está engajado em conflito longo, demorado.
Por fim, o consenso que
emerge de um esforço diplomático bem-sucedido impede a rápida erosão do apoio
popular a um esforço militar. Mas todos esses fatores foram ignorados pelos EUA
na Guerra Global ao Terror e nas revoluções da "Primavera Árabe" que
de repente pararam completamente e escandalosamente.
Triunfo
diplomático dos russos
Essa semana assistiu a
um verdadeiro triunfo diplomático da Rússia que culminou nas negociações
multilaterais da 6ª-feira em Viena, que reuniram os ministros de Relações
Exteriores de Rússia, EUA, Turquia e Arábia Saudita. O fato de essa reunião
acontecer imediatamente depois da visita de Assad a Moscou claramente indica
que os patrocinadores de Daesh e al-Qaeda estão agora forçados a negociar pelos
termos de Moscou. Como aconteceu tal coisa?
Como tenho repetido feito mantra, desde que começou a operação na Síria, a
força militar russa realmente deslocada para a Síria é muito pequena. Sim, é
força muito efetiva, mas mesmo assim é muito pequena. De fato, os membros
da
Duma [Parlamento
russo] anunciaram que o custo de toda a operação provavelmente caberá no
orçamento normal da Defesa da Rússia, que tem valores previstos para
"treinamento". Mas o que os russos conseguiram com essa sua pequena
intervenção é realmente magnífico, não só em termos militares, mas
especialmente em termos
políticos.
Não apenas o Império
foi forçado a aceitar (muito relutantemente) que Assad terá de permanecer no
governo, pelo menos no futuro que se consegue antever, mas a Rússia está também
construindo agora, gradualmente, mas inexoravelmente, uma verdadeira coalizão
regional que realmente quer combater o
Daesh ao lado das forças do
governo sírio. Mesmo antes de a operação russa começar, a Rússia tinha o apoio
de Síria, Irã, Iraque e Hezbollah. Há também fortes sinais de que os curdos
também estão dispostos a trabalhar com a Rússia e com Assad. Na 6ª-feira foi
anunciado que a Jordânia também coordenará algumas ações militares ainda
não especificadas com a Rússia, e que se instalará um centro especial de
coordenação em Amã. Há também rumores muito fortes de que o Egito também se
unirá à coalizão liderada pela Rússia. E, sim, há sinais de que Rússia e Israel
também estão, se não trabalhando juntas, pelo menos já não em posições opostas:
russos e israelenses criaram uma linha especial para se falarem diretamente, em
nível militar.
Resumo dessa história é
o seguinte: independente da sinceridade das partes,
todos,
na região sentem agora forte pressão para, no mínimo, não se opor ao
esforço russo. Só isso, que não é pouco, marca enorme triunfo da diplomacia
russa.
Arma
secreta de Putin: a verdade
A situação atual é,
claro, totalmente inaceitável para o Hegemon Global: não apenas a coalizão de
62 países liderada pelos EUA fez 22 mil ataques (se não me engano nos números)
e nada tem a mostrar; mas a coalizão comparativamente muito menor conseguiu
superar amplamente o Império e desmascarar os falsos planos. E a arma mais
formidável que Putin usou nessa sua guerra por procuração contra os EUA não foi
sequer arma militar: Putin simplesmente fala sempre a verdade.
Nas duas
oportunidades, no discurso na ONU e, essa semana, no discurso na
Conferência Valdai, Putin fez o que nenhum outro líder mundial jamais se atrevera
a fazer: abertamente chama o governo dos EUA de incompetente, irresponsável,
mentiroso, hipócrita e doentiamente arrogante. Esse tipo de desmascaramento
público teve enorme impacto em todo o mundo, porque, no momento em que Putin
fazia todas essas denúncias, mais ou menos todos os cidadãos de todo o mundo
sabiam que o que ele dizia é a mais absoluta verdade.
Os EUA tratam os
próprios aliados como "vassalos" (discurso Valdai) e os EUA são o
principal culpado por toda a terrível crise pela qual passa o mundo hoje
(discurso ONU). O que Putin fez foi, basicamente, dizer que "o Imperador
está nu". Na comparação, o discurso de Obama soa comicamente
patético.
O que hoje vemos é uma
importante virada: depois de décadas marcadas pelo princípio segundo o qual
"a força faz a lei" pregado pelos EUA, repentinamente estamos numa
situação na qual nem todo o seu poder militar tem qualquer utilidade a um
presidente Obama sitiado: que uso podem ter 12 porta-aviões, se o comandante
discursa feito um palhaço?
Depois de 1991, parecia
que a única superpotência que restava era tão poderosa e impossível de deter,
que ninguém mais precisaria se preocupar com coisas desimportantes como
diplomacia ou respeito à lei internacional. Tio Sam sentia-se como se fosse o
único poder, e para sempre, o Hegemon Planetário. A China não passava de um
"
bigWalmart",
a Rússia, de "posto de gasolina" e a Europa, de
poodle-zinho
obediente (o item final, infelizmente, é bem verdade).
O mito da
invencibilidade dos EUA nunca passou, claro, de mito: desde a 2ª Guerra
Mundial, os EUA jamais venceram uma única guerra real (Grenada ou Panamá não se
enquadram na definição). Fato é que os militares norte-americanos deram-se
ainda mais mal, no Afeganistão, que o mal-treinado, mal-equipado, mal-nutrido e
mal-financiado 40º Exército Soviético, o qual, pelo menos, manteve todas as
grandes cidades e principais estradas sob controle dos soviéticos e promoveu
significativo desenvolvimento da infraestrutura civil do país (a qual os EUA
ainda usam, hoje, em 2015). Mesmo assim, o mito da invencibilidade dos EUA só
veio abaixo, mesmo, quando a Rússia, servindo-se de um
mix de
meios diplomáticos e militares, deu-lhe um basta, em 2013, quando impediu que
os EUA assaltassem a Síria. O Tio Sam ficou lívido, mas nada pôde fazer, além
de disparar um golpe em Kiev e guerra econômica contra a Rússia, sem que
nenhuma das duas ações tenha sido bem-sucedida.
Quanto a Putin, em vez
de dar-se por contido pelos muitos esforços dos EUA... convidou Assad a
visitá-lo em Moscou.
A visita
de Assad a Moscou é mais um indicador da impotência dos EUA
A visita de Assad, essa
semana, foi absolutamente extraordinária. Não só os russos conseguiram tirar
Assad da Síria e na sequência levá-lo em perfeita segurança de volta para casa,
sem que a fracassada comunidade de inteligência dos EUA percebesse coisa
alguma, mas também, diferente de muitos chefes de Estado, Assad foi recebido e
conversou frente a frente com todos os homens mais poderosos que há na Rússia.
Primeiro, Assad
reuniu-se com
Putin,
Lavrov e
Shoigu.
Conversaram, no total, por três horas o que, só a duração da conversa, já é
notável). Em seguida,
Medvedev chegou, para um
jantar privado.
Mas adivinhem quem
apareceu também para o jantar? Mikhail
Fradkov, diretor do Serviço de
Inteligência Estrangeira da Rússia, e Nikolai
Patrushev, presidente do
Conselho de Segurança da Federação Russa (imagem: Sentados para jantar, Assad,
Patrushev, Fradkov, Lavrov Medvedev, Putin e Shoigu).
Normalmente, chefes de
Estado não se encontram pessoalmente com autoridades como Fradkov ou Patrushev
(sendo o caso, eles enviam os seus respectivos especialistas). Mas nesse caso o
assunto discutido foi importante o bastante para (1) levar Assad pessoalmente
ao Kremlin; e (2) pôr em torno da mesma mesa, no Kremlin, todos os mais altos
atores do governo russo, para conversa pessoal com Assad.
Obviamente, nem uma
palavra vazou dessa reunião, mas há duas principais teorias em circulação sobre
o que realmente se disse ali.
A primeira teoria diz
que Assad foi informado, em termos bem claros, que acabou e que terá de deixar
o governo.
A segunda diz
exatamente o oposto: que Assad foi convidado e recebido para deixar
perfeitamente claro para ele e para os EUA que o presidente da Síria tem
integral apoio da Rússia.
Não acredito que
nenhuma dessas teorias corresponda à verdade, mas que a segunda está mais
próxima. Afinal, se o objetivo fosse dizer a Assad que ele terá de sair,
bastaria um telefonema. Talvez uma visita de Lavrov. Quanto a "apoiar
Assad", estaria em direta contradição com o que os russos têm dito sempre:
que não apoiam "Assad" como pessoa, embora, sim, o reconheçam como
único legítimo presidente da Síria, mas estão apoiando o direito do povo sírio
de decidir quem governa a Síria. Até Assad (segundo Putin) concorda com essa
ideia. Assim também, Assad já concordou com trabalhar com quaisquer grupos
não
Daesh da
oposição que se disponha a combater contra o
Daesh ao lado dos militares
sírios (outra vez, segundo Putin).
Não. Para mim, a
reunião entre Assad e Putin foi, pelo menos em parte, mensagem aos EUA e aos
demais chamados "amigos da Síria", indicando que o plano deles de
"Assad tem de sair" fracassou. Mas acho que o principal objetivo da
conversa com portas fechadas com todas as mais altas autoridades da Rússia era
outro.
Meu palpite é que ali
se discutiu uma grande aliança, de longo prazo, entre Rússia e Síria, que
formalmente reviveria o tipo de aliança que a Síria manteve no passado com a
União Soviética. Enquanto só posso especular sobre os exatos termos de aliança
desse tipo, meu palpite é que esse plano, provavelmente coordenado pelo Irã,
recobre dois principais aspectos:
a) um componente
militar: o Daesh tem de ser esmagado; e
b) um componente
político: de modo algum se admitirá que a Síria caia sob controle dos EUA.
Considerando que a
operação militar russa está prevista, segundo a maioria dos especialistas
russos, para durar cerca de três meses, estamos tratando aqui de um plano
separado, de médio a longo prazo, que exigirá que as forças armadas sírias
sejam reconstruídas, enquanto Rússia, Irã e Iraque conjuntamente coordenam a
luta contra o Daesh. E, sim, foi anunciado na 6ª-feira que o Iraque
autorizou os militares russos a atacar o Daesh dentro do território
iraquiano.
Não há dúvidas de que
tudo indica que a operação russa serviu como catalisadora, numa região
paralisada pela hipocrisia e pela incompetência dos EUA; e que os dias do Daesh
estão contados.
Cedo
demais para celebrar, mas mesmo assim momento avassalador, de definições
Sim, é ainda muito cedo para celebrar. Os russos não podem fazer tudo isso
sozinhos, e muito caberá aos sírios e seus aliados, da luta contra o Daesh, a
ser derrotado cidade a cidade. Só coturnos em solo realmente livrarão a Síria
dos bandidos do Daesh. E só o verdadeiro Islã conseguirá derrotar a
ideologia
Takfiri. E isso exigirá tempo.
Além do mais, seria
irresponsabilidade subestimar a determinação do Império e sua capacidade para
impedir que a Rússia ganhe ares de "a vencedora" -- aí está algo com
o que o ego imperial, envenenado por séculos de húbris imperial e ignorância,
nunca saberá lidar. Afinal, como a "nação indispensável" aceitará que
o mundo já não precisa dela, e que muitos já podem opor-se a ela e sair por cima?
Deve-se esperar que os EUA usem todo o seu (ainda imenso) poder, para quebrar e
sabotar toda e qualquer iniciativa russa ou síria.
Mesmo assim, os eventos
recentes são marca de que a era de "a força faz a lei" chegou ao fim,
e de que a noção de que os EUA seriam "nação indispensável" ou
hegemon mundial perdeu toda a credibilidade. Depois de décadas na obscuridade,
a diplomacia e a lei internacional voltaram a ser relevantes.
Minha esperança é que
estejamos no início de um processo, ao longo do qual os EUA passarão pela mesma
transformação pela qual tantos outros países (inclusive a Rússia) passaram:
depois de se terem sido império, voltarem a ser "país normal".
Desgraçadamente, quando observo a corrida presidencial para 2016, tenho a
sensação de que esse pode ser processo muito longo.
[assina] The
Saker
25/10/2015, The Saker, The Vineyard of the Saker
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