terça-feira, 13 de outubro de 2015

Moçambique/MISSÃO DE IMBUO FORJOU NACIONALISTAS


A missão de Imbuo pode não ter sido suficientemente referida no processo da Luta Armada de Libertação Nacional em função dos vários episódios e facetas conhecidos, tal como na semana passada nos foram contados, em pleno planalto dos Makondes, pelos nacionalistas dali originários e formados na Missão de Santa Teresinha de Menino Jesus local, que comemorou os 75 anos da sua existência.

Entre eles, destaque vai para Raimundo Pachinuapa, Alberto Chipande, Salvador N´tumuke, Joaquim Matanopa, José João, Marina Pachinuapa e Marcelina Chissano, entre outros cuja trajectória está ligada intrinsecamente à história do país.

Ficou-nos a ideia de que sobre a história de libertação nacional ainda há muito por dizer até porque o Centro de Pesquisa da Luta de Libertação Nacional tem-se desdobrado na sua divulgação para que as novas e futuras gerações tenham conhecimento.

Entre vários episódios a ter em conta durante a epopeia da libertação há a destacar os ocorridos no distrito de Mueda, concretamente na Missão de Imbuo a
seis quilómetros da aldeia de Namau, terra natal do Presidente da República, Filipe Jacinto Nyusi.

O nosso jornal esteve recentemente em Mueda por ocasião do jubileu dos 75 anos da criação da missão, onde teve a ocasião de conversar com alguns protagonistas da luta que recordaram os episódios na primeira pessoa.

Raimundo Pachinuapa, um dos sobreviventes do Massacre de Mueda ocorrido a 16 de Junho de 1960 disse ser uma das pessoas formadas na Missão de Imbuo, onde para além de catequista foi professor.

Segundo nos revelou, nesta missão foi baptizado e recebeu a primeira comunhão. Passou depois pelos ritos de iniciação antes de se juntar aos outros nacionalistas para reivindicar a liberdade por vias pacíficas.

Entre vários episódios, aquele combatente conta que enquanto aprendiam a doutrina, também faziam planos para enfrentar a dominação colonial, como, por exemplo, juntar-se aos guerrilheiros da FRELIMO na Tanzânia.

Nesse contexto, Pachinuapa contou-nos que depois das aulas, um grupo de alunos se reunia para falar da necessidade de se libertar do jugo colonial português e que nessas reuniões os padres desempenharam um papel crucial.

Aliás, aquele combatente frisou que num desses dias, Marina Pachinuapa, sua esposa, fez chegar uma correspondência dos guerrilheiros escondidos no mato a partir da missão onde ela se encontrava ao cuidado das freiras.

Por sua vez, Alberto Chipande disse que daquele lugar guardava boas recordações sobre os episódios que antecederam o início da luta armada tendo destacado o relacionado com padre Bernardo em 1956.

Segundo explicou, o tal clero mostrou-se entusiasmado com a bravura e entrega dos makondes à causa nacional. “Ele disse o seguinte: vocês makondes têm a mania de que são rebeldes, são determinados, pois, sabem dizer não quando a ocasião assim obriga”, disse Chipande, recordando as palavras do padre Bernardo.

Acrescentou que o mesmo missionário falou do povo da etnia macua nos seguintes termos: “ao passo que os vossos irmãos macuas, são duros. Não sabem dizer “não” e acabam sendo infiéis às promessas e não são honestos”.

Sublinhou que o padre os aconselhou a unirem-se aos macuas e que lhes transmitissem a sua bravura e a forma de agir de modo a derrotar os colonos. “O que vocês deveriam fazer era unir as características de cada um dos grupos para assim se complementarem e conseguirem uma virtude colectiva para vencerem os colonos”, disse Chipande, citando o padre.

Para ele, o padre Bernardo estava a ensinar ao povo do planalto a ser cada vez mais unido em torno do mesmo objectivo, pois, a união era a base para a vitória contra a dominação colonial.
“Esta campanha dos padres era uma espécie de alerta para o despertar das nossas mentes, incutindo em nós a vontade ou necessidade de na clandestinidade começar a cogitar sobre a independência, o nacionalismo e a soberania dos moçambicanos”,observou Chipande.

Bombardeamentos na missão
Entretanto, a aproximação entre o povo maconde e os missionários não agradou a tropa colonial que tratou de ordenar o encerramento da missão por considera-la um centro de refúgio dos negros que planificavam ataques.

Conta-se por exemplo, que no sábado do dia 8 de Dezembro de 1964, portanto, três meses após o desencadeamento da insurreição geral armada, os guerrilheiros da Frelimo abateram um avião colonial a partir das proximidades da missão o que enfureceu o exército colonial que ordenou o encerramento da missão, facto que seria consumado a 23 de Março de 1965.

Ademais, com o início da luta armada de libertação nacional, que por sinal se deu no Posto Administrativo de Chai, distrito vizinho de Macomia, as atenções se agudizaram mais com bombardeamentos vindos de todos os cantos contra a missão e seus arredores à procura dos guerrilheiros da Frelimo.

Decorria apenas uma semana após o desencadeamento da luta armada quando houve a emboscada em que foi atacada a coluna colonial portuguesa numa zona chamada Lipanhangule, a três quilómetros da igreja, o que enfureceu mais ainda os colonialistas.

Assim, os portugueses ficaram claros de que os ataques surgiam mesmo dos arredores da missão o que para eles significava que os guerrilheiros da Frelimo que os atacavam eram acobertados na missão e recebiam mantimentos da população circunvizinha.

Por essa razão, a tropa colonial concentrou as suas atenções para a missão com acções aéreas e bombardeamentos na zona, enquanto a infantaria vasculhava as residências à procura dos guerrilheiros.

De referir que a missão continua com a sua área inicial de 622 quilómetros quadrados, onde está a ser implantada a oficina para as artes e ofícios, nomeadamente, corte e costura, carpintaria e em fase de finalização a construção de um edifício para a creche.

A missão está em obras de reconstrução que conta com o apoio dos antigos alunos.

No local, recebemos a informação de que também era de Imbuo, o académico Celestino Jorge Dingongo, que já foi secretário-geral da Cruz Vermelha de Moçambique, para além de professor e cronista que assinava os seus textos com o pseudónimo de Tabo Motema.


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