28 outubro
2015, Página Global http://www.paginaglobal.blogspot.com (Portugal)
Paula
Santos – Expresso, opinião
Inadmissível,
é como classifico a decisão e a declaração pública do Presidente da República
na semana passada
Que Cavaco
Silva não era o Presidente de todos os portugueses, já nós sabíamos. Que Cavaco
Silva enquanto Presidente da República tomou decisões em benefício de
determinados partidos e de determinadas opções políticas também. Mas na sua
comunicação ao país deixou cair a máscara, ao tornar público que iria indigitar
Passos Coelho para Primeiro-Ministro, evidenciando para quem quisesse ouvir a
serviço de quem está o Presidente da República Cavaco Silva.
Numa
declaração inaceitável, intolerável e inadmissível, Cavaco Silva para
justificar a sua decisão, assumiu um conjunto de posições antidemocráticas e em
confronto com a Constituição da República Portuguesa, que relembre-se “jurou
cumprir e fazer cumprir”.
Em
primeiro lugar, a decisão do Presidente da República de indigitar Passos Coelho
para Primeiro-Ministro não corresponde à vontade expressa pelos portugueses nas
eleições legislativas, que impôs uma dura derrota ao retirar a maioria absoluta
à coligação PSD/CDS, nem às considerações da generalidade das forças políticas
auscultadas. Cavaco Silva atua não como Presidente da República, mas como
representante do PSD e CDS, que continuam sem aceitar a derrota que sofreram.
Em segundo
lugar, o Presidente da República não está acima da decisão do povo, para
dissertar sobre que forças políticas podem ou não podem exercer funções
governativas. Tais declarações constituem um autêntico abuso e revelam o
seu verdadeiro entendimento sobre a democracia. Quem é Cavaco Silva para
determinar que há forças políticas, como o PCP, que não podem desempenhar
funções num governo? Rapidamente se compreende que para a direita, a defesa da
democracia só é útil quando serve os interesses de que são porta-voz (dos
grupos económicos e financeiros), caso contrário é uma chatice.
E em
terceiro lugar, o Presidente da República deixou bem claro que o mais
importante não é defender os interesses dos trabalhadores, do povo e do país,
mas sim os interesses do grande capital, dos mercados financeiros e dos
especuladores, colocando Portugal numa vergonhosa posição de subalternização.
No fim do
mandato, o Presidente da República Cavaco Silva revelou com muita evidência
quem serviu durante todos estes anos. Teve sempre como preocupação não beliscar
os interesses dos grupos económicos e financeiros, sendo uma espécie de
“procurador” desses mesmos interesses, abdicando da soberania e independência
do nosso país. Isso foi visível nas diversas posições públicas sobre o Pacto de
Agressão e presença da troica em Portugal, mas também na decisão que tomou na
sequência da “irrevogável” demissão de Paulo Portas.
Contrariando
tudo o que disse anteriormente sobre a necessidade de estabilidade governativa
e os apelos que fez à maioria absoluta, Cavaco Silva indigita um governo
PSD/CDS que de estabilidade nada tem, tudo para tentar manter a política de
direita, de esbulho dos rendimentos do trabalho, de ataque aos direitos dos
trabalhadores, de desmantelamento das funções sociais do Estado e de
privatizações.
Já agora
quanto à composição do Governo anunciada ontem (27 de outubro), o que me apraz
dizer é que se trata do cumprimento de uma formalidade na sequência da decisão
do Presidente da República que optou por indigitar Passos Coelho criando mais
instabilidade e recusando retirar as devidas consequências da vontade do povo
expressa nas eleições de condenação do governo PSD/CDS e da sua política. Este
é um governo sem futuro. Assim como a sua política já foi derrotada nas ruas e
nas urnas, este governo também o será.
PSD e CDS
não têm legitimidade para formar governo e continuar a política de
empobrecimento, exploração e declínio nacional, havendo na Assembleia da República
uma maioria de deputados que é condição bastante para a formação de um
governo de iniciativa do PS, que permite a apresentação do programa, a sua
entrada em funções e a adoção de uma política que assegure uma solução
duradoura.
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