quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Abrandamento da China não afectará Moçambique

2 de Outubro de 2015, Jornal Notícias http://www.jornalnoticias.co.mz

Su Jian
Embaixador da China em Moçambique

Muito recentemente falou-se do abrandamento da economia chinesa e do seu impacto sobre a economia mundial, especialmente do choque negativo daí resultaria sobre a economia africana e o processo do desenvolvimento moçambicano.

É verdade que depois dos 35 anos de desenvolvimento muito acelerado, a economia chinesa também está a registar umabrandamento e pressão, provocando quedas ou ondulados de alguns indicadores nos últimos meses.

Penso que o abrandamento da economia chinesa tem a ver essencialmente com dois factores. Primeiro, desde a crise financeira global que iniciou, há anos nos EUA e na Europa, a recuperação económica mundial tem estado muito fraca. Muitas instituições internacionais baixaram a sua previsão e expectativa sobre o crescimento da economia global. A China faz parte da economia mundial e não pode fora desse contexto. Segundo, com a iniciativa própria do Governo chinês, a economia chinesa está a acelerar os seus passos de melhoramento e
actualização estruturais. O abrandamento da economia chinesa pode ser entendido como o custo dessa iniciativa, o que já está previsto logo no início desse processo.

De facto, nos últimos anos, ouvimos duas avaliações feitas pelos economistas e académicos dos países ocidentais em relação à evolução da economia chinesa. Alguns concluíram que a economia chinesa vai entrar brevemente em colapso total, enquanto outros anunciaram que, segundo o novo método de estatística, o volume global da economia chinesa já ultrapassou a economia dos EUA.

Entendo que, de forma geral, para a economia chinesa, as oportunidades são maiores do que os desafios, o modo de crescimento tem curvas e ondas mas com a tendência positiva. Ao mesmo tempo, os novos pontos de crescimento estão a formar-se com os catalizadores.Graças a uma série de políticas e medidas tomadas anteriormente o panorama fundamental da economia chinesa mantém-se. A taxa de déficite fiscal do Governo Central da China encontra-se num nível relativamente baixo em comparação com as principais economias do mundo e há ainda várias ferramentas na caixa de política do controlo macroeconómico. Temos a capacidade de alcançar as metas principais do desenvolvimento económico e social para este ano.

A afirmação sobre a boa tendência e o desenvolvimento de maior qualidade da economia chinesa no futuro conta com fundamento, condições e motor fortes. A industrialização, a informatização, a urbanização e a modernização agrícola de novo tipo estão no processo de implementação profunda. A China possui um território enorme e várias indústrias, não depende simplesmente de uma indústria pilar. A economia chinesa tem a resistência e a perseverança muito fortes. Esforçaremos para explorar plenamente o potencial de crescimento da economia chinesa mediante o impulso da reforma estrutural e a aplicação da estratégia de desenvolvimento propulsado pela inovação, a fim de manter o crescimento económico num ritmo médio e superior,  ascender à gama média superior.

Geralmente, a reforma financeira avança de acordo com os princípios de mercado e Estado de Direito. Está a formar-se activamente um mercado de capital aberto e transparente e que goza de um desenvolvimento duradouro, estável e saudável. Ao mesmo tempo, continuamos a reforçar e aperfeiçoar a gestão de riscos, cumprindo resolutamente a exigência mínima de evitar o surgimento de riscos financeiros regionais e sistemáticos. Na próxima fase, continuaremos a mitigar os limites sobre o acesso do capital privado ao mercado financeiro com intuito de apoiar da melhor forma o desenvolvimento da economia real. Continuaremos a manter a taxa de câmbio do RMB basicamente estável a um nível racional e equilibrado, conseguindo a passos seguros a convertibilidade do RMB em contas de capital. Antes do final deste ano, estabelecer-se-á o sistema de pago transfronteiriço do RMB a favor de um melhor desenvolvimento do mercado offshore do RMB.

Mais de dez mil empresas são registadas diariamente
Para a China, a reforma estrutural tem como objectivo incentivar a criatividade infinita de todo o povo, fomentando as activadades empreendedores e inovadores das massas. Promovemos sem cessar a simplificação administrativa, a descentralização dos poderes, a combinação da liberalização com o controlo e a aperfeiçoamento de serviços, entre outras reformas, estimulando o entusiasmo empreendedor e inovador do povo, o que traduz um aumento de mais de 10 mil empresas novas registadas diariamente na China. As actividades empreendedoras e inovadoras não só constituem um suporte sólido para lidar com a pressão de descensão económica e a ampliação de emprego, como também servem para criar um caminho novo da inovação do modelo de distribuição de ganhos e o impulso da justiça social. Estimularemos e guiaremos a participação do investimento privado no desenvolvimento, administração e gestão de produtos e serviços públicos, por meio da cooperação do capital público e privado (PPP), entre outras medidas orientadas ao mercado. Flexibilizaremos o acesso do investimento estrangeiro ao mercado, formando um novo modelo diversificado de produtos e serviços públicos.

Peço que os amigos moçambicanos compreendam bem as dificuldades de fazer gestão duma economia do gigante asiático tal como a China. Hoje em dia, o volume da economia chinesa é tão grande que a produção chinesa em onze dias representa o valor global do PIB da Grécia, e só a parte de aumento anual (7%) da economia chinesa é equivalente ao valor global do PIB da Turquia. Por isso, no contexto de abrandamento da economia global, a economia chinesa continuou a registar o crescimento de 7% no primeiro semestre do ano corrente, encabeçando o ranking mundial das economias principais, o que é nada fácil de conquistar.

Por isso, acho que o abrandamento da economia chinesa não afectará a economia moçambicana, antes pelo contrário, com a reforma estrutural da economia chinesa, a cooperação entre a China e Moçambique está a encarar novas oportunidades.

Segundo o plano de desenvolvimento do nosso país, nos próximos cinco anos, a China importará mercadorias no valor de mais de 10 triliões de dólares e fará investimentos directos de 500 bilhões de dólares em todo o mundo. De acordo com a estimativa muito conservadora, nos próximos cinco anos, pelo menos 500 milhões de turistas chineses vão sair do seu país para viajar e consumir em cinco continentes do mundo.

Nos primeiros 7 meses deste ano, o fluxo comercial sino-moçambicano registou um aumento de 30.63% face ao período homólogo do ano passado, contra a corrente global de diminuição comercial do mundo. E o investimento chinês em Moçambique continua a aumentar, enquanto vamos lançar, nos próximos meses, uma serie de obras de cooperação bilateral.

No início de Dezembro próximo, terá lugar na África do Sul, a 6ª Conferencia Ministerial do Fórum de Cooperação China-África onde o Governo chinês vai anunciar mais medidas para dinamizar a nossa cooperação com a África. Creio que as relações de amizade entre Moçambique e a China conhecerão ainda mais progressos e a cooperação bilateral vai ser cada vez mais diversificada e sustentável.


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