2 de Outubro de 2015, Jornal Notícias
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Su Jian
Embaixador da China em Moçambique
Muito recentemente falou-se do abrandamento da economia
chinesa e do seu impacto sobre a economia mundial, especialmente do choque
negativo daí resultaria sobre a economia africana e o processo do
desenvolvimento moçambicano.
É verdade que depois dos 35 anos de desenvolvimento muito
acelerado, a economia chinesa também está a registar umabrandamento e pressão,
provocando quedas ou ondulados de alguns indicadores nos últimos meses.
Penso que o abrandamento da economia chinesa tem a ver
essencialmente com dois factores. Primeiro, desde a crise financeira global que
iniciou, há anos nos EUA e na Europa, a recuperação económica mundial tem
estado muito fraca. Muitas instituições internacionais baixaram a sua previsão
e expectativa sobre o crescimento da economia global. A China faz parte da
economia mundial e não pode fora desse contexto. Segundo, com a iniciativa
própria do Governo chinês, a economia chinesa está a acelerar os seus passos de
melhoramento e
actualização estruturais. O abrandamento da economia chinesa
pode ser entendido como o custo dessa iniciativa, o que já está previsto logo
no início desse processo.
De facto, nos últimos anos, ouvimos duas avaliações
feitas pelos economistas e académicos dos países ocidentais em relação à
evolução da economia chinesa. Alguns concluíram que a economia chinesa vai
entrar brevemente em colapso total, enquanto outros anunciaram que, segundo o
novo método de estatística, o volume global da economia chinesa já ultrapassou
a economia dos EUA.
Entendo que, de forma geral, para a economia chinesa, as
oportunidades são maiores do que os desafios, o modo de crescimento tem curvas
e ondas mas com a tendência positiva. Ao mesmo tempo, os novos pontos de
crescimento estão a formar-se com os catalizadores.Graças a uma série de
políticas e medidas tomadas anteriormente o panorama fundamental da economia
chinesa mantém-se. A taxa de déficite fiscal do Governo Central da China
encontra-se num nível relativamente baixo em comparação com as principais
economias do mundo e há ainda várias ferramentas na caixa de política do
controlo macroeconómico. Temos a capacidade de alcançar as metas principais do
desenvolvimento económico e social para este ano.
A afirmação sobre a boa tendência e o desenvolvimento de
maior qualidade da economia chinesa no futuro conta com fundamento, condições e
motor fortes. A industrialização, a informatização, a urbanização e a
modernização agrícola de novo tipo estão no processo de implementação profunda.
A China possui um território enorme e várias indústrias, não depende
simplesmente de uma indústria pilar. A economia chinesa tem a resistência e a
perseverança muito fortes. Esforçaremos para explorar plenamente o potencial de
crescimento da economia chinesa mediante o impulso da reforma estrutural e a
aplicação da estratégia de desenvolvimento propulsado pela inovação, a fim de
manter o crescimento económico num ritmo médio e superior, ascender à
gama média superior.
Geralmente, a reforma financeira avança de acordo com os
princípios de mercado e Estado de Direito. Está a formar-se activamente um
mercado de capital aberto e transparente e que goza de um desenvolvimento
duradouro, estável e saudável. Ao mesmo tempo, continuamos a reforçar e
aperfeiçoar a gestão de riscos, cumprindo resolutamente a exigência mínima de
evitar o surgimento de riscos financeiros regionais e sistemáticos. Na próxima
fase, continuaremos a mitigar os limites sobre o acesso do capital privado ao
mercado financeiro com intuito de apoiar da melhor forma o desenvolvimento da
economia real. Continuaremos a manter a taxa de câmbio do RMB basicamente
estável a um nível racional e equilibrado, conseguindo a passos seguros a
convertibilidade do RMB em contas de capital. Antes do final deste ano,
estabelecer-se-á o sistema de pago transfronteiriço do RMB a favor de um melhor
desenvolvimento do mercado offshore do RMB.
Mais de dez mil empresas
são registadas diariamente
Para a China, a reforma estrutural tem como objectivo
incentivar a criatividade infinita de todo o povo, fomentando as activadades
empreendedores e inovadores das massas. Promovemos sem cessar a simplificação
administrativa, a descentralização dos poderes, a combinação da liberalização
com o controlo e a aperfeiçoamento de serviços, entre outras reformas,
estimulando o entusiasmo empreendedor e inovador do povo, o que traduz um
aumento de mais de 10 mil empresas novas registadas diariamente na China. As
actividades empreendedoras e inovadoras não só constituem um suporte sólido
para lidar com a pressão de descensão económica e a ampliação de emprego, como
também servem para criar um caminho novo da inovação do modelo de distribuição
de ganhos e o impulso da justiça social. Estimularemos e guiaremos a
participação do investimento privado no desenvolvimento, administração e gestão
de produtos e serviços públicos, por meio da cooperação do capital público e
privado (PPP), entre outras medidas orientadas ao mercado. Flexibilizaremos o
acesso do investimento estrangeiro ao mercado, formando um novo modelo
diversificado de produtos e serviços públicos.
Peço que os amigos moçambicanos compreendam bem as
dificuldades de fazer gestão duma economia do gigante asiático tal como a
China. Hoje em dia, o volume da economia chinesa é tão grande que a produção
chinesa em onze dias representa o valor global do PIB da Grécia, e só a parte de
aumento anual (7%) da economia chinesa é equivalente ao valor global do PIB da
Turquia. Por isso, no contexto de abrandamento da economia global, a economia
chinesa continuou a registar o crescimento de 7% no primeiro semestre do ano
corrente, encabeçando o ranking mundial das economias principais, o que é nada
fácil de conquistar.
Por isso, acho que o abrandamento da economia chinesa não
afectará a economia moçambicana, antes pelo contrário, com a reforma estrutural
da economia chinesa, a cooperação entre a China e Moçambique está a encarar
novas oportunidades.
Segundo o plano de desenvolvimento do nosso país, nos
próximos cinco anos, a China importará mercadorias no valor de mais de 10
triliões de dólares e fará investimentos directos de 500 bilhões de dólares em
todo o mundo. De acordo com a estimativa muito conservadora, nos próximos cinco
anos, pelo menos 500 milhões de turistas chineses vão sair do seu país para
viajar e consumir em cinco continentes do mundo.
Nos primeiros 7 meses deste ano, o fluxo comercial
sino-moçambicano registou um aumento de 30.63% face ao período homólogo do ano
passado, contra a corrente global de diminuição comercial do mundo. E o
investimento chinês em Moçambique continua a aumentar, enquanto vamos lançar,
nos próximos meses, uma serie de obras de cooperação bilateral.
No início de Dezembro próximo, terá lugar na África do
Sul, a 6ª Conferencia Ministerial do Fórum de Cooperação China-África onde o
Governo chinês vai anunciar mais medidas para dinamizar a nossa cooperação com
a África. Creio que as relações de amizade entre Moçambique e a China
conhecerão ainda mais progressos e a cooperação bilateral vai ser cada vez mais
diversificada e sustentável.
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