7 outubro 2015, ODiario.info http://www.odiario.info
(Portugal)
Os comentaristas de
serviço dedicam-se a prever que governo sairá de um parlamento no qual a
coligação vencedora obteve apenas uma maioria relativa, 104 deputados. O
Presidente da Republica, que se comportou como um aliado do governo, vai agora
incumbir Passos Coelho de formar governo. Mas que governo? Como escreveu o
director executivo do semanário de direita Expresso, a vitória do PSD-CDS «só
chega para um governo provisório».
A aliança PSD-CDS foi a força mais votada nas eleições legislativas, mas teve uma quebra de quase 750 mil votos em relação a 2011, perdendo a maioria absoluta.
A campanha da coligação reacionária intitulada «Portugal
à Frente», apoiada ostensivamente pela maioria dos órgãos de comunicação
social, excedeu em demagogia, hipocrisia e mentiras as anteriores de Passos
& Portas. Chocante foi também a cobertura oferecida aos micro-partidos dos
quais apenas o PAN elegeu um deputado.
As televisões, as rádios e os jornais ditos de referência
subscreveram a tese oficial de que não havia alternativa para a austeridade.
Não
negaram que Portugal está mais endividado e empobrecido, que os objetivos
da parceria PSD-CDS não foram atingidos, que o deficit em 2014 (com o rombo do
adiamento da venda do Novo Banco) era afinal o mesmo de 2011, mas evitaram
responsabilizar o governo. De modo geral, a situação catastrófica do Pais foi
falsamente atribuída ao funcionamento de leis da economia e da finança que
atingiram também outros povos.
Passos, Portas e os seus candidatos enalteceram com
despudor a sua obra devastadora. Citaram tantas vezes a Irlanda e a Grécia que
as citações massacraram os eleitores quase como um refrão.
Coincidiram nos insultos ao povo grego, mas abstiveram-se
de reconhecer que a Irlanda reduziu com êxito as exigências de Bruxelas
enquanto aqui o governo foi mais longe do que lhe era pedido no sinistro
memorando.
Não ousaram confessar o óbvio, a determinação de
prosseguir a política que arruinou o país. Abstiveram-se falar do seu programa
de governo e da estratégia que anunciaram à União Europeia.
A ministra das Finanças, candidata por Setúbal, chamou a
atenção pelo seu estilo melífluo. Ela, que não costuma sorrir, abriu-se desta
vez em sorrisos. Terá estabelecido um recorde de mentiras com o discurso
tecnocrático em que virou do avesso a realidade, negando fraudes de que foi
cúmplice, falsificando números, e apresentando como grandes vitórias e sábias
decisões os atos governativos que conduziram o Pais à ruína.
Passos falou como um cônsul romano em vésperas de ser
aclamado pelo Senado. O seu triunfalismo arrogante apresenta já matizes
patológicos.
Portas, hoje descredibilizado mesmo no seio da família coligada, passeou ombro a ombro com Passos, de Norte a Sul, com ou sem chapéu, distribuindo promessas e fugindo a vaias.
A CDU – cujo núcleo fulcral é o PCP - fez uma grande
campanha. Os seus comícios e arruadas atraíram multidões. O entusiasmo que
envolveu o candidato comunista de Norte a Sul do Pais foi transparente. Mas a
eleição de 17 deputados -- mais um do que na anterior legislatura -- ficou
aquém da expectativa.
O Bloco de Esquerda -- mérito de Catarina Martins,
inteligente e simpática -- elegeu 19, um resultado que meses atrás era
imprevisível. Partido sem ideologia definida, o BE beneficiou do voto de
socialistas frustrados e de eleitores potenciais da CDU.
O que vai acontecer
Os comentaristas de serviço dedicam-se agora a prever que
governo sairá de um parlamento no qual a coligação vencedora obteve apenas uma
maioria relativa, 104 deputados. Dos 9 439 651 eleitores inscritos votaram nela
somente 2 071 376 (a abstenção foi levemente superior a 43%).
O Presidente da Republica, que se comportou como um
aliado do governo, vai agora incumbir Passos Coelho de formar governo.
Mas que governo? Como escreveu o diretor executivo do
semanário de direita Expresso, a vitória do PSD-CDS «só chega para um governo
provisório».
O povo português pronunciou-se nas urnas contra a política da coligação reacionária. Os três partidos da oposição elegeram 121 deputados e a aliança PSD-CDS apenas 104 (falta apurar os 4 da emigração).
Existe portanto agora no Parlamento uma maioria que teria
força suficiente para viabilizar uma mudança no rumo da sociedade portuguesa.
No entanto, ela não ocorrerá porque o PS não a deseja e prefere negociar com o
PSD-CDS.
Passos revelou temor do futuro. Apressou-se aliás a
lançar um apelo à cooperação do PS, sublinhando que sem ela as suas «reformas»
não serão possíveis.
No momento é imprevisível o que vai acontecer nas próximas semanas.
Mas o discurso de António Costa, ontem, foi ambíguo. Se
respeitasse compromissos assumidos durante a campanha, o PS não deixaria passar
no Parlamento um governo PSD-CDS.
Mas o próprio emprego contraditório que na sua fala fez
do verbo «inviabilizar» não justifica a esperança de uma política de firmeza
perante as forças lideradas por Passos & Portas.
Lições das eleições
Que ensinamentos extrair destas eleições?
Em primeiro lugar cabe perguntar por que não castigou o
eleitorado severamente nas urnas os partidos responsáveis pela ruina do Pais?
Como explicar que quatro décadas apos o 25 de Abril mais de dois milhões de
portugueses tenham concedido uma maioria parlamentar relativa a uma aliança de
direita que assume posições ideológicas aparentadas com o fascismo?
A resposta a essas perguntas conduz a uma conclusão
dolorosa.
As novas gerações de portugueses têm muito pouco de comum
com aquela que tornou possível Abril e soube depois defender com firmeza as
suas grandes conquistas sociais.
Hoje o nível de consciência de classe e de consciência
política da maioria dos portugueses é muito baixo. A sociedade mudou
profundamente. A ideologia do capitalismo, sob o bombardeamento esmagador da
classe dominante, sobretudo após a entrada de Portugal na União Europeia, fez
estragos devastadores.
Não estamos perante um caso único. A História apresenta-nos situações similares. Na Rússia, por exemplo.
A grande geração da Revolução de Outubro, que a defendeu
com heroísmo, e a seguinte, que resistiu vitoriosamente à agressão do Reich
nazi e fez da União Soviética a segunda potência mundial, não tiveram
continuidade. Os filhos e netos dos revolucionários de Outubro acompanharam
passivamente a ofensiva contrarrevolucionaria de Gorbatchov e Ieltsin e do
imperialismo que destruiu a URSS, reimplantando na Rússia o capitalismo.
Como comunista sou e continuarei a ser otimista.O sistema
capitalista não é reformável por desumano e está condenado a desaparecer.
O resultado das eleições foi insatisfatório. Estavam
reunidas condições objectivas para se infligir uma derrota esmagadora às forças
que ocupam o poder. Faltavam porém as subjectivas.
Mas, como afirmou odiario.info na sua NOTA DOS EDITORES,
é na força criadora das massas populares que o povo português encontrará a
saída para o desfecho das eleições.
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