14 outubro2015, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao
(Angola)
Kumuênho da Rosa, Adelina Inácio,
Madalena José, Josina de Carvalho
O Presidente do Botswana e líder em exercício da
Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), Seretse Khama Ian Khama,
considerou Angola um “exemplo de resiliência” que orgulha não só a região, mas
todo o continente africano.
O líder tsuanês, que discursou
ontem no Parlamento angolano, numa sessão especial em sua homenagem, disse que
África tem inúmeros casos de países que viveram conflitos internos, mas que não
tiveram a atitude necessária para defender os ganhos da paz e da estabilidade.
“Angola construiu uma trajectória diferente e é um exemplo vivo de que África deve orgulhar-se”, frisou Ian Khama, que termina hoje a sua visita de 48 horas a Angola, a primeira desde que assumiu, em 2014, a presidência do Botswana.
Antes de ir ao Parlamento angolano, o líder tsuanês reuniu-se no Palácio da Cidade Alta com o seu homólogo angolano, José Eduardo dos Santos. O encontro, que decorreu em paralelo com as conversações entre delegações ministeriais, serviu para
Os dois líderes consideram “incontornável” a inauguração de um novo capítulo na história da cooperação entre os dois países, que apesar de não partilharem fronteiras, têm “inúmeros desafios comuns”, havendo desde logo a necessidade imperiosa de diversificar as economias. O Botswana vive da venda de diamantes, enquanto Angola tem a sua economia dominada pelo petróleo.
No seu discurso, a abrir as conversações oficiais, o Presidente José Eduardo dos Santos estabeleceu um paralelo entre o que os dois países podem conseguir através da criação de parcerias que ajudem a diversificar e a fortalecer as respectivas economias e o seu reflexo no processo de integração regional, no âmbito da SADC.
O Presidente José Eduardo dos Santos foi peremptório ao dizer que o “futuro do processo de integração regional depende do desenvolvimento económico, social, político e cultural de cada um dos países.”
Parceria obrigatória
Defensor de uma cooperação entre Estados assente em “relações harmoniosas e fraternais”, o Presidente angolano disse que o contexto que os dois países vivem, em função da crise económica mundial, impõe um alinhamento das políticas e a necessidade de privilegiar a cooperação sul-sul.
José Eduardo dos Santos destacou também os esforços de cada um dos países da região no sentido de edificar estados democráticos e de direito, através da realização periódica de eleições gerais livres e justas, comprometidas com os princípios que regem as democracias modernas.
“Essa identidade de princípios entre os nossos países facilita também o diálogo, a solidariedade e a cooperação a nível político e diplomático”, frisou José Eduardo dos Santos, reafirmando o seu compromisso com a preservação da paz, estabilidade política e a segurança da região austral. O Presidente angolano, que é o líder em exercício da Conferência Internacional para a Região dos Grandes Lagos (CIRGL), defendeu que sejam feitas concertações que viabilizem um combate mais eficaz ao terrorismo, imigração ilegal, tráfico de armas, de narcóticos, de seres humanos e de espécies biológicas em extinção.
A conjugação de esforços é incontornável para travar de forma efectiva a destruição dos eco-sistemas e impedir as actividades que de um modo geral concorrem para a degradação ambiental, disse José Eduardo dos Santos.
Datas históricas
O Presidente do Botswana elogiou Angola pelos sucessos alcançados desde o acordo de paz e aproveitou a ocasião para felicitar o povo angolano pela comemoração, em Setembro último, do Dia do Herói Nacional, e pela celebração, no próximo dia 11 de Novembro, dos 40 anos de Independência.
Ian Khama defendeu o entendimento mútuo e uma relação mais estreita nas questões regionais. O Presidente do Botswana encorajou as delegações a trabalharem no sentido de produzirem documentos que correspondam aos propósitos dos dois Estados, de inaugurar uma nova era de cooperação, com ganhos recíprocos e reflexos na vida das populações dos dois países.
“Estou bastante optimista em como as resoluções dessa nossa visita vão criar um efeito transformador no desenvolvimento das nossas relações bilaterais”, disse.
Durante dois dias, e no quadro da visita do Presidente do Botswana a Angola, delegações ministeriais dos dois países mantiveram conversações oficiais. Primeiro nas instalações do Ministério das Relações Exteriores, que tiveram sequência ontem na sala de reuniões do Conselho de Ministros, no Palácio da Cidade Alta.
As conversações, como a visita em si, vieram dar uma nova perspectiva aos mecanismos de cooperação que já existiam, como o Acordo Geral assinado em Fevereiro de 2006. Mas a nota de maior realce é a identificação de áreas de interesse comum, como agricultura, energia e águas, hotelaria e turismo, ambiente, comércio e telecomunicações, na perspectiva de se desenvolverem parcerias.
Homenagem a Neto
A jornada do Presidente do Botswana começou com a visita ao Memorial António Agostinho Neto, onde o líder tsuanês prestou homenagem ao fundador da Nação angolana. Quer na sua intervenção na abertura das conversações oficiais, quer na sessão especial no Parlamento, Ian Khama fez questão de sublinhar o papel de Agostinho Neto na libertação dos países da região austral do continente.
“Pergunto-me o que seria para a nossa sub-região se não fosse o esforço desses grandes líderes como Agostinho Neto, que contribuíram de forma incansável para a libertação dos nossos povos. É meu desejo que a visão desses líderes continue a inspirar as futuras gerações”, declarou.
O líder tsuanês reafirmou o seu empenho em desenvolver os esforços necessários no sentido de fortalecer a cooperação bilateral, no quadro de uma parceria estratégica, e fazer com que a região austral tenha progressos em direcção à integração e ao desenvolvimento.
Papel decisivo nos diamantes
Como país produtor de diamantes (é o líder do ranking mundial em quantidade e também em qualidade), o Botswana tem sido um dos grandes beneficiados do processo Kimberley, que teve tem em Angola o seu mais destacado impulsionador. Ian Khama felicitou Angola, em particular o Presidente José Eduardo dos Santos, pelos esforços no sentido de desenvolver a indústria diamantífera, através do processo Kimberley, mas também pelo que tem feito em prol da paz e estabilidade na região, especialmente no caso da RDC.
“Acredito no vosso empenho, como líder da região dos Grandes Lagos, em ajudar o povo irmão da RDC para que alcance as suas expectativas e aspirações de paz e segurança, em prol da criação de uma região estável e próspera”, defendeu.
Intercâmbio parlamentar
O Presidente da Assembleia Nacional manifestou abertura para cooperar com o Parlamento do Botswana, no quadro da cooperação bilateral e multilateral. Fernando da Piedade Dias dos Santos disse que a diplomacia parlamentar é essencial para o reforço da amizade e solidariedade entre os povos.
Ao intervir na sessão especial em homenagem ao Presidente do Botswana a Angola, o líder parlamentar angolano expressou também o desejo de ver os Parlamentos dos dois países partilharem experiências e conhecimentos para a conjugação de esforços para a união dos povos da África Austral, com base na aspiração expressa pelos líderes da região.
Fernando da Piedade Dias dos Santos destacou os laços de amizade entre os dois povos, que abrem caminho para uma cooperação mais abrangente e benéfica para ambos os lados. Angola e Botswana vão continuar a envidar esforços para o cumprimento dos objectivos do desenvolvimento sustentável pós-2015, aprovados recentemente pela Assembleia Geral das Nações Unidas, assegurou o Presidente da Assembleia Nacional.
O líder parlamentar entende que o compromisso assumido pelas Nações Unidas abre perspectivas e compromissos para alcançar as metas do desenvolvimento, segurança e paz, de acordo com a agenda da União Africana e os objectivos da SADC. Dias dos Santos reconheceu que o Botswana, como Estado independente, tem feito um percurso “digno de respeito” ao conseguir que o sistema democrático do seu país seja um exemplo em África. O Presidente da Assembleia Nacional afirmou que o debate político no Parlamento angolano tem privilegiado o diálogo e a concertação entre as forças políticas e com os parceiros sociais. “A essência deste diálogo tem sido a construção de pontes que fortaleçam a democracia, garantam a estabilidade e a paz no país e as bases para o desenvolvimento humano e progresso do povo”, referiu.
Assinado Memorando
Angola e Botswana assinaram ontem um Memorando de Entendimento para fortalecer a amizade entre os dois países e a cooperação nas áreas de Comércio, Indústria, Energia e Águas, Telecomunicações, Agricultura e Geologia e Minas.
O Memorando de Entendimento, que resultou de conversações oficiais entre as delegações dos dois países, foi assinado pelos ministros das Relações Exteriores (Angola) e dos Negócios Estrangeiros (Botswana), Georges Chikoti e Pelonomi Moitoi.
O ministro angolano referiu-se ao documento como um instrumento que vai facilitar o encontro entre as equipas técnicas dos dois países para concertação sobre os mecanismos de implementação das acções previstas no Acordo Geral de Cooperação Bilateral. Georges Chikoti anunciou para o primeiro semestre de 2016 a primeira Sessão da Comissão Bilateral Mista.
A ministra dos Negócios Estrangeiros do Botswana espera que o Memorando facilite a cooperação e permita o crescimento económico entre os dois países, particularmente nos domínios da formação de quadros, comércio e investimento.
Pelonomi Moitoi considerou Angola um país forte e que reúne condições para estabelecer parcerias com outros países africanos, em especial no espaço da SADC.
Parcerias nos petróleos
O presidente do conselho de administração da companhia petrolífera do Botswana, WillieMokgathe, afirmou ontem, que o seu país pretende incrementar parcerias com Angola no sector dos petróleos. O número um da Botswana Oil, que falava num fórum de empresários dos dois países, disseque Angola, como segundo maior produtor de petróleo em África, e o Botswana o maior produtor de diamantes, podem fazer bons negócios.
“Angola produz petróleo e o Botswana importa cerca de 1.5 mil milhões de litros de crude por ano. Queremos o bem para ambos os povos e que, por meio da Sonangol, se encontre uma parceria. Sabemos que Angola pode transmitir a sua experiência ao Botswana”, disse Willie Mokgathe, para quem não há razão para o seu país importar petróleo de países tão distantes.
Letsebe Sejoe, representante do Centro de Comércio e Investimentos do Botswana, disse que o seu país quer estender a cooperação com Angola aos sectores da Energia e Turismo e também tem interesse na cobertura da Zona Económica Estatal do seu país. Sejoe convidou os empresários angolanos a participar na Expo 2015 do Botswana que decorre de 25 a 28 de Novembro e avançou que vai ser facilitada a concessão de vistos aos interessados em investir no seu país.
O presidente da Associação Industrial de Angola (AIA) considerou a agropecuária, pescas, turismo, diamantes, alimentação, construção civil e prestação de serviços, como áreas que podem interessar aos empresários do Botswana e sugeriu que a companhia de bandeira angolana, TAAG, efectuar voos directos entre Luanda e Gaberone.
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