21 de setembro de 2015, Vermelho http://www.vermelho.org.br (Brasil)
Por Mariana Serafini
Efe /Manifestação
em memória ao golpe de estado no Chile.
No cartaz está escrito: "Sem memória não há história, nem
identidade"
Na semana passada a oposição
entregou ao presidente da Câmara, Eduardo Cunha, um aditamento ao pedido de
impeachment contra Dilma Rousseff. A história nos mostra que estas ações vêm
acompanhadas de um programa neoliberal bem definido. O exemplo do Chile mostra
que um golpe da direita não é movido só pelo ódio contra os mais pobres, e sim
por uma agenda neoliberal a ser implementada, independente das consequências à
soberania e ao desenvolvimento econômico e social de um país.
Diferentes das
ditaduras militares que assolaram os países latino-americanos entre as décadas
de 60 e 90, agora a direita toma medidas mais sofisticadas para destituir do
poder os governos progressistas em curso na última década. Os chamados “golpes
brancos” não contam mais com o reforço das forças armadas, mas sim com manobras
bem articuladas entre Judiciário, grupos econômicos e mídia hegemônica. Esta
trinca é capaz de criar instabilidade política a ponto de destituir o poder
vigente com um golpe de Estado sem derramamento de sangue, ou clima de guerra
de civil. Foi o caso de Honduras e do Paraguai.
No entanto, são as ditaduras do século passado que nos mostram como os
programas neoliberais são implementados à força pela elite, em detrimento das
classes baixas. É o caso do Chile, que teve um governo popular interrompido por
um golpe seguido de um dos programas neoliberais mais sólidos do continente. O
mandato de Salvador Allende (Unidade Popular) durou apenas três anos, de 1970 a
1973. Neste período o presidente fortaleceu sua base popular devido aos
programas sociais que elevaram de forma rápida a qualidade de vida dos mais
pobres. Porém, o programa de governo que pretendia vencer etapas e chegar ao
socialismo foi interrompido pelo duro golpe militar de Augusto Pinochet em 11
de setembro de 1973.
Durante os três anos de governo de Allende, o Chile viveu um verdadeiro
terrorismo econômico impulsionado pela mídia hegemônica, que criou um clima de
ingovernabilidade e preparou o cenário para o golpe. Um comunicado interno da
International Telephone and Telegraph, importante monopólio norte-americano de
comunicação, dizia que os banqueiros não deveriam renovar os créditos, ou
demorar para fazê-lo. Ao mesmo tempo que as companhias comerciais deveriam
dificultar a reposição de peças e produtos básicos.
Com a crise de abastecimento, criada propositalmente pelos grandes grupos, a
classe média começou a sentir a escassez e a fazer manifestações contra o governo
com “panelaços” que representavam a falta de produtos básicos no comércio. Em
uma etapa mais avançada rumo à ingovernabilidade, a oposição começou a cercar o
governo impedindo-o de realizar nacionalizações de empresas e impondo
constantes trocas de ministérios e ampliando sua influência no poder
legislativo.
Com o cenário pronto para o golpe, Pinochet toma o poder e em poucos anos
consegue consolidar sua agenda neoliberal aplicando uma política de choque
baseada na Escola de Chicago, de Milton Friedman e George Stigler. A abertura
do país ao capital estrangeiro fez com que em curto espaço de tempo a
vulnerabilidade econômica atingisse níveis avassaladores, que pegaram a
economia chilena desprevenida. As primeiras medidas do ditador foram fortalecer
o monopólio, privatizar as empresas que já haviam sido estatizadas e entregar
os bens naturais – como a mineração, o cobre e seus derivados, a madeira e a
pesca – à exploração internacional.
Em pouco tempo, 2% das empresas do país controlavam mais de 70% das ações de
todas as sociedades anônimas, enquanto os três bancos mais importantes
conseguiram deter a metade das ações dos bancos comerciais. Por volta de 1977 o
país viveu seu “milagre econômico”, como no Brasil, mais ou menos no mesmo
período. Porém esta euforia passou rápido, em menos de três anos o
endividamento interno e internacional do Chile o levou a ser o país com a maior
dívida externa per capita do mundo.
A agenda de “modernizações” baseada na Escola de Chicago levou o Chile a
privatizar a Previdência Social, a saúde, a educação, o sistema de
infraestrutura e a entregar o controle de praticamente todo seu capital a
grupos estrangeiros. Passadas quase quatro décadas o país ainda sente as
consequências destas ações porque até os dias de hoje ainda não conseguiu se
desvencilhar totalmente deste amplo processo de privatização dos anos 70 e 80.
Ou seja, a educação pública ainda não é gratuita, assim como a saúde. Os
pedágios nas autovias e o preço do transporte público oscilam de acordo com os
horários de pico, de forma que as tarifas ficam mais altas nestes períodos.
Além da constituição vigente que ainda é a implementada por Pinochet durante os
anos 80.
O exemplo do Chile mostra que um golpe da direita não é movido só pelo ódio
contra os mais pobres e à ascensão das classes baixas, mas sim porque há uma
agenda neoliberal bem definida. No Brasil a situação é parecida, o que move o
golpe da direita brasileira não é só o fato de o governo popular de Lula e
Dilma ter elevado a qualidade de vida dos trabalhadores, ou o ódio ao PT e à
esquerda, mas sim o interesse de implementar novamente a agenda neoliberal que
já levou o país a uma série de privatizações nos anos 90 e abriu a economia
nacional ao capital estrangeiro.
Com a crise de abastecimento, criada propositalmente pelos grandes grupos, a classe média começou a sentir a escassez e a fazer manifestações contra o governo com “panelaços” que representavam a falta de produtos básicos no comércio. Em uma etapa mais avançada rumo à ingovernabilidade, a oposição começou a cercar o governo impedindo-o de realizar nacionalizações de empresas e impondo constantes trocas de ministérios e ampliando sua influência no poder legislativo.
Em pouco tempo, 2% das empresas do país controlavam mais de 70% das ações de todas as sociedades anônimas, enquanto os três bancos mais importantes conseguiram deter a metade das ações dos bancos comerciais. Por volta de 1977 o país viveu seu “milagre econômico”, como no Brasil, mais ou menos no mesmo período. Porém esta euforia passou rápido, em menos de três anos o endividamento interno e internacional do Chile o levou a ser o país com a maior dívida externa per capita do mundo.
A agenda de “modernizações” baseada na Escola de Chicago levou o Chile a privatizar a Previdência Social, a saúde, a educação, o sistema de infraestrutura e a entregar o controle de praticamente todo seu capital a grupos estrangeiros. Passadas quase quatro décadas o país ainda sente as consequências destas ações porque até os dias de hoje ainda não conseguiu se desvencilhar totalmente deste amplo processo de privatização dos anos 70 e 80. Ou seja, a educação pública ainda não é gratuita, assim como a saúde. Os pedágios nas autovias e o preço do transporte público oscilam de acordo com os horários de pico, de forma que as tarifas ficam mais altas nestes períodos. Além da constituição vigente que ainda é a implementada por Pinochet durante os anos 80.
O exemplo do Chile mostra que um golpe da direita não é movido só pelo ódio contra os mais pobres e à ascensão das classes baixas, mas sim porque há uma agenda neoliberal bem definida. No Brasil a situação é parecida, o que move o golpe da direita brasileira não é só o fato de o governo popular de Lula e Dilma ter elevado a qualidade de vida dos trabalhadores, ou o ódio ao PT e à esquerda, mas sim o interesse de implementar novamente a agenda neoliberal que já levou o país a uma série de privatizações nos anos 90 e abriu a economia nacional ao capital estrangeiro.
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