A crise política, na avaliação do historiador Moniz Bandeira, autor de
“A segunda guerra fria”, “Presença dos Estados Unidos no Brasil”, entre dezenas
de outros publicações relevantes, tem acelerado a crise econômica por diversas
razões, como, por exemplo, Operação Lavajato, cujas consequências
colocam em xeque atuação de grandes empresas nacionais, criando
instabilidades, que produzem associações de interesses antinacionais, internos
e externos, contrários às opções geopolíticas feitas pelo governo brasileiro de
aliar-se às forças internacionais que contrariam as grandes potências, Estados
Unidos e Europa. A criação dos BRICs, Banco Brics, moeda dos Brics,
alternativa ao dólar como equivalente monetário global etc, é, certamente, o
principal incômodo para Tio Sam.
O modo de atuação de juízes de primeira instância, como o juiz Moro,
de Curitiba, de pautar investigações mediante métodos semelhantes aos
utilizados por Hitler, pela Gestapo, na segunda Guerra Mundial, como é o caso
de delação premiada, por meio da qual são feitas prisões sem dispor de provas
concretas, configurando ações aparentemente legais, produz, segundo Bandeira, o
que Aristóteles denominou de democracia extremada. Trata-se, nada mais nada
menos, de praticar tirania oligárquica, algo semelhante ao que ocorrem nas
ditaduras.
Os agentes nacionais de segurança, como a Polícia Federal, financiados, diz
Bandeira, pela CIA e DEA, estão deturpando o processo democrático, em meio
às dificuldades econômicas, agravando-as. Eles estão favorecendo, com tal
atuação extremada, que lança dúvidas sobre sua legalidade, interesses
financeiros internacionais, contrários às políticas nacionalistas, ancoradas em
melhor distribuição da renda nacional. Contribuem as ações dos agentes
policiais de segurança para fortalecimento de associações desses interesses
externos com os internos, combinados com ação de
uma oposição oportunista, que joga no golpe político, para
desestabilizar a presidenta Dilma Rousseff.
Nesse contexto, a decisão da Standard & Poor’S de rebaixar nota de
crédito do Brasil, na avaliação de Moniz Bandeira, prejudica as
forças produtivas no País, a fim de satisfazer não apenas os
interesses externos, mas os internos a eles associados, ligados à
geopolítica de Washington, contrária às opções feitas pelo governo brasileiro
na cena econômica e financeira internacional, aproximando-se, principalmente,
da Rússia e da China, na tarefa de construção dos Brics. O
império norte-americano está profundamente contrariado com orientação
nacionalista predominante no Brasil e, também, na América do Sul, ao longo dos
últimos doze anos.
A aproximação de Lula de Cristina Kirchner, essa semana, em Buenos Aires,
para apoiar candidato nacionalista kirchnerista-peronista, é mais um movimento
para que se faça leitura política sobres os propósitos reais que animam a
decisão da Standard & Poor’S. Leia abaixo entrevissta do historiador à
Agencia de Noticias PT (CF).
Os métodos adotados pelo juiz Sérgio Moro para arrancar confissões por
meio de delação premiada se assemelham aos praticados pelos fascitas.
Levam à extremização da democracia que, segundo Aristóteles, produz
tirania oligárquica. Trata-se de jogo que intensifica a instabilidade política e
favorece os que desejam paralisar a economia brasileira e a opção
nacionalista adotada nos últimos doze anos por governos que optaram pela
melhor distribuição da renda nacional de modo a promover desenvolvimento
sustentável. Nada mais incômodo para os interesses do império, diz o
historiador.
A entrevista de Cesar Fonseca (CF) com Moniz Bandeira (MB)
CF – A agência Standard & Poor´s rebaixou o grau de investimento do
Brasil. O que o senhor poderia falar sobre isso?
MB – O rebaixamento não pode
surpreender. Já estava previsto. O que ocorre no Brasil e contra o Brasil é uma
campanha de interesses econômicos estrangeiros, devido a vários fatores, entre
outras coisas, sua inserção no banco do BRICS, com a Rússia e a China,
associada aos interesses políticos domésticos, de uma oposição sem ética, sem
compostura, servindo aos interesses antinacionais.
CF – Essas agências de ”risco” estavam envolvidas, nos EUA, em escândalos que
levaram à crise 2008 . A própria S&P´s foi condenada recentemente a pagar
multa de US 1, 37 bilhão por seus envolvimentos com os escândalos de Wall
Street em 2008. Tem moral para fazer avaliação de uma economia com a
brasileira?
MB – As agências de risco pertencem aos bancos de
investimentos dos Estados Unidos e seus critérios são mais políticos que econômicos.
Estão a serviço de especuladores, subordinadas aos interesses econômicos e
políticos de Washington e de Wall Street. Tanto isto é certo que, quando houve
a reincorporação da Crimeia pela Rússia, logo ocorreu o rebaixamento da nota da
Rússia. Isto não significa que não haja no Brasil uma crise econômica, porém
ela muito mais agravada pela crise política e institucional, que abrange e
envolve a Justiça e o Congresso.
CF – Por trás dessas avaliações haveria uma espécie de pressão para o Brasil
adotar uma agenda neoliberal, com abertura econômica ainda maior ao capital
estrangeiro?
MB – Não creio. É uma simplificação. É claro, o Brasil
está dentro do sistema internacional capitalista, cada vez mais e mais
globalizado, e tem de tomar certas medidas ortodoxas, para o reajuste fiscal.
Porém, o governo deve necessariamente intervir no câmbio, que constitui
forte fator de pressão inflacionária, ao encarecer as importações de matérias
primas etc. Há enorme especulação do mercado, devido à apatia do governo, da
inexistente reação ante os desfeitos dos especuladores e da oposição. E isso
ajuda o enfraquecimento do governo. A questão, portanto, é mais complexa e não
apenas econômica. É política, em que interesses estrangeiros se entrançam com
interesses domésticos, na oposição. E o governo está na defensiva, o que é
muito ruim. A defensiva pode resultar na derrota.
A mim muito me admira como se
permite que um juiz do Paraná e a Polícia Federal cometam tantos desmandos,
ilegalidades, com prisões arbitrárias de grandes empresários, sem maior
comprovação, a desmoralizar não apenas a Petrobras e as empresas estatais, mas
também as grandes companhias nacionais, como a Odebrecht, as quais contribuem
para a expansão do comércio do Brasil. Os chefes de governo de todos os países
sempre promoveram, no exterior, as empresas de seu país. Por que o presidente
Lula não podia abrir caminho em outros países para as construtoras nacionais?
Quem está por trás de tamanha campanha contra o Brasil? A delação premiada é
algo que se assemelha a um método fascista. Isso faz lembrar a Gestapo ou os
processos de Moscou, ao tempo de Stalin, com acusações fabricadas pela GPU
(serviço secreto).
No Brasil, um juiz determina,
a Polícia prende, ameaça processar o indivíduo se não delatar supostos crimes
de outrem, e assim, impondo o terror e medo, obtém uma delação em troca de uma
possível penalidade menor ou outra dádiva qualquer. Não entendo como se permite
que a Polícia Federal atue de tal maneira, ao arbítrio de um Juiz, que nenhuma
autoridade pode ter fora de sua jurisdição. A quem servem? Combater a corrupção
é certo, mas o que estão a fazer é destruir a imagem do Brasil no exterior e
contribuir para outros interesses promovam a especulação econômica e as
agências de risco aproveitem para rebaixar a nota do Brasil.
E o Ministério da Justiça, por
que deixa que a Polícia Federal pratique tantas prisões arbitrárias, ilegais,
sem que os presos tenham culpa judicialmente comprovada? Sinceramente, não
entendo essa tibieza. Aqui, na Alemanha, onde moro há 20 anos, não mais seria
possível. Só no tempo de Hitler. Aristóteles ensinou que uma democracia extrema
podia levar a uma a tirania mais absoluta do que a dos oligarcas. E é o que se
vê, atualmente, no Brasil. A tirania exercida por um juiz, abalando a economia
e o regime, com a colaboração da Polícia Federal, que reconhecidamente recebe
recursos da CIA e da DEA, e da mídia corporativa, em busca de escândalos para
atender aos seus interesses comerciais.
CF – O capitalismo financeiro global depende de certas estruturas de dominação-
do centro para a periferia. Essas agências de risco são instrumentos de
dominação, já que o que decidem tem repercussão na mídia e em fundos de
investimentos que as têm como referência?
MB – Claro. O dólar, como única moeda de reserva
internacional, guarnecido pela OTAN, é que mantém a hegemonia dos Estados
Unidos, que querem continuar como o único centro de poder e é contra essa
situação que a Rússia e a China (acompanhadas pelo Brasil, Índia e África do
Sul) se rebelam e trataram de constituir um banco, como alternativa ao FMI,
instalado em Xangai.
CF – Os Brics podem ser uma alternativa a essa estrutura de dominação que tem
como centro Washington?
MB – A aguda crise política no Brasil, alimentada por
certos interesses econômicos estrangeiros e políticos domésticos, que não
querem a continuidade de um governo popular, tem de ser compreendida no cenário
internacional, ao qual o povo brasileiro está alheio. A mídia no Brasil está
voltada, como nunca, a produzir escândalos e não dá quase nenhum espaço para as
notícias internacionais ou simplesmente reproduzem as agências estrangeiras da
Europa e dos Estados Unidos, a refletir os interesses de seus respectivos
governos.
CF – O Brasil quebrou três vezes com FHC, as notas das agências de rating na
época do governo tucano, inclusive as dadas pela S&P´s , eram bem mais
baixas do que as dada hoje ao governo Dilma. Mesmo assim a mídia brasileira
coloca o Brasil numa situação de país que estaria à beira de um abismo, embora tenha
US$ 370 bilhões em reservas e seja hoje o 4º maior credor dos EUA. Como o
senhor analisa esse quadro?
MB – Como disse antes, a mídia mundial, na qual a
brasileira, de um modo ou de outro está inserida, é corporativa e atende aos
interesses econômicos e políticos, como um instrumento de operações
psicológicas, indispensável a toda e qualquer guerra. Em meu livro A Segunda
Guerra Fria, eu analiso como atualmente se processam os golpes de Estado, as
chamadas “revoluções coloridas” ou “primavera árabe”, com demonstrações
instrumentalizadas por ONGs, com agitadores adestrados na estratégia subversiva
de Gene Sharp para promover a “cold war revolutionary”, com protestos,
demonstrações, marchas, desfiles de automóveis etc., até derrubar o governo,
como aconteceu na Ucrânia, no ano passado. O governo brasileiro devia
investigar as atividades da USAID e da NED e determinar o registro de todas as
ONGs, a origem de seus recursos e gastos.
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