13 de Setembro, 2015, Jornal de
Angola (Angola)
Filomeno Manaças
O Parlamento Europeu escorregou na peta da
eurodeputada Ana Gomes e produziu uma resolução sobre Angola que não dignifica
a instituição, ao referir-se a factos não comprovados e cair em generalizações
que põem a nu a má fé que esteve na base da sua elaboração.
É um erro de palmatória agir assim, mas o Parlamento
Europeu preferiu correr esse risco e ignorar os avanços que Angola tem vindo a
fazer em matéria de direitos humanos e noutros domínios, como o combate ao
branqueamento de capitais e promoção das liberdades democráticas.
O Parlamento Europeu alinhou claramente pela tese das “duas democracias” defendida pela eurodeputada Ana Gomes, pois só assim se compreende que a maioria dos seus membros (550) - com a honrosa excepção dos 14 que votaram contra e dos 60 que se abstiveram - tenha caucionado às cegas a versão dos factos apresentada pela legisladora lusa.
Seria exaustivo enumerar aqui todos os aspectos em que Angola deu saltos qualitativos, mas em praticamente todas as frentes o balanço é francamente positivo em apenas 13 anos de paz. E em muitos domínios avançou-se mesmo em tempo de guerra, período em que
No que concerne ao combate ao branqueamento de capitais, Angola é um dos países africanos que estão particularmente empenhados em estar ao nível das melhores práticas internacionais. Daí a sua participação em eventos internacionais que têm debatido a problemática e a disponibilidade também em acolhê-los.
A democracia não é um produto acabado e por isso temos consciência de que ainda há muito por fazer, por construir. Porém, não é isso que nos vai levar a ter de aceitar todas as opiniões que vêm de fora.
Ana Gomes esteve recentemente em Angola e foi recebida por políticos e governantes. Falou para a imprensa e deu entrevistas. E ficou claramente evidente que a eurodeputada portuguesa defende a ideia de “duas democracias”. Uma para a Europa e o Ocidente em geral e outra que acha que deve ser imposta aos restantes países. Por isso Ana Gomes disse numa das suas entrevistas, e reportando-se a Angola, que “quando os jovens não se revoltam é porque estamos todos mortos”. É claro que não estava a referir-se a uma revolta qualquer, mas sim ao mesmo tipo de revolta que colocou a Líbia de rastos, que está a destruir a Síria e que está a levar milhares e milhares de jovens desses países e de outros onde a guerra instalou o caos a procurarem refúgio na Europa, que entretanto se mostra relutante em os receber. Essas revoltas incendiaram e tornaram instáveis vários países, obedecendo a uma estratégia previamente concebida a partir de fora para satisfazer os apetites de políticos como a Sra. Ana Gomes, que vêem nisso uma oportunidade de afirmação e projecção política. Quem sabe, até, de fazer negócios à custa da desgraça alheia?
Por isso, não é despropositado dizer que Ana Gomes é apenas mais uma daquelas vozes que nunca esconderam o desejo de ver eclodir em Angola uma “primavera”, ao jeito das manifestações violentas que sacudiram o norte de África e cujo rastilho chegou até à Síria, onde os serviços de inteligência de países estrangeiros aproveitaram o ambiente para introduzir armas e provocar a matança que já vai na cifra de 320 mil mortos em apenas quatro anos de guerra. Não sejamos ingénuos ao ponto de não perceber quais as verdadeiras intenções da eurodeputada.
Portugal conhece faz algum tempo uma crise económica e social grave, que levou muitos jovens a emigrarem, e em nenhum momento se ouviu a eurodeputada a defender que deviam revoltar-se, através de manifestações violentas e incendiando pneus nos principais pontos estratégicos de Lisboa, para chamar a atenção das autoridades e do mundo inteiro para a situação de descalabro do país.
Não podemos confundir a liberdade de manifestação com a liberdade de atear fogo.
A eurodeputada Ana Gomes é uma incendiária travestida de democrata. Mais seriedade e responsabilidade não fariam mal ao Parlamento Europeu. Os imigrantes que hoje são barrados às portas da Europa deviam suscitar um posicionamento mais lúcido.
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