4 junho 2015, Redecastorphoto
http://redecastorphoto.blogspot.com (Brasil)
31/5/2015, F. William Engdahl*, New
Eastern Outlook – NEO
Traduzido pelo pessoal da Vila Vudu
Dia 23 de maio de 2015, o presidente Vladimir Putin da Rússia sancionou nova lei, proposta pelo Parlamento, que dá aos Procuradores de Justiça o direito de declarar “indesejáveis” na Rússia, e mandar fechá-las, organizações estrangeiras e internacionais que se intrometam na política russa. Como se podia prever, a porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Marie Harf, disse que os EUA estariam “profundamente perturbados” ante a nova lei, a qual, na opinião dela, seria “mais um exemplo dos ataques crescentes do governo russo contra vozes independentes, para isolar o povo russo, do resto do mundo”.
A nova lei dá poderes às autoridades russas para
banir do país ONGs declaradas indesejáveis e para processar os empregados e
responsáveis, que correm risco de serem condenados a seis anos de cadeia ou a
serem expulsos do país, para não mais voltar. A União Europeia fez coro ao
Departamento de Estado dos EUA, e disse que a lei seria “preocupante passo numa
série de restrições contra a sociedade civil, a imprensa independente (sic) e a
oposição política”.
A ONG mantida por George
Soros, Human Rights Watch (HRW), condenou a lei. E a Amnesty International, idem.
Com tanta coisa no mundo em que vivemos, em que
impera o duplo-falar, é conveniente compreender o contexto da nova lei. Longe
de ser salto na direção de converter a Rússia em estado fascista, a nova lei
pode ajudar a proteger a democracia e a soberania da nação russa, num momento
em que está em estado de guerra de facto contra,
em primeiro lugar, os
EUA, mas contra, também, vários porta-vozes, como Jens Stoltenberg, novo
comandante civil russofóbico da OTAN.
A Rússia tem sido atacada por ONGs políticas que
operam a serviço do Departamento de Estado e da inteligência dos EUA e, isso,
desde que a URSS se autodissolveu, no início dos anos 1990s. Houve que
financiaram e treinaram figuras selecionadas na oposição, como Alexei Navalny,
membro de um grupo chamado Conselho de Coordenação da Oposição Russa [orig. Russian
Opposition Coordination Council]. Navalny foi mantido com dinheiro de uma
ONG de Washington, Dotação Nacional para a Democracia [orig. National
Endowment for Democracy (NED)], conhecida como instrumento da CIA
para executar ações políticas sujas demais para que o estado norte-americano as
possa assumir, no projeto de “armar e militarizar
direitos humanos e democracia”.
Antes da nova lei, as
leis russas para ONGs eram muito mais suaves – de fato baseada numa lei vigente
nos EUA, a Lei de Registro de Agentes Estrangeiros [orig. Foreign Agents
Registration Act (FARA)], que exige que ONGs ativas na Rússia, mas
financiadas do exterior apenas registrassem seus funcionários como agentes de
governo estrangeiro. Chamada de “Lei Russa dos Agentes Estrangeiros” passou a
valer em novembro de 2012, depois que ONGs norte-americanas foram apanhadas
organizando protestos anti-Putin. Essa lei exige que organizações sem
finalidade de lucro que recebam doações do exterior e operem como instrumentos
a serviço de governo de outro país sejam registradas como organizações e
agentes estrangeiros. Essa lei permitiu auditar as finanças e as atividades de
cerca de 55 ONGs operantes na Rússia, mas mantidas com dinheiro recebido do
exterior, mas até agora não tivera grande efeito sobre as operações de ONGs
como Human Rights Watch [Observatório dos Direitos Humanos] ou Anistia
Internacional.
Dotação Nacional para a
Democracia
[orig. National Endowment for Democracy, NED]
O caso da NED é ilustrativo. A Dotação
Nacional para a Democracia é uma gigantesca operação global; seu criador, Allen
Weinstein, que redigiu também a legislação que criou a NED, disse numa
entrevista, em 1991, que:
(...) muito do que hoje fazemos já era feito,
clandestinamente, pela CIA, há 25 anos.
De fato, a ONG que hoje se conhece como NED
nasceu dos miolos criativos de Bill Casey, diretor da CIA no governo de
Ronald Reagan, como parte de uma ampla “privatização” da CIA. O
orçamento da NED vem do Congresso e de outras ONGs amigas do Departamento
de Estado, como as Fundações Open Society, de George Soros.
A NED tem subunidades: National
Republican Institute, cujo presidente é o senador John McCain, que teve
papel chave no golpe de Estado que os EUA deram na Ucrânia, em 2014. O National
Democratic Institute, ligado ao Partido Democrata dos EUA, cuja presidenta
é a ex-Secretária de Estado de Clinton e bombardeadora-em-chefe da Sérvia,
Madeline Albright. No Conselho Diretor da ONG NED estão, dentre outros,
todos os neoconservadores mais empenhadamente belicistas do governo
Bush-Cheney, como Elliott Abrams; Francis Fukuyama; Zalmay Khalilzad,
ex-embaixador dos EUA no Iraque e no Afeganistão e arquiteto da guerra afegã; e
Robert Zoellick, íntimo da família Bush e ex-presidente do Banco Mundial.
Em outras palavras, essa EUA-ONG “para promoção
da democracia” é item integrante de uma nefanda agenda global de Washington,
que usa essa ONG armada, pseudo promotora de Direitos Humanos e Democracia,
para livrar-se de governos e regimes e autoridades que se recusem a obedecer os
comandos de Wall Street ou Washington. A NED esteve no coração de todas
as Revoluções Coloridas que Washington promoveu pelo mundo desde o golpe
bem-sucedido para derrubar Slobodan Milosevic na Sérvia em 2000.
Quatro principais satélites da NED
Foram também golpes
dessa EUA-ONG que instalaram presidentes pró-OTAN na Ucrânia e na Geórgia em
2003-4, tentaram desestabilizar o Irã em 2009, comandaram operações da
Primavera Árabe para redesenhar o mapa político do Oriente Médio depois de
2011, e, mais recentemente, criaram e sustentaram a “Revolução dos
guarda-chuvas” em Hong Kong para criar embaraços à China. A lista é longuíssima.
A NED na Rússia
hoje
Dentro da Rússia, apesar da lei dos agentes
estrangeiros, a sempre bem financiada ONG NED continua a operar. Desde
2012, a NED não divulga a lista das organizações que financiam dentro da
Rússia, coisa que a ONG fazia antes. Só fazem indicar os setores e, raramente,
as atividades que financiam.
Mais importante, não há relatório anual das
atividades da ONG no ano de 2014, ano crítico, depois do golpe da CIA na
Ucrânia, quando Washington escalou nos truques sujos contra Moscou, e de fato
declarou estado de guerra contra a Federação Russa, impondo sanções financeiras
que visavam a “incapacitar” a economia russa.
Em todas as Revoluções Coloridas geradas pelos
EUA até hoje, as instituições norte-americanas, bancos de Wall Street e fundos hedge
sempre tentam gerar o máximo de caos econômico e usá-lo para insuflar atos de
agitação política, como se vê em ação hoje no Brasil, contra a presidenta Dilma
Rousseff, figura de destaque no grupo BRICS.
O modo como a EUA-ONG NED está consumido
milhões, do dinheiro dos contribuintes norte-americanos, na Rússia, é altamente
revelador. No relatório abreviado do ano de 2014, a ONG NED revela que,
dentre vários projetos na Rússia, gastou US$ 530.067 numa rubrica
“Transparência na Rússia”, para “ampliar a consciência da corrupção”.
Como assim? A EUA-ONG NED apropriou-se das
funções da Polícia ou dos Procuradores de Justiça russos? Como é que descobrem
e comprovam a tal “corrupção” cuja “consciência”, depois, eles trabalham para
“ampliar”?
Claro que a “operação” aí gera lucros colaterais,
sob a forma de detalhes íntimos de corrupção na Rússia e da vida de corruptos
russo, que são encaminhadas às autoridades russas para providências: são
encaminhadas às autoridades norte-americanas para chantagem. Há treinamento
especializado nos EUA para ONG-ativistas em outros pontos do mundo (como os
grupos Navalny).
E há uma EUA-ONG financiada pelo Congresso dos
EUA, ligada à CIA e ao Departamento de Estado de Victoria Nuland, que
decide quais as empresas russas são “corruptas”? Tenham a santa paciência!
ONGs que corroem a democracia
Outra categoria na qual
essa EUA-ONG NED consome somas consideráveis de dinheiro na Rússia hoje
aparece sob a rubrica “Ideias e Valores Democráticos”: US$ 400 mil, para algo
que leva o nome de “Encontrar pontos de confluência de Direitos Humanos e
História – Para ampliar a consciência do bom e do mau uso da memória histórica,
e estimular discussões públicas de questões políticas e sociais prementes”. O
quê?!
A coisa soa muito parecida com recentes
tentativas, pelo Departamento de Estado dos EUA, de negar o significado e a
importância da participação do Exército Soviético – que foram realmente
decisivos para a derrota do IIIº Reich, na IIª Guerra Mundial.
É preciso perguntar também: quem decide quais são
as tais “questões políticas e sociais prementes”? A NED? A CIA?
Os neoliberais de Victoria Nuland no Departamento de Estado?
Outros pés nos mesmos
sapatos
Imaginemos outros pés nesses mesmos sapatos.
Vladimir Putin e o serviço secreto de inteligência da Rússia decidem montar em
New York uma “operação’ que chamarão de Nossa Empreitada “Futura Democracia
nos EUA” (NoFuDemEUA).
Essa operação NoFuDemEUA financia, com milhões e
milhões de dólares, o treinamento de jovens ativistas afro-americanos, em
técnicas de “arrastões”, tumultos, vandalismo, manifestações de brutalidade
contra policiais, ensinam a preparar coquetéis Molotov, a usar as mídias
sociais para desmoralizar o estado, a Polícia. O objetivo da operação
NoFuDemEUA será denunciar todos os abusos de direitos humanos cometidos pelo
governo dos EUA, FBI, Polícia, governo instituições da ordem pública.
Esse pessoal assim treinado, saberá colher um incidente ambíguo em Baltimore,
Maryland ou Chicago ou New York e disparar vídeos por Youtube para todo o
mundo, tuítos, mensagens sobre a violência policial, real ou falsificada.
Ninguém se preocupa com determinar o que fez a Polícia, se agiu bem ou mal. Mas
multidões reagem, tomam as ruas contra a Polícia, eclodem tumultos, morre
gente.
Caros leitores, alguém aí supõe que o governo dos
EUA admitiria que uma ONG russa se intrometesse nos assuntos internos soberanos
dos United States of America? Alguém acha que o FBI hesitaria um
segundo para prender todo o pessoal da ONG NoFuDemEUA, fechar o escritório,
acabar com a “operação”?
Pois o que essa ONG
NoFuDemEUA estaria fazendo é exatamente o mesmo que a ONG National Endowment
for Democracy, NED, financiada pelo Congresso dos EUA e apoiada pela CIA,
faz na Rússia. O pessoal dessa ONG não tem absolutamente nada a fazer em
lugar algum da Rússia, que é nação soberana. Nem, é claro, essas ONGs têm algo
a fazer em qualquer lugar do mundo. Elas só existem para semear confusão, criar
tumultos. O governo russo faz muito bem em mostrar-lhes a porta de saída, como
organizações realmente indesejáveis.
Em outubro de 2001, dias depois do choque dos
ataques contra as torres do WTC e o Pentágono, o governo Bush conseguiu aprovar
uma lei que, na prática, rasgou a Lei dos Direitos da Constituição
Norte-Americana, das melhores constituições que o mundo conheceu. A “Lei
Patriótica”, como é cinicamente chamada pelos seus patrocinadores, dá poderes
ao governo dos EUA para, dentre outras violências
(...) vigiar terroristas suspeitos, todos os
suspeitos de praticar fraudes ou abusos por computador (sic!), e agentes
de potência estrangeira engajado em atividades clandestinas nos EUA.
Outra sessão dessa Lei Patriótica permite que o
FBI confisque
(...) produto tangível de qualquer tipo
(livros, gravações, papeis, documentos e outros itens) para investigação necessária
para proteger contra terrorismo internacional ou atividades clandestinas.
Essa lei, que é lei do estado policial que passou
a haver nos EUA, provocou apenas gotas de ultraje; agora está para ser renovada
pelo Congresso. O fato de a ONG NED ter parado de declarar a quem dá
dinheiro na Rússia é prova de que tem algo a esconder. Essa ONG NED é o
coração das operações da CIA e do Departamento de Estado dos EUA para
(...) militarizar e armar os Direitos Humanos
[orig. “Weaponization of Human Rights”], para provocar “mudança de
regime pelo mundo, de modo a verem-se livres de governos que “não cooperam”.
Como eu já disse em
recente entrevista na Rússia sobre a NED, pouco depois de a nova lei
russa ter sido aprovada, o que me surpreendia é que a Rússia não tivesse criado
lei semelhante há muito tempo, porque era evidente que as ONGs norte-americanas
não estavam lá para qualquer serviço positivo. A NED é realmente uma ONG
“indesejável” – como o são Human Rights Watch, Freedom House, as fundações Open
Society e toda a escória das falsas ONGs de Direitos Humanos patrocinadas pelo
governo dos EUA.
Frederick William Engdahl* é jornalista, conferencista e consultor para riscos estratégicos.
É graduado em política pelaPrinceton University; autor consagrado e
especialista em questõesenergéticas e geopolítica da revista online
New
Eastern Outlook.
Nascido em Minneapolis,
Minnesota, Estados Unidos, é filho de F. William Engdahl e Ruth Aalund (nascida
Rishoff). F.W. Engdahl cresceu no Texas, e depois de se formar em engenharia e
jurisprudência na Princeton University em 1966 (bacharelado), e
pós-graduação em economia comparativa da University of Stockholm
1969-1970. Trabalhou como economista e jornalista free-lance em New York e na
Europa. Começou a escrever sobre política do petróleo, com o primeiro choque do
petróleo na década de 1970. Tem sido colaborador de longa data do movimento LaRouche.
Seu primeiro livro foi A Century of War: Anglo-American Oil
Politics and the New World Order, onde discute os papéis de Zbigniew
Brzezinski, de George Ball e dos EUA na derrubada do xá do Irã em 1979, que se
destinava a manipular os preços do petróleo e impedir a expansão soviética.
Engdahl afirma que Brzezinski e Ball usaram o modelo de balcanização do mundo
islâmico proposto por Bernard Lewis.Em 2007, completou seu livro Seeds of
Destruction: The Hidden Agenda of Genetic Manipulation. Seu último livro foi: Gods of Money: Wall
Street and the Death of the American Century (2010).
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