26 Junho, Jornal Noticias http://www.jornalnoticias.co.mz (Maputo)
Cor, luz, música e dança marcaram ontem as
cerimónias centrais do quadragésimo aniversário da independência nacional.
O Estádio da Machava, recinto que há 40 anos foi palco da
declaração da independência, foi ontem “pequeno” para acolher a moldura humana
que acorreu àquele recinto para, num acto simbólico e carregado de muita
emoção, celebrar a liberdade, a identidade nacional, a paz e o desenvolvimento.
Mas comecemos do fim. Com o mítico Estádio da Machava esgotado,
quatro paraquedistas rasgaram os céus, para o delírio dos milhares de cidadãos
que se encontravam ali. Os paraquedistas, dois saltando em paraquedas com as
cores da bandeira nacional, foram
alvo de intensas palmas quando faziam algumas
acrobacias no ar com o objectivo de “aterrar” no centro do campo, o que,
infelizmente, não aconteceu.
Momentos antes do “salto” três caças da
Força Aérea “cortaram” os céus da Machava. Num
voo rasante, os “migs” ensaiaram números acrobáticos que também arrancaram dos
mais de 40 mil presentes palmas e… susto devido ao barrulho ensurdecedor dos
seus motores.
O “show” aéreo, que para além de novidade
constituiu o “prato-forte” do dia, depois do discurso do Presidente da
República, foi o culminar de uma actividade que iniciou por volta das nove horas
da manhã, com a entrada em cena dos primeiros grupos corais, que com a voz dos
seus elementos procuravam animar o ambiente, enquanto o grosso da população e
convidados ao evento posicionavam-se nos lugares a eles reservados.
À medida que o Estádio da Machava se compunha, em termos de
preenchimento dos seus lugares, o movimento musical ali montado ia ganhando
cada vez maior dinamismo, com os grupos corais a serem substituídos pelos de
dança.
Nesta altura “desfilaram” os mais variados
tipos de dança que compõem o mosaico nacional. Testemunhámos a “makwayela” dos
TPM; o mapiko, o tufo, o chigubo de Matutuíne, entre outros, que iam animando o
ambiente, numa altura em que se começavam a notar movimentações na zona “vip”
do Estádio – a bancada central sombra, o que fazia antever a chegada dos
convidados de honra e, com eles, os membros dos órgãos de soberania, que em
momentos destes “mostram-se” ao público instantes antes da entrada do Chefe do
Estado.
Filipe Jacinto Nyusi, o quarto Chefe de
Estado moçambicano, deu entrada no recinto do Estádio da Machava “em cima” da
hora programada, fazendo-se transportar numa carrinha das Forças Armadas de
Defesa de Moçambique. Numa velocidade
solene, a viatura que transportava o Presidente da República fez-se à pista de
atletismo, numa marcha que também possibilitava ao Presidente acenar para os
presentes, num gesto de resposta à saudação que lhe era dirigida. Tudo isto foi
feito ao som da Banda das Forças Armadas e da Polícia da República de
Moçambique, que já se encontravam no retângulo de jogos à espera de entoar o
Hino Nacional, dando assim início formal à cerimónia.
Acto contínuo, Filipe Nyusi entoou o Hino num palanque
especialmente erguido para ele no recinto de jogos do Estádio e procedeu à
revista à guarda de honra. De seguida o mestre de cerimónias anunciou a entrada
da tocha da chama da unidade, o símbolo da unidade nacional que desde o dia 7
de Abril percorreu todos os distritos do vasto território nacional com o
objectivo de unir os moçambicanos à volta dos ideias da paz, estabilidade e
desenvolvimento.
Acompanhado dos antigos Presidentes da
República, Joaquim Chissano e Armando Guebuza, o Chefe do Estado recebeu a
tocha e levou-a até à Pira Olímpica, onde a acendeu, para o delírio da
multidão, que não se cansava de acenar com bandeirinhas de papel, num gesto de
exaustiva alegria contagiante.
E assim ficou encerrada a primeira parte da festa da independência.
O desfile
A segunda parte das festividades do Dia da
Independência Nacional arrancou com orações proferidas por representantes das
três maiores confissões religiosas nacionais, designadamente cristãos,
muçulmanos e Baahai.
Os líderes destas confissões, para além de rezarem pela saúde e
bem-estar de todos, oraram para que Moçambique seja um país de paz duradoira,
de estabilidade, pressupostos para a criação decondições para a melhoria
contínua da qualidade de vida dos seus cidadãos.
Terminadas que foram as orações arrancou,
de imediato, o desfile que vinha sendo preparado nos últimos quinze dias. Sem
grandes surpresas, a marcha iniciou com um grupo de crianças, representando as
“flores que nunca murcham” – nome a elas atribuído pelo falecido Presidente
Samora Machel – seguidas de jovens representando as onze províncias do país.
Trajadas de vermelho e branco, as crianças dançaram, acenavam com a Bandeira
Nacional e, mesmo em frente à tribuna presidencial, soltaram balões de diversas
cores, que trouxeram mais alegria e animação ao evento. Os jovens, numa marcha animada e descontraída, divididos em onze
grupos, trajavam as cores da nossa Bandeira, colorindo o ambiente que, de baixo
de um sol brilhante, fazia esquecer o frio que ao de leve se fazia sentir
no recinto.
Concluída a parte civil do desfile eis que
os paramilitares e militares se fazem ao terreno e passeiam a sua classe. Constituídos por representantes da Polícia de Guarda Prisional até
aos militares da Força Aérea, foram cerca de 45 minutos para acompanhar uma
marcha dinâmica que possibilitou aos moçambicanos aperceberem-se das condições
técnicas e materiais das Forças de Defesa e Segurança do país.
Queremos melhor qualidade de vida
AS crianças moçambicanas pediram ontem uma melhor qualidade de
vida, o que se traduz em mais e melhores infra-estruturas sociais, nomeadamente
escolas, hospitais, estradas, para além de professores com melhor formação.
Numa mensagem lida no Estádio da Machava
por ocasião dos 40 anos da independência nacional, os “petizes”, na voz de
Orlina Muianga, apelaram para a paz e unidade nacional, pois consideram que só
num ambiente assim poderão ver os seus direitos respeitados.
“Hoje, como sempre, continuem a nos regar para que continuemos a
ser as flores que nunca murcham”, afirmam na missiva.
Na ocasião as crianças manifestaram a sua preocupação em torno dos
focos de instabilidade política e militar que por vezes se fazem sentir no
país, afirmando que os adultos devem trabalhar para se ultrapassarem essas
dificuldades.
“Estamos preocupadas porque ainda existem os que abusam sexualmente
as crianças ou outros que as obrigam a casar ainda na tenra idade.
“A nossa missão é estudar para dominar a
ciência e a técnica para podermos assumir com responsabilidade os desafios de
amanhã”, afirmou Orlina Muianga, para depois pedir ao Governo “punição severa”
para todos aqueles que maltratam as crianças no nosso país.
Dia da festa
ALGUMAS personalidades políticas abordadas pela nossa Reportagem
consideram que a passagem dos 40 anos da independência nacional constitui um
momento de exaltação e valorização das conquistas dos moçambicanos e sobretudo
um dia de festa.
Eduardo Mulémbwè, antigo Presidente da
Assembleia da República, disse que 40 anos de independência significam
“progresso, cidadania e o resgate da dignidade humana porque hoje somos donos
do nosso próprio destino”.
Eliseu Machava, secretário-geral da Frelimo, disse que a celebração
dos 40 anos de independência são o resultado de um trabalho colectivo, em que
cada um fez a sua parte para a libertação do país, conquista da independência e
do desenvolvimento económico.
Alberto Chipande, ex-Ministro da Defesa Nacional, sublinhou o facto
de ter participado directamente na luta armada e na libertação do povo.
“Estou satisfeito pelo que sentimos hoje
aqui em Moçambique, quarenta anos depois. É
uma honra participar no desenvolvimento do país e espero que os próximos
quarenta anos sejam de maior desenvolvimento ainda”, sublinhou o militar que
deu o primeiro tiro da luta armada contra o jugo colonial português.
Para Verónica Macamo, Presidente da
Assembleia da República, a independência constitui a maior conquista dos
moçambicanos. “Hoje revivi o 25 de Junho de 1975
aqui no Estádio da Machava. Isto é daquelas coisas que de facto tocam o coração
das pessoas. Apesar de termos tido os 16 anos de guerra, o país é outro. As
liberdades estão ai. Todos nós temos oportunidade de influenciar o percurso do
nosso país, portanto, estamos satisfeitos”, sublinhou a fonte.
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26 Junho, Jornal Noticias http://www.jornalnoticias.co.mz (Maputo)
O Presidente da República, Filipe Nyusi,
fez ontem, em Maputo, um balanço “francamente positivo” dos 40 anos da
proclamação da independência nacional, afirmando que ao longo deste período o
país cresceu e formou os seus quadros, que hoje constituem orgulho nacional.
Falando ao mundo, a partir do Estádio da Machava, no auge das
celebrações do 25 de Junho, Dia da Independência Nacional, Filipe Nyusi disse
que em 1975 herdou-se um país com enormes desafios e com capacidades limitadas
para os enfrentar. O Estado não tinha quadros suficientes para responder às
várias necessidades, agravado pela fuga massiva de portugueses. Neste sentido,
o Estado concentrou-se na formação dos moçambicanos e na prestação de serviços
básicos de saúde.
“Na educação eliminámos o modelo discriminatório e opressor de
ensino, que dividia o ensino em oficial e rudimentar. A massificação permitiu
estender a rede escolar em todos os subsistemas de ensino e estas medidas
traduziram-se em mais crianças que passaram a ter acesso à educação. A taxa de
analfabetismo passou de 93 por cento em 1975 para cerca de 48 por cento em
2015”, exemplificou.
Mostrou ainda que em 1975 havia 5260
escolas primárias, havendo agora 17.150; 12 escolas secundárias contra as
actuais 920; 26 escolas técnicas e profissionais, contra as actuais 111, e
apenas uma universidade, contra 48 instituições actualmente.
Disse que na saúde o quadro era mais
dramático na altura da independência, pois havia pouco mais de 500 unidades
sanitárias. Todavia, com a criação do Serviço
Nacional de Saúde, passados 40 anos, este número triplicou. Indicou ainda que
em 1975 havia pouco menos de uma centena de médicos e hoje o número supera os
1600 profissionais da área. Igualmente o número de enfermeiros cresceu de 1200
em 1975 para cerca de 15 mil, 40 anos depois.
“Uma das grandes conquistas da
independência nacional foi a diminuição da mortalidade infantil. A esperança média de vida que era de 41 anos em 1975 passou para 52
em 2015”, referiu o estadista moçambicano, salientando que as conquistas da
independência não se limitaram apenas aos sectores vitais da Educação, Saúde e
Agricultura.
Disse que foi possível a expansão da rede eléctrica para todo o
país e que a nação celebrou recentemente a reversão da Hidroeléctrica de Cahora
Bassa. Introduziu-se e expandiu-se a telefonia e a fibra óptica em todas as
capitais provinciais e os distritos estão cobertos pela rede de telefonia
móvel, com um total de dez milhões de utilizadores.
O Presidente da República salientou que no
domínio da habitação apenas nos últimos dez anos foram construídas 80 mil casas
por particulares e instituições públicas e privadas. Afirmou que a rede de estradas tem vindo a conhecer melhorias nos
últimos anos, sendo que de 2005 a 2014 foram reabilitados 3573 quilómetros de
estrada e 162 mil quilómetros beneficiaram de intervenções de manutenção e no
que respeita às pontes rodoviárias foram construídos 8974 metros em todo o
país. Igualmente expandiu-se a rede de abastecimento de água, beneficiando a
mais moçambicanos e foram reabilitados e construídos novos aeroportos, o que
tem vindo a dinamizar o turismo.
“Todas estas conquistas económicas e sociais
foram possíveis porque beneficiámos do concurso de outros actores que
garantiram a segurança e a defesa da nossa soberania”, disse Filipe Nyusi,
saudando as Forças de Defesa e Segurança pelo trabalho que têm realizado em
prol da defesa dos interesses de Moçambique. Referiu,
entretanto, que a aposta é a consolidação do carácter patriótico e apartidário
das Forças de Defesa e Segurança, com a missão de defender o país contra todas
as formas de agressão, para a protecção dos bens e dos meios de desenvolvimento
e a sua subordinação aos órgãos de soberania e ao poder democraticamente
instituído.
Filipe Nyusi reconheceu, no entanto, o quanto falta ainda por
caminhar, dizendo ser necessário melhorar as condições de vida dos
moçambicanos, melhorar o acesso ao emprego, promover a produtividade e a
competitividade. Afirmou ser necessário criar riqueza gerando o desenvolvimento
equilibrado e inclusivo num ambiente de paz, estabilidade e segurança, sendo
que o Governo continuará a promover a harmonia, solidariedade, justiça e coesão
entre os moçambicanos.
O futuro está nas nossas mãos
Moçambique tem todas as premissas para
emergir, nas próximas décadas, como um país unido e economicamente mais forte
do que hoje, disse o Presidente da República, Filipe Nyusi, indicando a
prevalência do clima de paz e a descoberta de imensos recursos naturais como
desafios que se impõem ao país.
“A nossa aposta é assegurar que a sua exploração seja gerida de
forma sustentável, transparente e objectiva de modo a garantir que os seus
benefícios sirvam o desenvolvimento e a prosperidade de todos os moçambicanos”,
disse o estadista moçambicano, acrescentando que “vamos explorar os nossos
recursos de forma racional, cuidando do nosso ambiente, hoje mais ameaçado do
que nunca em todo o mundo”.
Filipe Nyusi mostrou-se ciente dos desafios
que existem pela frente mas, optimista, transmitiu a confiança de que tais
obstáculos podem ser vencidos.
Disse que na luta pela independência
nacional os moçambicanos contaram com o apoio incondicional e solidariedade de
vários povos, apoio esse que foi decisivo para a vitória sobre a dominação
colonial.
Neste sentido, segundo realçou, Moçambique continuará com a sua
política externa de fazer mais amigos, promover mais parcerias na salvaguarda
do interesse nacional e mantendo laços de amizade e cooperação no concerto das
nações.
Entretanto, várias personalidades nacionais
e estrangeiras marcaram presença ontem no Estádio da Machava para estas
celebrações, com destaque para os antigos Presidentes de Moçambique, Joaquim
Chissano e Armando Guebuza, os chefes de Estado e/ou de Governo do Zimbabwe,
Robert Mugabe; da Tanzania, Jakaya Kikweti; do Malawi, Peter Mutharika; da
Zâmbia, Edgar Lungo; da Namíbia, Hage Geingob; do Vice-Presidente de Angola,
Manuel Vicente, e do Primeiro-Ministro da Suazilândia, Barnabas Dlamini. Também estiveram antigos presidentes da Zâmbia, Kenneth Kaunda, da
Tanzania, Benjamin Mkapa, do Botswana, Ketumile Masire, entre outros.
Salomão Muiambo
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