22
junho 2015, Carta Maior cartamaior.com.br (Brasil)
Milhares de líderes de empresas globais -- nenhum norte-americano -- se reuniram 19ª edição do Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo.
Pepe Escobar
Nenhumcaravanseraipoderá jamais competir com a 19ª edição do Fórum
Econômico Internacional de São Petersburgo[St. Petersburg International Economic Forum (SPIEF)]. Milhares de
líderes de empresas globais – inclusive europeus, mas nenhum norte-americano;
afinal, o presidente Putin seria “o neo-Hitler” – representando mais de mil
empresas/corporações internacionais, inclusive os presidentes da British Petroleum,
da Shell Holandesa e da Total, chegaram à cidade em grande estilo.
Por todos os lados, painéis
fascinantes – incluindo sessões sobre os BRICs; a Organização de Cooperação de
Xangai (OCX); a(s) Nova(s) Rota(s) da Seda; a União Econômica Eurasiana (UEE);
e, claro, o tema de todos os temas, “A Formação [orig. making] do Século
Pacífico-Asiático: Reequilibrar o Leste”, em que falou o Primeiro-Ministro
australiano, Kevin Rudd.
Como se podia prever, houve
muito suspense sobre o Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICs, com grandes
novidades a serem divulgadas na Cúpula dos BRICS, mês que vem, em Ufa. O
brasileiro Paulo Nogueira Batista, novo vice-presidente do banco, espera
entusiasmado a primeira reunião dos diretores.
E noutro tema chave – deixando de
lado o dólar norte-americano – coube a Anatoliy Aksakov, presidente da Comissão
Parlamentar do Parlamento Russo para Política Econômica, Desenvolvimento
Inovador e Empreendedorismo, chegar logo ao que interessa:
Precisamos completar a
transição, até fazermos todos os nossos pagamentos recíprocos em moedas
nacionais, e acreditamos que já se encontram preparadas todas as condições para
que assim seja.
que assim seja.
Não é movimento só retórico.
Adiante, apenas alguns dos negócios fechados no Fórum SPIEF. Como se poderia
prever, verdadeiro show por todos os cantos do Oleogasodutostão.
– Os dutos para o gasoduto do
Ramo Turco pelo fundo do Mar Negro começarão a ser instalados ainda este mês,
mais tardar em julho, segundo Alexander Novak, Ministro de Energia da Rússia.
– O presidente da Gazprom, Aleksey Miller e o Ministro de Energia da Grécia, Panagiotis Lafazanis, praticamente fecharam negócio para a extensão do Ramo Turco até a Grécia. Estão “preparando o devido memorando intergovernamental”, segundo a Gazprom.
– A Gazprom também anunciou que construirá um duplo gasoduto, da Rússia até a Alemanha, pelo Mar Báltico, em parceria com a E.ON alemã, a Shell anglo-holandesa e a austríaca OMV.
Em outro front eurasiano crucial, a Índia assinou o projeto de acordo para criar uma zona de livre comércio com a União Econômica Eurasiana. A Ministra do Comércio da Índia, Nirmala Sitharaman, estava eufórica:
São duas grandes regiões,
qualquer coisa que façam juntas com certeza levará a resultados ainda maiores.
Oh, como vão longe os dias de Bandar Bush e suas ameaças de que atiçaria os jihadistas contra a Rússia!
Em vez disso, aconteceu uma reunião sob todos os aspectos notável, entre o Presidente Putin e Mohammad bin Salman, o vice-príncipe coroado saudita e atual Ministro da Defesa (o homem que comanda a guerra no Iêmen). Foi resultado lógico de Putin estar em contato, há semanas, com o novo chefe da Casa de Saud, rei Salman.
A Casa de Saud informou polidamente que se tratou de discutir “relações e aspectos da cooperação entre os dois países amigos”. Fatos em campo incluíram discussão, entre os ministros do petróleo saudita e russo, para um amplo acordo de cooperação; assinatura de seis acordos sobre tecnologia nuclear; e o Imponderável Supremo: Putin e o vice-príncipe coroado discutindo preços do petróleo. Podemos estar diante do fim da guerra do preço do petróleo movida pelos sauditas?
Como se já não bastasse, no
front asiático o presidente executivo e superstar máximo, Jack Ma, do Grupo
Alibaba, disse, sem meias palavras:
É mais que hora de os players do mercado investirem na Rússia.
Pequim, aliás, estima atualmente
o valor dos contratos de negócios fechados e quase-fechados com a Rússia em
torno de alucinantes US$ 1 trilhão. O Vice-Primeiro Ministro russo, Igor
Shuvalov, disse que preferia estimativa mais “discreta”.
Bem... Seria ótimo se outras nações sancionadas e “isoladas” – por causa das “agressões” que cometem – conseguissem mostrar tal desempenho comercial.
E por onde andavam os Masters of the Universe?
Antes do fórum de São Petersburgo, Putin dedicou-se a distribuir uma mesma e invariável mensagem, sempre que cruzava com algum líder ocidental: falava sobre comércio bilateral; e em seguida lembrava o quanto as coisas poderiam estar muito, muito melhores. No Fórum, estava mais do que evidente que a política de sanções da União Europeia contra a Rússia é completo desastre – e decida o Conselho Europeu o que decidir, semana que vem.
Aqueles gênios da burocracia
kafkeana na Comissão Europeia continuam a jurar que a Europa nada sofre. Quem
acreditará nisso? Burocratas da Comissão Europeia, que só se preocupam com suas
gordas aposentadorias, como mostra esse estudo
feito na Áustria?
E houve também A Grande Reunião
à margem do Fórum SPIEF: Putin com o Primeiro-Ministro da Grécia, Alexis
Tsipras. A questão aqui não é, por exemplo, a Grécia vir a ser, amanhã, membro
do grupo BRICS. Yves Smith, do blog Naked Capitalism pode ter acertado na
mosca:
O risco objetivo de uma nova
aliança Grécia-Rússia (...) é se os europeus estiverem suficientemente
preocupados para arriscar uma mudança de curso.
Não há – até agora – qualquer
indício de que venha a haver alguma mudança de curso. Mas a Chanceler de Ferro
Merkel já anda jogando abertamente com a carta russa – tipo Moscou obter ponto
onde apoiar o pé na União Europeia – para manter outras nações da União
Europeia afinadas com a obsessão alemã com a “austeridade”.
Quanto à Palavra Definitiva no
Fórum, difícil bater o Primeiro-Ministro Tsipras: a Europa
(...) deve parar de ver-se como
o centro do universo. Deve tratar de compreender que o centro do
desenvolvimento econômico mundial está de mudança para outras regiões.
E havia algum verdadeiro Master
of the Universe presente ao Fórum de São Petersburgo?
No mundo real, há várias
instituições e conferências que servem de base para “coordenar” políticas. Mas
os Masters of the Universe não participam delas. Puxam as cordas das marionetes
que vão as reuniões – e tudo que decidem é coordenado por baixo.
Putin nada perdeu por não ter
sido admitido ao G7 nos Alpes Bávaros (na verdade, um G1 “parceiros
aspirantes”). Logo adiante se encontrou com quem interessava encontrar-se.
Com o Banco Internacional de
Compensações [Bank for International Settlements (BIS)], onde se reúnem os
principais bancos centrais, Putin reúne-se uma vez por mês, para “objetivos de
coordenação”. O Grupo Bilderberg, a Comissão Trilateral e Davos também se
reúnem para objetivos de coordenação. Pode-se bem dizer que o Fórum Econômico
Internacional de São Petersburgo é, hoje, o fórum chave de coordenação para a
Eurásia. Os Masters of the Universe – verdadeiros ou autoiludidos – que esnobem
quem quiserem. E aguentem
as consequências.
Traduzido
pelo pessoal da Vila Vudu
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