Emir Sader
13 outubro 2008/http://www.cartamaior.com.br
A UNASUR deveria convocar imediatamente uma reunião de caráter excepcional, para discutir como os países do continente devem reagir diante da crise internacional. Não há outra atitude que não seja aprofundar os processos de integração, para diminuir a fragilidade e os riscos da região diante da crise, forjada no centro do capitalismo e que deseja fazer com que os pobres de cada país e os países da periferia do sistema, paguem o preço pelos remédios cavalares que os governos centrais colocam em prática.
Uma série de supostos consensuais requerem que o nosso continente fortaleça seus mecanismos de defesa diante da crise internacional. Esta está caracterizada claramente como resultado da farra especulativa dos países do centro do sistema, dos EUA em particular. A desregulação financeira é a fonte dessa gigantesca bolha especulativa. Desregulamentando – segundo as fórmulas do FMI, da OMC e do Banco Mundial – promoveu-se rapidamente a hegemonia do capital financeiro sob sua forma especulativa, ao mesmo tempo que se propiciou a livre circulação de capitais.
Os resultados estão à mostra. Os países que participam dos processos de integração regional na América Latina estão menos expostos à crise, porque incrementaram o comércio e os intercâmbios entre si, porque diversificaram suas relações internacionais. Agora se trata de dar novos passos adiante, para não serem vitimas passivas da crise internacional.
É a hora de avançar e aprofundar o processo de integração. É a hora de avançar na construção do Banco do Sul, na direção da criação da moeda única regional, de um Banco Central único, de mecanismos de controle da circulação do capital financeiro, de proteção dos mercados internos, de avançar para políticas econômicas únicas, de desenvolver projetos de integração industrial e tecnológica, de elaborar um plano de desenvolvimento regional.
É a resposta latino-americana à crise, fortalecendo os mecanismos de integração, a diversificação das relações internacionais, o desenvolvimento dos mercados internos de consumo, acentuando a coordenação dos sistemas bancários e financeiros dos países da UNASUR.
Os países centrais do capitalismo, responsáveis pela exportação das políticas de livre comércio e de livre circulação dos capitais, desejam comprometer-nos com suas soluções, que consistem apenas em injetar grande quantidade de capital para resgatar um sistema falido, sem introduzir modificações fundamentais nas políticas que levaram à gigantesca crise atual.
Devemos ter nossa própria resposta que, no plano internacional, deve propor formas de regulação da circulação do capital financeiro – impostos sobre essa circulação, da forma como a ATTAC propõe, como um imposto cidadão para políticas sociais -, de controle estatal sobre o sistema financeiro, de penalização dos responsáveis pelos processos especulativos que conduziram à crise atual.
Mas nada substitui nossas alternativas que, coerentemente com o que tem sido o processo de integração regional, devem fazer desse processo nossa forma de defesa e de ação autônoma diante de um sistema financeiro internacional falido. Avançar na construção de um mundo multipolar política e economicamente e a hora é a de avançar na construção do Banco do Sul, com reservas próprias, moeda única e Banco Central único. Chega de termos nossas reservas a perigo nos bancos do norte, é hora de que elas financiem diretamente nosso desenvolvimento, sob nosso controle. Avançar ao mesmo tempo em todas as formas de integração do desenvolvimento regional.
Senão seremos vítimas, uma vez, das soluções dos próprios responsáveis pela crise, que tratam de socializar os prejuízos de um sistema baseada na privatização dos lucros. Ficou claro como não se pode ter nenhuma confiança nos supostos do sistema financeiro internacional fundado na chamada “livre circulação de capitais”.
É a hora do Banco do Sul, a hora de aprofundar e consolidar todos os mecanismos de integração regional, hora de impedir que exportem sua crise e de fazer prevalecer o desenvolvimento regional sobre as ruínas do neoliberalismo e da hegemonia imperial estadunidense.
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