16 outubro 2008/Vermelho/Editorial
A percepção de que o mundo está mudando não é nova. Na última década, as mudanças econômicas, com a disparada do crescimento da China e o fortalecimento das economias de países como Brasil, Índia e África do Sul, deixaram para trás os tempos em que a locomotiva do crescimento mundial era formada pelos EUA e pela Europa. Novos protagonistas fortalecem a relação Sul-Sul, abrindo um espaço maior de independência para os países chamados ''em desenvolvimento''. A mais grave crise financeira desde a década de 1930 escancarou aquilo que já era visível: o papel de vanguarda da economia mundial passou agora para os países ''emergentes'', com destaque para a China, encarados por autoridades econômicas e financeiras do ''primeiro mundo'' como os salvadores da economia mundial.
Mas esta passagem não será simples, como se pode concluir da 3ª Cúpula do IBAS (Índia, Brasil e África do Sul), encerrada ontem, dia 15, em Nova Delhi (Índia). A própria participação direta dos chefes de estado indica a importância com que os três países encararam a reunião. E, ao final, o clima de concordância e consenso entre o primeiro ministro Manmohan Singh (Índia), o presidente Kgalema Motlanthe (África do Sul), e o brasileiro Luís Inácio Lula da Silva, sinaliza que aquela articulação, criada em 2003, enfrenta bem a prova que a crise, que se espalha pelo mundo, significa.
Em primeiro lugar, eles fizeram uma avaliação comum, criticando a incúria dos países ricos, que levou à gestação e eclosão da crise, e recusando aceitar que seu preço seja pago pelos países pobres. E ironizaram aqueles que sempre davam lições de boa governança aos países pobres mas tem sido incapazes de salvar seu próprio sistema financeiro.
Em segundo lugar, e dando conseqüência a esta avaliação, exigiram um novo acordo internacional com reformas estruturais no sistema financeiro mundial, incluindo os países em desenvolvimento na tomada de decisões. A crise, diz a declaração final do encontro, não pode ''ser superada com medidas paliativas'', mas com uma reforma que inclua sistemas mais eficientes de vigilância e consulta multinacional, além de aplicar a ética à economia.
Finalmente, começando a transformar essas intenções em iniciativas, querem uma estratégia coordenada para enfrentar a crise, enfatizando a necessidade de aproveitá-la para fortalecer o comércio entre os três paises. De concreto, os dirigentes aceitaram convocar uma reunião de emergência dos ministros da Fazenda e Comércio e presidentes dos Bancos Centrais dos três países - ''uma coisa nova'', comemorou o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Celso Amorim.
São passos que podem indicar o início da ''construção de uma nova arquitetura internacional'', como disse o presidente Lula; uma nova ordem em que a distribuição do poder entre as nações seja mais eqüânime. Este é o desafio que aqueles que tem mandado nos últimos séculos enfrentam com a atual crise. E cuja solução pode gerar um mundo muito diferente daquele que tem prevalecido até hoje. Tudo indica que esta realidade está sendo deixada para trás.
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