Lisboa, Portugal, 6 outubro 2008 – As exportações petrolíferas de Angola, principal fonte de receitas do país, continuarão a aumentar no futuro próximo, graças ao crescimento da procura da China, que compensa possíveis quebras noutros mercados, segundo analistas do português Banco BPI.
“Apesar de algumas condicionantes que possam limitar a procura oriunda das economias desenvolvidas, o forte crescimento da China dá garantias que, no futuro próximo, a procura dirigida ao petróleo angolano deverá manter-se sustentada”, referem os analistas do BPI no mais recente relatório sobre Angola, publicado em Setembro.
Ao longo deste ano, Angola tem vindo a reforçar o seu estatuto de maior e mais fiável produtor de petróleo na África sub-saariana, com uma produção aproximada de 1,9 milhões de barris diários, à frente da Nigéria, onde a situação de conflito no delta do Níger tem vindo a prejudicar gravemente a produção.
Nos próximos meses deverá ocorrer um importante reforço da capacidade produtiva angolana, com novos campos petrolíferos a entrarem em produção, por exemplo Saxi e Batuque, e aumento do débito de outros, caso de Mondo e em Cabinda.
“O peso da procura por parte de outras economias emergentes, e em particular a China, onde a procura continua forte, deverá constituir um factor de suporte a prazo. Embora os Estados Unidos continuem a ter um importante papel, a China tem vindo a afirmar-se como forte candidato a principal destino das exportações angolanas”, afirmam os analistas Cristina Casalnho, Paula Carvalho, Susana Santos e João Sousa.
Em 2007 a China passou a representar 28 por cento das vendas angolanas ao estrangeiro, mais 10 pontos percentuais do que no ano anterior; estas exportações de petróleo valeram 10.605 milhões de dólares, apenas superadas pelas que tiveram os Estados Unidos como destino, que atingiram 12.855 milhões de dólares.
Contudo, salienta o BPI, os fluxos de exportação de petróleo para EUA e China seguem tendências divergentes, com o primeiro, historicamente mais importante, a perder peso, e o segundo a ganhá-lo, “esperando-se que a China cimente a sua posição como principal destino” graças ao “estreitamento das relações comerciais” bilaterais.
Pela primeira vez em Junho deste ano, o consumo de petróleo da China superou a fasquia dos 8 milhões de barris diários.
Actualmente, o petróleo representa cerca de 80 por cento das exportações angolanas, e, directamente, mais de 57 por cento do PIB, pelo que se apresenta como “vulnerável” a uma eventual inversão do ciclo do petróleo, que nas últimas semanas tem vindo justamente a descer nos mercados internacionais, sublinha o BPI.
É sobretudo graças ao petróleo, cujas exportações têm aumentado continuamente em quantidade e em valor, que a balança de pagamentos angolana sofreu nos últimos cinco anos uma “melhoria significativa”, mesmo com as importações a aumentarem mais de três vezes, para 11,7 mil milhões de dólares no ano passado.
Ligado a este aumento das compras ao estrangeiro está “o enorme esforço de reconstrução que está a ser realizado pelas autoridades angolanas, que perante a inexistência de um sector industrial nacional desenvolvido obriga à importação de todo o tipo de máquinas e aparelhos necessários e também o incremento da capacidade aquisitiva da população, numa economia pouco diversificada”, salienta o relatório.
Até Maio deste ano, as exportações da China para Angola cresceram perto de 140 por cento, de acordo com as últimas estatísticas oficiais disponíveis, atingindo os 972 milhões de dólares.
O valor dos cinco primeiros meses deste ano aproxima-se do do total do ano passado (1.241 milhões de dólares) e é claramente superior ao total de 2006 (894 milhões).
“A China tem intensificado as suas relações com o continente africano. Cientes que o crescimento da economia chinesa está dependente do acesso a matérias-primas, as autoridades têm estreitado relações com os países africanos, sobretudo exportadores de recursos naturais, nomeadamente através de linhas de crédito”, refere o BPI.
Com as exportações petrolíferas a levarem a economia angolana a crescer em valores recorde, demonstra ser tarefa difícil o controlo da inflação, que em Julho de situou nos 12,5 por cento homólogos, acelerando relativamente ao registado no mês anterior, e atingindo o ponto mais alto desde Julho de 2006, obrigando a medidas excepcionais por parte do governo, que há muito pretende trazer o indicador para os 10 por cento.
“Face à possibilidade de haver preços especulativos”, especialmente em serviços, restauração e hotelaria, Luanda anunciou que está em preparação legislação para “minimizar estes efeitos”, ainda que “rejeitando a possibilidade de impor preços administrativos”, e por outro lado “monitorizando de forma criteriosa a definição de preços” nos sectores visados, afirmam os analistas.
O comportamento dos preços ao consumidor em Angola tem sido influenciado por restrições logísticas, nomeadamente dificuldades no desembarque portuário de mercadorias, mas também por via da chamada “importação de inflação”, mais recentemente devido aos bens alimentres comprados nos mercados internacionais.
O BPI é o principal accinionista do Fomento Angola, líder na banca privada angolana. (macauhub)
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