Por Carlos Alberto Quiroga
La Paz 21 outubro 2008 (Reuters) - O presidente da Bolívia, Evo Morales, passou a madrugada de segunda para terça-feira em vigília ao lado de milhares de bolivianos, na rua em frente ao Congresso do país, pressionando pela aprovação da lei que convoca um referendo capaz de oficializar a nova Constituição boliviana.
"Nós estamos aguentando isso com muita paciência e continuaremos a aguentar em nome do povo boliviano, ainda que queiram nos provocar", disse o presidente, discursando ao amanhecer para os entusiasmados companheiros de vigília, muitos dos quais recém-chegados de uma caminhada de oito dias.
Morales, que fez sua carreira política com décadas de marchas e bloqueios de estrada, parecia resoluto ao anunciar que a espera continuaria. O breve discurso ocorreu às 6h45 da manhã (8h45 em Brasília), ao completar-se quase 12 horas de debate no Congresso sobre o referendo que colocaria em pauta uma nova Constituição de inspiração socialista.
O acordo político anunciado na tarde de segunda-feira, que garantia os dois terços necessários de votos para convocar o pleito, determinou que os bolivianos irão às urnas no dia 25 de janeiro para decidir sobre a nova Constituição e que, em dezembro, realizarão eleições gerais antecipadas.
Porém, o processo legislativo iniciado à noite para colocar em prática o acordo viu-se atrapalhado por longos discursos de deputados e senadores da oposição, alguns deles contrários ao pacto.
"Tenho certeza de que, nas próximas horas, vamos aprovar. Depois eles (os membros da oposição) não terão mais nenhum argumento. Somos milhares. Não custa nada tomar o Parlamento. E estão buscando isso para nos jogar a culpa. Peço-lhes um pouco mais de paciência. Nós sairemos daqui com a lei que prometo promulgar imediatamente", disse Morales.
O Congresso, cuja Câmara dos Deputados a base governista domina com folga, mas em cujo Senado os adversários do presidente contam com uma pequena maioria, aprovou nas primeiras horas do debate apenas uma lei que o autoriza a realizar ajustes na nova Constituição, lei essa que Morales promulgou às 3h da madrugada, na rua mesmo.
Os legisladores iniciaram, pouco depois, o trâmite sobre a lei do referendo, que inclui todo o novo texto constitucional aprovado por uma Assembléia Constituinte em dezembro passado e ao qual se incorporaram mudanças negociadas nos últimos mês com a oposição.
O texto deve dar poderes maiores à população de origem indígena, majoritária na Bolívia, facilitando seu acesso ao Legislativo e Judiciário, deve dar mais autonomia aos Departamentos e deve consolidar uma economia controlada pelo Estado (com matizes socialistas e comunitários).
"Vamos debater o quanto for necessário para responder às demandas de nossas regiões", afirmou a repórteres o deputado oposicionista Wilman Cardozo, ao justificar na madrugada porque mais de 50 parlamentares haviam pedido para discursar antes da votação sobre o referendo.
Do lado de fora do Congresso, na praça central de La Paz, Morales pediu a solidariedade dos moradores da cidade a fim de conseguir uma quantidade suficiente de comida para os participantes da vigília.
"Às vezes, nós ficamos sem comer. E eu como vocês fiquei sem comer o dia de ontem e depois fiquei sem dormir, nesta vigília. Mas venceremos", acrescentou o presidente, que esteve na segunda-feira à frente do último trecho da marcha realizada por dezenas de milhares de pessoas e que exigia a realização do referendo constitucional.
A passeata, ao que parece a maior da história boliviana, representou o episódio mais recente das mobilizações sociais feitas em nome da reforma constitucional com a qual Morales pretende "refundar" a Bolívia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário