sábado, 2 de fevereiro de 2008

Cabo Verde/Alemães estudam influência da poeira do Sahara na América

Cidade da Praia, 2 fevereiro 2008 - O deserto do Sahara despeja anualmente no Atlântico 300 milhões de toneladas de poeira, das quais 15 milhões chegam às Caraíbas, admitindo-se que esse pó influencie a formação dos ciclones que assolam a América, segundo pesquisadores alemães.
Um grupo de 40 pesquisadores alemães, do Centro Aeroespacial da Alemanha, está em Cabo Verde com vários contêineres de equipamentos e um avião de pesquisa, para estudar a poeira do Sahara que o vento de leste faz chegar ao arquipélago, conhecida nas ilhas como "bruma seca".
Essa poeira, que em Cabo Verde se faz sentir e é visível como se fosse um manto de nevoeiro (às vezes impedindo mesmo as viagens aéreas), é levada pelo vento até à América Central e chega por exemplo à Amazônia, podendo ser um fator de fertilização da floresta, segundo os pesquisadores.
Embora não esteja ainda provado cientificamente, alguns peritos defendem que essa poeira poderá ser responsável pela formação de nuvens e influenciar o aparecimento dos ciclones, tanto mais que existe em quantidade na zona atlântica onde eles se formam.
Apesar das dúvidas quanto à influência nos ciclones, os cientistas consideram no entanto "óbvio" que o pó do Sahara condiciona a meteorologia em todo o hemisfério norte.
Andreas Petzold, coordenador do trabalho de pesquisa a bordo do avião, um Falcon 20 equipado para capturar partículas de poeira na atmosfera, garante que há um impacto no clima provocado pela "bruma seca" e explica que o projeto de estudo tem uma duração de seis anos, tendo começado no Marrocos em 2006, denominado SAMUM I.
O SAMUM II (Saharian mineralum dust experiment), em Cabo Verde durante duas semanas mais, destina-se a estudar o pó vindo do Sahara e todas as suas particularidades, nomeadamente o fato de se misturar com a umidade da savana africana e até com a poluição de Dacar, no Senegal.
"Este pó tem uma grande influência no clima, em todo o Atlântico, incluindo os continentes americano e europeu", garante Andreas Petzold, acrescentando que também é provável que o pó, ao cair na água oceânica, influencia a criação de plâncton e produz gases que podem levar à formação de nuvens.
"Não sei se este pó é bom ou mau para a natureza, é um fenômeno natural, faz parte do sistema e influencia a meteorologia", diz o responsável, satisfeito com o "bom tempo" que veio encontrar em Cabo Verde, entenda-se muita "bruma seca".
"A idéia é perceber a composição do pó, de como ele muda ao chegar aqui, de como se mistura com as nuvens. O Sahara é o maior produtor de poeira do mundo e Cabo Verde está a meio da passagem do pó do deserto para as Caraíbas e Amazônia, por isso é o melhor local do mundo para fazer este estudo", afiançou.
Apesar dos elevados custos do estudo, cerca de quatro milhões de euros, incluindo o período de pesquisas e de análise, 300 mil euros só para ter o Falcon quatro semanas no aeroporto da Praia, o cientista entende que, com este trabalho, ficará disponível informação sobre a "bruma seca" que não existia até hoje.
Além do avião, os alemães estudam a poeira no solo e através de potentes telescópios, numa espécie de aldeia de cientistas instalada dentro do perímetro do aeroporto da Cidade da Praia.
Albert Ansman, outro pesquisador contatado pela Agência Lusa, garante que as partículas minerais em suspensão na atmosfera "influenciam a formação de gelo". E por conseqüência as nuvens, diz, apontando de seguida para o céu, ainda que pouco nublado: "Veja, até aqui em Cabo Verde há gelo".
O fenômeno do pó do deserto do Sahara soprado pelo vento para o Oceano Atlântico não é recente e os antigos navegadores já chamavam a esta zona "mar negro", por ao passarem por ela não conseguirem ver a Estrela Polar, contou à Lusa Lothar Schutz, outro dos cientistas alemães.
Albert Ansman, explicando que o estudo das poeiras é contínuo, noite e dia
através também de feixes laser, conclui que o estudo só ficará completo dentro de três anos, quando tudo for analisado.
E custará quatro milhões de euros parcialmente já custeados pelo Centro Aeroespacial da Alemanha. A soma restante ainda não foi reunida. Mas, diz Lothar, não é assim tanto. Porque muitas previsões meteorológicas podem vir a ser melhoradas quando o trabalho estiver concluído. (Lusa)

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