Xanana Gusmão é o presidente do Congresso Nacional da Reconstrução de Timor-Leste (CNRT), que ficou em segundo lugar nas eleições parlamentares de 30 de Junho, com 23% dos votos. Este partido integra a Aliança para Maioria Parlamentar (ANP), formada após a consulta popular. Uma interpretação largamente contestada da Constituição, feita por Jose Ramos-Horta, colocou no centro do poder um partido que recebeu apenas um quarto dos votos do eleitorado.
A declaração da FRETILIN foi lida pelo presidente do partido, Francisco Guterres «Lu Olo» acompanhado por Mari Alkatiri e por Manuel Tilman, líder da Aliança Democrática, que reúne os partidos KOTA e PPT.
«A Fretilin considera a decisão do presidente da República de convidar o CNRT e seus aliados para formar o governo, uma decisão contrária à Constituição da República Democrática de Timor-Leste e politicamente desrespeitadora das expectativas do eleitorado timorense», diz também a declaração aprovada em reunião da Comissão Política Nacional.
A informação de que Xanana Gusmão ia ser convidado para formar o novo governo de Timor-Leste tinha provocado a reacção antecipada em pelo menos dois dos campos de deslocados de Díli, com o ex-Presidente a ser tratado de «traidor».
Cartazes e declarações directas contra Xanana Gusmão, o Congresso Nacional de Reconstrução de Timor-Leste (CNRT) e a Aliança para Maioria Parlamentar (AMP) surgiram nas últimas 24 horas junto ao campo de deslocados do aeroporto, em Comoro, e ao campo do porto de Díli, no jardim diante do Hotel Timor.
Num dos cartazes colocado em Comoro, Xanana é comparado a John Howard e a G.W.Bush, respectivamente primeiro-ministro da Austrália e Presidente dos Estados Unidos. Estes políticos são impopulares em Timor-Leste.
Um cartaz em bahasa indonésio, língua usada em vários dos letreiros erguidos hoje em Comoro, exige a Xanana que «páre o seu plano de guerra» («Stop!!! Konsep Perang», literalmente).
«Deputado Xanana tem que responsabilizar-se pela crise entre "lorosae" e "loromonu"», exige outro cartaz por referência ao conflito que estalou em Abril e Maio de 2006 entre timorenses originários dos distritos ocidentais e orientais do país.
Um número estimado de 100 mil deslocados continuam a viver em campos ou em residências provisórias na capital e por todo o país, segundo a última actualização, relativa a Julho, divulgada pelo Ministério do Trabalho e da Reinserção Comunitária. Em Díli, há pelo menos 30 mil deslocados.
Os campos do aeroporto e do porto de Díli estão entre os mais politizados da cidade e acompanham muito de perto a situação política e de segurança da capital e do país. «Os traidores não merecem governar», declarou hoje de manhã uma das responsáveis do campo de deslocados do aeroporto, dizendo falar em nome dos deslocados de toda a cidade. «Queremos justiça para os autores dos crimes de 2006», afirmou Madalena Tilman numa declaração lida à imprensa.
«Não concordamos que o Presidente da República inclua Xanana Gusmão como primeiro-ministro», afirmou a representante dos deslocados, alegando que declarações do ex-chefe de Estado na televisão pública, em 2006, «resultaram em muitas vítimas».
«Não somos tratados como pessoas, mas como projecto dos governantes», acrescentou Madalena Tilman, afirmando que «os deslocados não têm dignidade a viver debaixo de um toldo no seu próprio país».
O mesmo tom contra Xanana Gusmão marca vários cartazes erguidos em Comoro e no centro da cidade, junto aos campos de deslocados que têm demonstrado com frequência posições pró-FRETILIN.
Num deles, a sigla CNRT é desdobrada em «Conselho Nacional da Revolta do Traidor» e «Conselho Nacional da Recolha do Traidor». Um cartaz refere apenas: «Traidor uma vez, traidor sempre».
Os «objectivos» da AMP, de que o CNRT faz parte, são referidos noutro cartaz como «salvar os autonomistas, pisar o povo maubere, sobretudo o mais miúdo, alcançar uma nação capitalista e dar liberdade aos autores da crise». São conhecidos como autonomistas aquelas pessoas que defendiam a anexação de Timor-Leste pela Indonésia. Entre eles se encontram membros de milícias responsaveis pelo assassinato de centenas de pessoas durante a ocupação estrangeira.
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