2 de julho de 2019 15h32,
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra-MST (Brasil) https://www.mst.org.br/
Por Catiana de Medeiros
Da Página do MST
Obra da jornalista Ana
Helena Tavares resgata luta do bispo em defesa dos mais pobres
O livro “Um bispo contra
todas as cercas – a vida e as causas de Pedro Casaldáliga” foi lançado nesta
segunda-feira (1º) no Sindicato dos Bancários em Porto Alegre, no Rio Grande do
Sul. O evento, organizado pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), reuniu
deputados, integrantes de movimentos populares, representantes de diversas
entidades e
de organizações sociais.
A obra, da jornalista
carioca Ana Helena Tavares, foi publicada este ano pela editora Gramma. Já foi
lançada em Goiânia, São Paulo, Campinas, Belo Horizonte, Cuiabá e Rio de
Janeiro. Com 220 páginas, trata da biografia do bispo católico Pedro
Casaldáliga, nascido na Espanha em 16 de fevereiro de 1928 e radicado no Brasil
desde 1968. Em 1971 foi ordenado bispo para a Prelazia de São Félix do
Araguaia, no Mato Grosso.
Durante o ato de lançamento
na capital gaúcha, Ana Helena destacou que não chegou a Casaldáliga pelo
caminho da igreja, mas sim pelo seu trabalho jornalístico. Em 2010, motivada
por um caso de tortura na família, a autora passou a apurar e a escrever
reportagens sobre a ditadura militar. Foi numa entrevista com Dom Waldyr
Calheiros, do RJ, que ela teve o seu primeiro contato com Dom Pedro.
Fruto do seu trabalho nessa
pauta, a jornalista lançou em 2016 o livro-reportagem “O problema é ter medo do
medo – o que o medo tem a dizer à democracia”, que traz 26 entrevistas de
pessoas que lutaram contra o medo instalado no país no regime militar. Uma
delas é a de Casaldáliga, a mesma que a motivou escrever, a partir de 2015, “Um
bispo contra todas as cercas”.
“Me encantei pela história
de Pedro. É uma pessoa que nasce de mil em mil anos. No final da entrevista,
ele colocou a mão no meu ombro e falou: nunca se esqueça das causas da vida. Me
tocou muito. A minha história de paixão pelo Pedro é a história de uma repórter
que se apaixonou pelo entrevistado”, ressaltou.
Ana Helena contou que escolheu fazer a biografia de Casaldáliga porque ele era o mais desafiador de todos os entrevistados. O livro sobre a vida do bispo trata do seu envolvimento com direitos humanos através de "11 cercas", referindo-se às causas que ele abraçou. Entre elas a luta contra o latifúndio, a ignorância, o esquecimento e a escravidão contemporânea. “Pedro é a esperança em meio a um mundo tão desesperançado. Tenho muita honra de estar resgatando o nome dessa figura, que nas últimas décadas estava esquecida”, comentou.
“Fonte inesgotável de
inspiração”
Dom Pedro Casaldáliga tem
uma vida em defesa dos mais pobres, camponeses e indígenas. Na década de 70,
ajudou a fundar o Conselho Indigenista Missionário (Cimi). É poeta e autor de
várias obras sobre antropologia, sociologia e ecologia. Adepto da teologia da
libertação, adotou como lema “nada possuir, nada carregar, nada pedir, nada
calar e, sobretudo, nada matar”.
Por sua luta, Dom Pedro já
foi sofreu inúmeras ameaças de morte. Em 2012 teve que deixar sua residência
após a intensificação das ameaças feitas por invasores de terras indígenas.
Isso não o intimidou, e ainda segue lutando ao lado do povo.
Esse legado do bispo foi
reforçado por outras pessoas que participaram do lançamento do livro de Ana
Helena em Porto Alegre. Sidnei Santos, representando a Via Campesina, lembrou
que Dom Pedro sempre contribuiu na formação dos camponeses e do MST. Em 1982,
ele esteve no Acampamento Encruzilhada Natalino, que se tornou símbolo de
resistência à ditadura militar na região norte gaúcha. “Dom Pedro nos ensinou a
defender os bens comuns, a ter compromisso com o ser humano. Ele tomou a
posição de estar ao lado dos mais fracos, dos mais pobres e mais humildes”,
frisou.
Maurício Queiroz, da
Comissão Pastoral da Terra, disse que o bispo é fonte inesgotável de
inspiração. Paulo Farias, da Central Única dos Trabalhadores (CUT), se referiu
ao católico como um ser revolucionário, que na igreja decidiu usar chapéu de
palha à mirta. Já o ex-governador Olívio Dutra definiu Casaldáliga como
referência da luta popular e comunitária, pensador do mundo, defensor da
justiça, da igualdade e da fraternidade.
*Editado por Fernanda Alcântara
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