27 de julho de 2019, 17:08 h, Brasil 247 (Brasil) https://www.brasil247.com/blog/moro-e-o-fracasso-do-estado-policial
Emir Sader*
"Agora o máximo que o Moro pretende é
se safar das situações embaraçosas em que ele se meteu, desde as revelações –
das que ninguém mais duvida – do The Intercept. (STF então nem pensar, subiu no
telhado)", avalia o sociólogo Emir Sader sobre o ex-juiz da Lava Jato
O projeto
de construção de um Estado policial é um dos tres eixos fundamentais do governo
e tem no juiz Sergio Moro seu agente. Um eixo é o do ultraneoliberalismo de
Guedes, que garante o apoio do grande empresariado e de todos os porta-vozes do
neoliberalismo. Um eixo que avança na destruição do pais, independentemente de
apoios no Congresso ou na opinião publica. O segundo eixo são os militares.
Como Bolsonaro nao tem partido, buscou reaproximação com os militares, para ter
seu apoio e preencher cargos importantes no governo.
O
terceiro eixo se deu em torno da nomeação de Moro para o Ministério da Justiça,
para levar a Lava Jato para o governo, com o objetivo de construir um Estado
policial no Brasil. Se trata de criminalizar os movimentos sociais, os partidos
de esquerda, entidades do campo popular, personalidades de esquerda. O objetivo
é blindar o Estado de tal forma que nao seja possível um novo 2002, isto é, um
retorno da esquerda
ao governo.
Um dos
instrumentos disso, herdado diretamente dos governos norte americanos, é a
caracterização como “terrorismo” dos movimentos sociais que supostamente
atentam contra o direito da propriedade privada – especialmente o MST e o MTST
-, para ataca-los e tentar liquida-los. O pacote que Moro enviou ao Congresso
retoma varias medidas repressivas que ele tentou fazer aprovar no auge da Lava
Jato, que incluía até a tolerância com a tortura.
O governo
retomou uma forma ainda mais radical de politica economica neoliberal, com a
dilapidação do patrimonio publico, a liquidação dos direitos dos trabalhadores
e o congelamento dos recursos para politicas sociais. E’ uma politica que só
atende os interesses dos bancos, que vivem das altas taxa de juros e do
endividamento de governos, de empresas e de famílias. Os balanços dos bancos
privados são um escândalo, demostram que dinheiro no pais há, só que está nas
mãos de quem não investe para gerar desenvolvimento economico e empregos.
Quando a Bolsa de Valores de Sao Paulo anuncia seu movimento diário, as cifras
gigantescas nao supõe a criação de nenhum bem e nenhum emprego. E’ uma economia
centrada no capital especulativo.
Um modelo
antipopular e antinacional como esse, precisa de um regime politico
antidemocrático, que tente impedir sua derrota eleitoral, como aconteceu de
2002 a 2014, em disputas democráticas. Dai a ruptura da democracia com o golpe
que tirou a Dilma do governo sem nenhuma razão constitucional, que contou com o
silencio cumplice do Judiciario. Se colocava em pratica a guerra híbrida, a nova
estratégia da direita em escala internacional, que inclui a perseguição
politica pela instrumentalização das leis e pela judicializacao da politica,
com o Judiciario substituindo a soberania popular por suas decisões
arbitrarias.
A
derrubada da Dilma representou a ruptura da democracia e a instauração de um
regime de exceção no Brasil. O projeto do governo Bolsonaro representa a
tentativa de passar do regime de exceção ao Estado de exceção, fechando todos
os espaços democráticos subsistente e impondo efetivamente uma ditadura.
Um tipo
de Estado indispensável, para que a impopularidade da politica economica
neoliberal nao leve, mediante eleições democráticas, a derrotas sistemáticas da
direita, como aconteceu desde 2002. Foi necessário apelar a instrumentos
antidemocráticos tanto no golpe contra a Dilma, como na perseguição ao Lula e
na vitória fajutada nas eleições de 2018 contra o Haddad.
O
enfraquecimento do Moro representa o enfraquecimento desse projeto da direita.
O pacote que enviou ao Congresso tem cada vez menos possibilidades de ser
aprovado, assim como esse decreto esfarrapado com que ele pretende impor medo
ao Glenn e outras medidas desastradas que lhe orientaram nessa viagem apressada
aos Estados Unidos e que falharam estrepitosamente. Agora o máximo que o Moro
pretende é se safar das situações embaraçosas em que ele se meteu, desde as
revelações – das que ninguém mais duvida – do The Intercept. (STF então nem
pensar, subiu no telhado.)
Quebrar
essa perna do governo de exceção e’ um objetivo importante para as forcas
democráticas, tanto para brecar o projeto de construir um Estado de exceção,
como para ampliar os espaços democráticos, que sao aqueles em que as maiorias
podem se expressar livremente e decidir o futuro do Brasil.
*Emir Sader: Colunista
do 247, é um dos principais sociólogos e cientistas políticos brasileiros
Mercosul, Brasil/Sergio Moro pretende criar Estado policial
28 de
julho de 2019, 14:23 h, Brasil 247 (Brasil)
https://www.brasil247.com/brasil/sergio-moro-pretende-criar-estado-policial
Artigo de
João Filho no The Intercept Brasil demonstra que o ex-juiz e aual ministro da
Justiça do governo Bolsonaro está dando forma a um Estado polcial no país
The
Intercept Brasil - Sem nenhuma explicação, militares filmaram
palestra de um cientista na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência,
SBPC. A palestra era sobre as ações do governo Bolsonaro na área de ciência e
tecnologia".
"Também
sem nenhuma explicação, uma reunião do sindicato dos professores de Manaus foi invadida
por policiais rodoviários, que sentaram à mesa portando metralhadoras e
iniciaram um interrogatório. A ordem veio do Exército brasileiro, disseram os
policiais. A reunião tratava dos preparos para as manifestações contra
Bolsonaro durante sua visita à cidade".
[...]
"Esses episódios ocorridos nesta semana têm se tornado cada vez mais
frequentes. Aos poucos, o estado policialesco vai se consolidando no país,
virando o novo normal. É a consequência natural de um governo autocrático, que
rejeita as mediações democráticas, e cujo super ministro da Justiça viola as
leis em defesa própria. E, ao que parece, estamos apenas no começo".
Nenhum comentário:
Postar um comentário