8 de julho de 2019, Página Global https://paginaglobal.blogspot.com (Portugal) https://paginaglobal.blogspot.com/2019/07/relatorio-de-bachelet-sobre-venezuela-e.html
Pablo Sepúlveda
Allende apontou falhas no relatório sobre direitos humanos da alta
comissária da ONU e ex-presidente chilena Michelle Bachelet
“As
cifras utilizadas por Michelle Bachelet são fornecidas por ONG's que
historicamente são de oposição e financiadas pela Usaid (sigla em inglês para
Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional) e a NED (sigla
em inglês para Fundação Nacional para a Democracia, ligada ao Partido
Republicano). Também são financiadas por fundações como a Fundação Ford e a
Open Society Foundations, do empresário norte-americano George Soros.”
Médico radicado na Venezuela, Pablo Sepúlveda
Allende, neto do ex-presidente do chileno Salvador
Allende, acompanhou de perto a visita da alta comissária das Nações Unidas para
os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, também ex-presidente do Chile. Bachelet
esteve na Venezuela entre os dias 19 e 21 de junho, em missão oficial.
Sepúlveda chegou a fazer parte da comitiva de convidados ilustres que recebeu a
alta comissária na sede do Ministério de Relações Exteriores da Venezuela. Na
ocasião entregou uma carta a ex-presidente chilena falando sobre as razões da
crise venezuelana e a realidade do país.
Em entrevista ao Brasil de Fato, Pablo
Sepúlveda Allende fala sobre o relatório final sobre a situação dos direitos
humanos na Venezuela apresentado por Michelle Bachelet ao Conselho de Direitos
Humanos da ONU, nessa sexta-feira (05/07). Confira a seguir os principais
trechos da conversa e os temas destacados pelo neto de Salvador Allende,
ex-presidente alvo de um golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos, em
setembro de 1973.
Falhas do relatório de Bachelet
É um informe totalmente parcial. Retrata uma
realidade que foi distorcida. Fala, por exemplo, que o sistema CLAP (Comitês
Locais de Abastecimento e Produção), abastecimento de alimentos subsidiados
pelo Estado,
obedece a critérios políticos, e afirma que quando a pessoa é
opositora não recebe os alimentos do CLAP. Isso é totalmente falso. O que eu
vejo, onde moro, é que a maioria das pessoas é opositora e recebe seu
benefício. Também afirma que é um sistema de vigilância e controle social, o
que não faz sentido.
Outro equívoco ocorre ao mencionar que as
sanções econômicas estão direcionadas, em sua maioria, às pessoas do governo.
Sabemos que as sanções estão fazendo com que muitos bancos retenham quantidades
importantes de dinheiro venezuelano, destinado a compra de alimentos e
medicamentos.
Por outro lado, o relatório pouco diz sobre a
violência que os setores chavistas sofreram. Nos protestos de 2017, durante as
guarimbas [protestos violentos de opositores], houve muitas mortes de
chavistas. Foram agredidos devido a sua orientação política. Há casos de
pessoas que foram queimadas vivas por serem chavistas, mas Bachelet não
menciona isso em seu relatório.
Ela fala em ‘presos políticos’, mas não menciona
que essas pessoas estão detidas por delitos de violência, inclusive por
terrorismo. Ninguém está preso porque opina contra o governo.
Crise econômica e sanções
A crise econômica da Venezuela tem sua origem
no mercado petroleiro, quando os preços do barril de petróleo sofreram forte
queda a partir de 2014. A queda se manteve por dois anos e isso repercute em
uma economia que depende em grande medida nos recursos da venda do petróleo.
Cerca de 95% dos dólares que entram na Venezuela vêm do petróleo.
E quando a economia começava a dar sinais de
recuperação, em 2017, com a alta no preço do petróleo, começaram as sanções
contra a PDVSA. O Departamento do Tesouro proibiu a comercialização dos títulos
de dívida da PDVSA e do governo venezuelano. Isso foi afetando a economia.
Recordemos a palavras do ex-embaixador dos Estados Unidos na Venezuela, William
Brownfield." As sanções à PDVSA estão dirigidas para causar um colapso
econômico e social". Portanto, é uma política planejada e anunciada
publicamente por autoridades do governo dos EUA, e Bachelet não condena esse
bloqueio.
Cifras de ONGs financiadas pelos EUA
As cifras utilizadas por Michelle Bachelet
são fornecidas por ONG's que historicamente são de oposição e financiadas pela
Usaid (sigla em inglês para Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento
Internacional) e a NED (sigla em inglês para Fundação Nacional para a
Democracia, ligada ao Partido Republicano). Também são financiadas por
fundações como a Fundação Ford e a Open Society Foundations, do empresário
norte-americano George Soros.
A organização Foro Penal, citada por Bachelet
e que fornece cifras de ‘presos políticos’, é financiada por essas fundações,
que instrumentaliza os direitos humanos com fins políticos e econômicos.
Portanto, as fontes que são utilizadas nesse relatório são ONGs que recebem
dinheiro dessas organizações estrangeiras e isso desprestigia e deslegitima o
informe da alta comissária da ONU.
Lugar na história
O papel que desempenha Michelle Bachelet, com
esse tipo de informe, é um bastante desonesto e vergonhoso, porque com
isso está pavimentando o caminho para uma possível intervenção por "razões
humanitárias". Vamos lembrar que em casos anteriores, como na Síria e na
Líbia, deram esses mesmos passos prévios, com esses organismos, como a comissão
de Direitos Humanos da ONU e também a Corte Penal Internacional, para condenar
líderes políticos antes de uma intervenção militar.
Portanto, recai sobre Michelle Bachelet uma
grande responsabilidade histórica e política, caso daqui em diante aumente as
agressões contra a Venezuela. Isso terá seu custo histórico.
Além disso, ela está traindo os ideais que
alguma vez defendeu e, os quais, o seu pai também defendeu. Está traindo um
legado da esquerda chilena ao colocar-se ao lado de um agressor poderoso como
os Estados Unidos, que ameaça constantemente a Venezuela. No fundo, esses
agressores são os mesmos que agrediram o Chile no passado.
Violações durante o seu governo
Michelle Bachelet militarizou toda a zona de
Araucanía, região do povo indígena Mapuche. Isso foi feito para criminalizar e
satanizar a luta do povo Mapuche que tenta recuperar suas terras e recursos,
contra os terratenentes e as empresas florestais [dedicadas a produção de
madeira]. Isso foi constatado pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos,
que afirmou que nessa zona se violava os direitos humanos. Existem informes
sobre a atuação policial e os efeitos na saúde mental das crianças, devido o
grau de violência utilizado pelos policiais.
A população chilena, segundo pesquisas de
opinião pública, queria o fechamento das casas penitenciárias de luxo, onde estão
presos os militares por violação dos direitos humanos. Militares da época da
ditadura, que cometeram crimes de lesa humanidade, estão presos em cárceres
especiais, onde possuem até piscina. Bachelet se comprometeu a fechar essas
prisões, mas não fez isso.
Verdade sobre a Venezuela
É muito importante que saibam o que de fato
acontece na Venezuela. No mundo, existe um cerco midiático para invisibilizar a
verdadeira realidade que se vive no país. Existe uma guerra declarada, nos
âmbitos econômico, midiático, político, diplomático e até militar, através de
grupo irregulares, terroristas e paramilitares. Temos notícias até de exércitos
privados de mercenários, que estão se preparando na fronteira com a Colômbia.
Entre as questões invisibilizadas estão as verdadeiras
causas da crise econômica e o esforço do governo e do povo venezuelano para
conter a crise, para superá-la, através de programas sociais, como o sistema de
alimentação do CLAP. Existe um acordo tácito entre os meios de comunicação de
demonizar a Revolução Bolivariana.
Por isso é importante que se rompa esse cerco
através de testemunhos, provas de investigação. Há um bombardeio de informação
constante. Todas as formas de mentiras são utilizadas para criar uma visão
negativa sobre a Venezuela. Esses são, realmente, meios de propaganda. A
principal batalha é a da comunicação.
Fania Rorigues, Caracas | Brasil
de Fato | em Opera Mundi
Página Global
*Abya Yala: Terra
viva, o nome indígena da América Latina. No espírito de José Martí e dos povos
nativos, Abya Yala é tudo o que está relacionado com a Nossa América, essa
terra viva que vai do Rio Bravo à Terra do Fogo, passando pelas Caraíbas, sem
esquecer as primeiras nações da América do Norte.
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