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de julho de 2019, 09:52 h, Brasil 247 https://www.brasil247.com (Brasil) https://www.brasil247.com/blog/carta-aberta-aos-procuradores-da-lava-jato
Impulsionados pelo furor de vis interesses, os
senhores e o juiz justiceiro macularam as suas instituições: a que investiga e
a que pune
Senhores
Procuradores,
Nesta
hora grave em que se debate o país, dirijo esta mensagem aos meus colegas do
Ministério Público, sobretudo aos jovens, como um despertar para o relevante
múnus público de que somos investidos por força de postulados constitucionais.
Sobressalta a todos nós que lutamos pela salvaguarda da ordem jurídica, do
devido processo legal e dos direitos humanos os rumos da nossa instituição.
Abram
passagem à razão e à inteligência para que
este tão sofrido e desencontrado
Brasil não seja, pelo ódio, o preconceito e a estupidez, arrastado ao atraso.
Egresso
dos quadros do Ministério Público, participei, ao lado de devotados
constituintes de larga estatura política e visão de mundo, dos trabalhos da
Assembleia Nacional Constituinte (1986-1988), da qual emanou um novo e vigoroso
Fiscal da Lei.
Tento
ultrapassar o meu próprio tempo para compreender aqueles que se julgam senhores
da razão e da verdade. Que pobres incautos!
Face
à profunda crise política e econômica que domina a nação, cabe a cada um de nós
e, em especial, aos agentes do Ministério Público, assumir a desafiadora função
de calar o cinismo, apontar os oportunistas, desvendar as tramas que levaram o
país a este fanatismo insensato que nos lança uns contra os outros, defender a
justiça tão conspurcada por preconceitos ideológicos, reanimar os fracos, que
se escondem no silêncio, convocar os fortes e sábios para a cruzada em defesa
da verdade contra essa marcha da insensatez que nos ameaça com um futuro
imprevisível.
Cessem
com investigações cinematográficas que abalam o país e desorganizam os esforços
para o reencontro com o desenvolvimento. Afastem-se das vantagens de uma
indústria da delação premiada para forjar provas e abrir espaço para a ambição
dos oportunistas. Reneguem a busca por aplausos fáceis, combatam os interesses
escusos de poderosos grupos nacionais e internacionais.
Estas
palavras vêm de quem enfrentou pesados desafios e cegas ditaduras no Brasil e
no mundo.
O
país sofre enormes perdas econômicas e financeiras, muitas das quais provocadas
por operações de indefinidos propósitos. Apenas a Operação Carne Seca causou
mais de um bilhão de reais de prejuízos para as nossas receitas de exportação.
Só uma lei rege os espertalhões: a do poder econômico ou político.
Onde
se encontra o maquiavélico julgador da Lava Jato? No Ministério da Justiça, e
os seus cúmplices investigantes na busca insana de abocanhar mais de dois
bilhões de reais de uma multa arrancada da Petrobras nos Estados Unidos para a
criação de uma duvidosa fundação.
Onde
se encontra a esperança por justiça neste Brasil de hoje, encurralado entre a
mediocridade e o lunático? Destruída pela insensatez e por uma raiva canina de
apequenados personagens. Apenas se ouve o grito do condenado de Caetés,
ultrajado por forjadas provas arrancadas de delatores desesperados através de
um criminoso conluio entre os que investigam e os que julgam. Que grande farsa!
Na
atual conjuntura do país, a idiotia exalta o fanatismo para negar a
inteligência. Zomba da educação e renega a cultura. Afinal, para onde querem
levar este país?
Quando
os povos se domesticam e perdem a capacidade de pensar, os bufões dominam a
cena e se vestem de messiânicos da sociedade, da justiça, e alguns se fazem
vestais do moralismo público. Que farsantes!
A
Lava Jato produziu esses tipos e um deles se investe cinicamente de Ministro da
Justiça de um governo que ajudou a eleger. E, muitos ainda, como os carneiros
de Pannunzio, acreditam nesse impostor. Na interminável contenda entre o
idealismo que constrói e a estupidez, a imbecilidade pede passagem. O horror à
inteligência e ao diálogo ata-os à mente preconceituosa e a um fanatismo que
agride a racionalidade: "Amo Israel"; "Sempre admirei os
EUA"; "A terra é plana"; "O cidadão precisa de armas".
Quando
o destino chama um estadista para reconstruir uma nação ou um líder para guiar
o seu povo, a mediocridade mancomunada e arregimentada resiste. Neste altar,
onde o Escamoucho presidencial medra, a paixão do besteirol é servi-lo
cegamente.
Nestes
tempos, não se pensa, lançam-se chavões; não se interroga, impõem-se ideias;
não se governa, faz-se apologia à tolice.
Oh,
tempora! Oh, mores, clamava Cícero no Senado romano, há mais de 2000 anos.
Procuradores,
exerçam a função de agentes do Estado como vigilantes impávidos da ordem
jurídica e do imparcial processo legal. Jamais se façam instrumentos de
ambições desenfreadas daqueles que carregam apetites pessoais e não a
imparcialidade dos magistrados dignos. Na escalada de certos vultos ao poder,
retratam-se os desastrados resultados de suas suspeitas condenações
investigativas.
Cessem
as suas ações audaciosas e temerárias. Só os tipos humanos amesquinhados vivem
sempre no joguetear das artimanhas, contanto que as suas ambições sejam
saciadas. Repilam o moralismo de Tartufo que envolve uma simbologia repugnante.
No momento das decisões difíceis e necessárias, encontram-se os verdadeiros
homens. Saramago, certa vez me disse: "Quão difícil é encontrar um
Homem".
Que
horas sombrias atravessa o país. A bestialidade fez-se horda e pulula pelos
poderes e estende tentáculos por toda a sociedade. Entidades que estiveram
sempre na vanguarda em defesa dos direitos humanos e da ordem democrática, como
a OAB, a ABI, a CNBB e tantas outras, hoje quedam-se cúmplices de um silêncio
condenável e se posicionam naquela grotesca postura de Pilatos
.
Procuradores,
os senhores não se inebriem diante das luzes dos holofotes televisivos, nem se
agachem aos aplausos fáceis das multidões frenéticas. Jamais sirvam de
pau-mandados de carreiristas e oportunistas. Olhem a história dos povos e do
próprio Brasil. Onde estão aqueles que se fizeram algozes de Frei Caneca, de
Vargas, de Juscelino e de Brizola? No esquecimento e na lata de lixo da
história.
A
que calvário infame os senhores arrastam o ex-presidente Lula! A quem os
senhores serviram para esta nefasta e aberrante aventura judicante? A quem os
senhores serviram quando interferiram na Venezuela e fizeram divulgação contra
o governo desse país, instrumentalizando-se de uma delação premiada da
Odebrecht? Na primeira interrogação, a espertalhões que hoje se desmandam à
frente do poder. Saibam que cada passo na busca da verdade e da justiça é fruto
de uma investigação serena e digna, custa muito sacrifício e impõe desafios, ao
contrário de decisões inconsistentes e ilegais.
Por
esta senda os pregadores do moralismo público se agigantam e berram: "O
Brasil está mergulhado na corrupção"; "Acabaram a Petrobras".
Que cretinos! Mentem em nome dos grandes acionistas desta empresa petrolífera,
de banqueiros e de grandes exportadores.
Basta,
senhores procuradores!
Este
teatrão tragigrotesco de mais de cinco anos arrastou o nosso país a uma
depressão enorme e à destruição de empresas nacionais, sobretudo das grandes
construtoras, com prejuízos por volta de 300 bilhões de reais.
Procuradores,
quo vadis, quo vadis, para onde ides com a ordem jurídica que
ultrajastes?
Que
monumental farsa processual os senhores, em conluio com o Torquemada da Lava
Jato, armaram contra a sucessão presidencial de outubro de 2018.
O
site The Intercept Brasil, o jornal A Folha de São Paulo e
a revista Veja escancararam ao país e ao mundo os porões de uma justiça
de fancaria e mergulharam fundo num mar de lama que pulula no poder judicante
de Curitiba, comandada pelos senhores e o justiceiro Moro. O que estarrece a
nação em face deste gigante iceberg, do qual aparecem as primeiras
pontas?
Ali,
naquela selva de ilegalidade, autoritarismo e insensatez, o direito e a justiça
são pisoteados e renegados. De prisioneiros e centenas de desesperados pelo
medo os senhores extorquiram, por torturas psicológicas, os mais vis e fantasiosos
depoimentos e delações premiadas. Nesta escuridão medieval em que se sangra a
justiça, as suas vidas serão pinceladas como aqueles figurantes do quadro de
Picasso em Guernica, Espanha. Apodrecidos tipos humanos.
Impulsionados
pelo furor de vis interesses, os senhores e o juiz justiceiro macularam as suas
instituições: a que investiga e a que pune. Sob a estratégia de uma mídia
comprometida, inebriaram o povo brasileiro e anestesiaram a consciência da
sociedade com prisões cinematográficas, longas prisões preventivas e delações
premiadas extraídas por tortura psicológica, como caracteriza Raul Zaffaroni.
Que horas graves e sombrias vivemos. Os lacaios da justiça se glorificam e os
condenados, vários deles, carregam injustamente a pecha de corruptos.
Os
incapazes sempre se insurgiram contra os grandes vultos: deram a Sócrates
veneno, crucificaram Cristo, apunhalaram César, desterraram Dante, aprisionaram
Alfred Dreyfus na Ilha do Diabo, lançaram no cárcere Mandela, mataram Vargas,
degradaram Juscelino e, hoje, arrastam o ex-presidente Lula a um monstruoso
martírio. É o pesado tributo que pagam aqueles que marcaram o destino humano.
Nesta época de lunáticos, os palácios se povoam de sequazes que comandam o
espetáculo do cinismo por fraudes processuais e injustas condenações.
Basta,
Senhores Procuradores! Ponham na consciência de cada um o dever a ser cumprido.
Lembrem-se: viver não é preciso, ter fibra moral é preciso.
Atenciosamente,
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