2 de março de 2015, Viomundo http://www.viomundo.com.br (Brasil)
Diante da excitação golpista na Argentina, bem
parecida com a que agita o Brasil, a presidenta Cristina Kirchner assumiu seu
papel de liderança política na defesa da legalidade. Neste domingo (1), ela
falou diretamente à nação num pronunciamento na sede do Congresso Nacional, que
foi transmitido em rede nacional de rádio e televisão.
Do lado de fora, mais de 400 mil pessoas tomaram as
ruas num vibrante ato pela democracia. Até o jornal Clarín,
arqui-inimigo da presidenta, foi obrigado a reconhecer a força do ato
antigolpista: “O kirchnerismo lotou a Praça do Congresso para demonstrar apoio
à presidenta”.
Segundo a matéria, “o kirchnerismo conseguiu uma
maciça mobilização na tarde de domingo para acompanhar a presidenta Cristina
Kirchner em sua última abertura das sessões ordinárias do Congresso… A
mobilização teve início logo cedo. Muitas organizações kirchneristas e
sindicatos
já tinham se aglomerando diante do Congresso quando a presidenta
chegou ao meio-dia. Milhares de pessoas continuaram afluindo à praça pelas ruas
laterais quando o discurso da chefe de Estado já estava em curso”. Meio a
contragosto, a reportagem destaca a participação de várias entidades juvenis e
sindicatos de trabalhadores.
“Por meio de telões instalados na praça, a multidão
acompanhou o discurso presidencial. Após um longo relato das políticas de cada
área de governo, a primeira explosão de entusiasmo da multidão foi quando,
quase aos gritos (sic), Cristina Kirchner defendeu sua atuação em torno da
investigação do atentado contra a Amia [entidade judia que foi alvo de ataque
terrorista em 1992]”, relata a matéria.
A presidenta também lamentou a sinistra morte do
procurador Alberto Nisman, que apurava o caso, e tem sido utilizada como
pretexto pela feroz direita argentina para desestabilizar politicamente o país.
Já o jornal Página/12, menos venenoso, descreveu o ato
como uma prova de força do atual governo. “A chuva não assustou a multidão que
se concentrou diante do Congresso da Nação para acompanhar o discurso da
presidenta Cristina Kirchner. Com uma majoritária presença de juventude, que
marcou o tom da mobilização, colunas de La Cámpora, Kolina, Movimento Evita e
Unidos e Organizados se reuniram naquele espaço público com milhares de outros
manifestantes entre lemas como ‘Cristina somos todos’ e ‘Yankees nem se
atrevam’… Às organizações juvenis se somaram os trabalhadores de sindicatos”.
O massivo ato de domingo confirma que a situação no
país é polarizada e que nada está definido para a eleição presidencial do final
deste ano. Nas últimas semanas, a direita argentina estava na ofensiva,
aproveitando-se do cenário de dificuldades na economia e explorando
oportunisticamente o caso da suspeita morte do procurador Alberto Nisman.
Muitos analistas já davam como liquidada a disputa
sucessória, como retorno da direita ao poder. Agora, o jogo volta a ficar mais
equilibrado, com a presidenta Cristina Kirchner retomando a iniciativa política
e as organizações sociais ocupando seu papel na contenda.
A atitude combativa da presidenta argentina até
poderia inspirar Dilma Rousseff, que também é alvo da ofensiva golpista da
direita. Desde sua posse, a presidenta brasileira optou pelo silêncio diante
das constantes provocações. Ela chegou a pregar a “batalha da comunicação”, mas
se manteve distante dos movimentos sociais e das grandes polêmicas.
Apenas nos últimos dias ela se expos um pouco mais.
“Dilma apareceu mais do que nos 50 dias anteriores do ano”, reagiu a Folha tucana,
como se quisesse calar a mandatária reeleita pela maioria dos brasileiros.
Mesmo assim, sua postura ainda é tímida, acanhada.
Diante da onda golpista – seja no Brasil, na Argentina
ou na Venezuela –, é urgente retomar a iniciativa política. Como afirma o
internacionalista Max Altman, que conhece bem as tramoias da direita local e
alienígena na região, não basta o movimento social sair às ruas para denunciar
os golpistas. “Também é preciso que a própria Dilma se coloque à frente dessa
mobilização. É preciso fazer como Cristina Kirchner está fazendo. Defender
firme, corajosa e vibrantemente seu governo, seu programa de governo e o
projeto de nação em função do qual foi eleita recentemente pela maioria dos
brasileiros, em grande medida graças ao esforço incansável dos setores
populares e de esquerda organizados”.
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