20 março 2015, Carta Maior http://cartamaior.com.br (Brasil)
*Leonardo Boff
Juntos,
podemos ser mais fraternos e solidários, especialmente, com aqueles países que
mais lutam para superar a pobreza e a desigualdade.
Nos dias 12, 13 e 14 de março do corrente ano o
Ministério da Cultura da Argentina organizou um fórum internacional sobre
o tema Emancipação e Igualdade.
Estes dois temas estão intimamente ligados, pois quanto maior for
a igualdade social tanto mais se pode realizar a autonomia de um país.
Dada a profunda desigualdade que ainda vigora na América Latina, estas
duas realidades não encontraram até o momento uma forma satisfatória de concretização.
No Brasil se deram, nos últimos anos, passos importantes, pois passamos do
terceiro país mais desigual do mundo para o 15º. Mesmo assim persiste um
fosso considerável que estigmatiza nossa sociedade.
A este fórum acorreram pessoas de toda a América Latina e
algumas celebridades mundiais como Noam Chomsky dos EUA, Gianni Vattimo,
filósofo italiano, Ignacio Ramonet, do Le Monde Diplomatique, Jean-Luc
Mélenchon, da França, Marisa Matias, de Portugual, representantes da nova agremiação política
espanhola Podemos e um representante do novo governo da Grécia,
conturbada
por grave crise econômico-social e por fim estava presente também o bispo
Marcelo Sánchez Sorondo, chanceler da Pontifícia Academia de Ciências do
Vaticano, representando o Papa Francisco de Roma.
Da América Latina estavam representantes do pensamento progressista e
das novas democracias de base popular que vicejaram após as ditaduras
militares.
Do Brasil apontava Emir Sader e este que escreve estas linhas. Notável foi
a presença de Gabriela Montaño Viaña, presidente do Senado no governo de
Evo Morales Ayma. Testemunhou um fato inédito, de ressonância mundial:
mais de 50% do Parlamento boliviano é constituído por mulheres.
Seguramente darão um cunho singular à política, pois a forma de as
mulheres exercerem o poder vai na linha do cuidado da coisa pública
e de dar centralidade às questões que têm a ver com a vida em geral e com
a vida cotidiana das pessoas que mais devem lutar para atingir níveis
mínimos de participação e de dignidade social.
Cada representante relatava a situação das novas democracias, cuja
base social não repousa mais nas classes que detinham tradicionalmente o
poder, o ter, o saber e a comunicação social, mas na vasta rede de
movimentos sociais surgidos ao largo de toda a América Latina, seja como
resistência aos regimes autoritários dos militares, seja como caminhada
própria, levantando a bandeira de um novo tipo de democraia que vá além da
mera representanção e
delegação e que busca formas mais avançadas de participação, a partir
de baixo.
A reunião se deu no belíssimo teatro Cervantes no qual cabiam cerca de
500 pessoas. Mas como a concorrência, especialmente de jovens,
ultrapassava os espaços de teatro, dois grandes telões exteriores
permitiam que centenas pudessem acompanhar os debates internos.
Estes jovens criaram uma atmosfera de entusiasmo, o que revelou forte
conscientização política, no sentido de pensar o destino dos diferentes
países face aos desafios que nos vêm da globalização da macroeconomia
neoliberal, da rearticulação dos estratos mais conservadores da sociedade
que procuram voltar ao poder que pelas eleições perderam e da necessária
vontade política de projetar um projeto nacional de autonomia e de
superação das desigualdades sociais, mas sempre aberto à nova fase da
humanidade, a fase das comunicações globais.
Dois temas expressaram a convergência dos participantes: a
urgente solidariedade fraternal entre os vários povos e países. Sem
essa solidariedade, vinda de baixo, dificilmente se poderá fazer frente
às pressões do sistema econômico imperante, mais de cunho especulativo
que produtivo e dos grupos interessados em manter o status quo que
os beneficiava no passado e que retrocedeu, em parte, graças à presença
de novos sujeitos históricos, vindos dos movimentos sociais que sustentam
as novas democracias.
O segundo tema recorrente era o da Patria Grande, o sonho dos
libertadores Bolivar e San Martin, entre outros. Para nós brasileiros esse
ponto passa quase desapercebido. Mas para os demais latino-americanos
trata-se de um projeto nunca abandonado e sempre de novo ressuscitado por
diferentes líderes políticos de cariz libertário. É importante que o
Brasil se associe a este projeto que ganhou expressão pela Tele Sur, pela
ALBA e pelo Banco Sur.
Finalmente pertencemos à essa totalidade latinoamericana que deverá
se interconectar mais e mais para darmos um passo rumo a um Continente que
tem algo a contribuir no processo de planetização da humanidade. Somos,
como Continente, o mais galardoado em termos ecológicos e portador de uma
riqueza natural que faz falta à humanidade.
Cabe enfatizar o sentido ético e humanístico dado às reflexões políticas.
Como, juntos, podemos ser mais fraternos e solidários, especialmente, com
aqueles países que mais lutam para superar a pobreza e a desigualdade e por
fim mais cuidadores da riqueza natural e cultural que nos foi confiada.
*Leonardo Boff escreveu «Que Brasil queremos depois de 500 anos», Vozes
2000.
Estes dois temas estão intimamente ligados, pois quanto maior for a igualdade social tanto mais se pode realizar a autonomia de um país. Dada a profunda desigualdade que ainda vigora na América Latina, estas duas realidades não encontraram até o momento uma forma satisfatória de concretização. No Brasil se deram, nos últimos anos, passos importantes, pois passamos do terceiro país mais desigual do mundo para o 15º. Mesmo assim persiste um fosso considerável que estigmatiza nossa sociedade.
A este fórum acorreram pessoas de toda a América Latina e algumas celebridades mundiais como Noam Chomsky dos EUA, Gianni Vattimo, filósofo italiano, Ignacio Ramonet, do Le Monde Diplomatique, Jean-Luc Mélenchon, da França, Marisa Matias, de Portugual, representantes da nova agremiação política espanhola Podemos e um representante do novo governo da Grécia,
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