29 março 2015, União Nacional dos Estudantes (Brasil) http://www.une.org.br
(Brasil)
Ex-presidente da UNE e secundarista morto em manifestação
tornaram-se símbolo da luta pela redemocratização
Há exatamente 30 anos, em 1985, o Brasil encerrava oficialmente o
período da ditadura militar com a transferência do poder para o presidente
civil Tancredo Neves e a retomada das liberdades políticas. Era o fim de um
período obscuro e atrasado da história brasileira que perseguiu e atacou,
principalmente, a juventude.
Neste sábado, 28 de março, o movimento estudantil relembra dois
acontecimentos marcantes ligados àquela geração. Essa é a data de comemoração
do nascimento do universitário Honestino Guimarães – ex-presidente da UNE, perseguido
e assassinado pelo regime militar – e de lembrança da morte do secundarista Édson Luís, símbolo da resistência aos militares, baleado
em uma manifestação no Rio de Janeiro.
Honestino e Édson Luis são personagens permanentemente lembrados
pelos estudantes no país e suas mortes motivaram a luta que
cedeu espaço para a
redemocratização. São alguns entre os muitos que tiveram suas vidas
interrompidas pela repressão política daqueles tempos.
Para compreender as histórias e denunciar os abusos cometidos pelo
estado, a UNE criou em 2013 a sua Comissão da Verdade, cujos primeiros
relatórios serão apresentados ao público nos próximos dias, junto com o
lançamento do novo site da entidade.
Segundo a historiadora e pesquisadora da comissão, Raisa Marques, o
trabalho foi realizado em um momento de aprofundamento sobre a ditadura no
país: “A Comissão da Verdade da UNE foi criada no bojo de várias comissões,
entre elas a nacional, que foi uma reivindicação antiga dos parentes e da
sociedade, questionando o paradeiro dos desaparecidos. O intuito é apresentar a
trajetória desses militantes no movimento estudantil até o processo que
culminou no seu desaparecimento”, disse.
O trabalho reuniu a consulta a documentos, entrevistas, a busca de
relatos de parentes, outros militantes e informações de diversos órgãos. “É
preciso fazer um acerto de contas com o Estado brasileiro pelas perseguições e
violências cometidas nesse período”, afirmou a historiadora. Um dos principais
relatórios produzidos pela comissão e que será apresentado à sociedade é
justamente o de Honestino Guimarães.
Honestino Monteiro Guimarães nasceu em 28 de março de 1947 e deixou
de ser visto em 1973, aos 26 anos, quando era presidente da UNE e a ditadura
militar brasileira passava pelo seu período de maior radicalização. Foi natural
de Itaberaí, em Goiás, mas viveu grande parte da juventude na capital federal,
Brasília, onde foi aprovado no primeiro lugar do vestibular da UnB para o curso
de geologia, e onde tornou-se um dos principais líderes do movimento estudantil
nacional. Era descrito pelos colegas como generoso, hábil, inteligente e
preocupado com o humanismo. Sua bravura em manter a UNE de pé ainda que na
clandestinidade transformou-o num símbolo permanente para a juventude
brasileira.
Morto em 28 de março de 1968, aos 17 anos, com um tiro de um
soldado à queima roupa, Édson Luis de Lima Souto é um dos nomes mais conhecidos
da história sobre a ditadura militar. Alvejado enquanto participava de um
protesto no Rio de Janeiro contra o fechamento de um restaurante popular, o
jovem paraense transformou-se em mártir e inspirou grandes movimentos de oposição
ao regime, entre eles a Passeata dos Cem Mil, com artistas, estudantes,
intelectuais e diversas personalidades contrárias à repressão, no mesmo ano.
Édson Luis foi velado pelos próprios colegas do movimento estudantil e seu
corpo foi conduzido pelas ruas do Rio sob os gritos de: “mataram um estudante,
poderia ser seu filho”.
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