19 março 2015, Pátria
Latina http://www.patrialatina.com.br (Brasil)
por José Goulão, Jornalista
Cartoon de Fernando Llera.
Depois de ter herdado, de início com algum pudor e sob outras
designações, a guerra contra o terrorismo inventada pelo seu antecessor, Barack
Obama não se limita a igualar George W. Bush no recurso a práticas terroristas
como, em alguns casos – e não apenas o do record mundial de execuções extra judiciais
cometidas com drones – consegue ultrapassá-lo.
A situação mais flagrante, e que contribuiu para demonstrar como os
Estados Unidos são governados por um partido único, porque em matéria de
violações dos direitos humanos não há quem consiga distinguir um democrata de
um republicano, é a da proliferação de ameaças, tentativas e execuções de
golpes de Estado.
No reinado de Obama a série faz corar de inveja alguns dos mais
empedernidos falcões que
passaram pela Casa Branca: Honduras, Paraguai,
Ucrânia, Macedónia, Egito, Qatar, Síria, Líbia, Iraque, Mali, República Centro
Africana e, como não podia deixar de ser, Venezuela.
O assunto venezuelano poderá ter passado quase despercebido. Foi
escondido para com isso se tentar abadar o fracasso da intentona, ou então
explicado ao contrário através dos mecanismos censórios doutrinários que
caricaturam o papel da comunicação social.
O golpe esteve marcado para 12 de Fevereiro, tentando reeditar a
tragédia chilena de 1973, mas as autoridades venezuelanas anteciparam-se e
puseram a nu um contexto através do qual se prova que em Washington não se olha
a princípios nem a meios para alcançar os fins pretendidos, sempre
apresentados, como é de bom-tom, como a instauração da democracia onde
supostamente ela não existe.
Nesse dia 12 de Fevereiro, no quadro da chamada "Operação
Jericó", um bombardeiro Tucano ENB 312, já anteriormente envolvido num
atentado contra dirigentes das FARC colombianas, deveria ter bombardeado o
palácio presidencial de Caracas, a Assembleia Nacional, instalações da ALBA e a
televisão TeleSur para instaurar um "governo de transição" a entregar
a reconhecidos fascistas como António Ledezma, significativamente conhecido
como "o vampiro", Maria Corina Machado e Leopoldo Lopez. O avião,
pintado com as cores da aviação venezuelana, pertence a um bando de mercenários
integrado na máfia mundial dos exércitos privados e empresas de segurança que
dá pelo nome de Academi e outrora se chamou Blackwater – de que todos já
ouviram falar como um dos mais ativos braços terroristas na invasão do Iraque.
Empresa onde pontificam um ex-patrão da NSA (Agência Nacional de Segurança) e o
ex-procurador geral da Administração Bush.
A trama da intentona conduz ao quartel-general de operações em
Bogotá e ao comandante da operação, Ricardo Zuñiga, assessor de Barack Obama
para a América Latina e também, porque quem sai aos seus não degenera, neto do
presidente do Partido Nacional das Honduras que organizou os golpes fascistas
de 1963 e 1972. Acresce que Washington recorreu a outsorcing para montar a
operação, atribuindo ao Canadá a gestão dos aeroportos civis a utilizar, ao
Reino Unido a propaganda e ao Mossad israelita as eliminações físicas
consideradas necessárias. Ledezma, o "vampiro", viajara recentemente
a Israel, onde foi recebido afetuosamente por Netanyahu, Lieberman &
Cia.
Como o golpe falhou e foi desmascarado, em 9 de Março Barack Obama
acionou o estatuto que lhe permite declarar a Venezuela "uma ameaça contra
a segurança nacional" dos Estados Unidos, previsto para os casos em que
exista "uma extraordinária e invulgar ameaça à segurança nacional e à
política externa, situação que deve ser tratada como uma emergência
nacional". Isto é, Barack Obama instaurou a estratégia terrorista de golpe
de Estado permanente contra a Venezuela, alegando a corrupção dos dirigentes de
Caracas e a violação dos preceitos democráticos.
Ironia do destino, um dos escolhidos para o tal "governo de
transição", o supracitado "vampiro" Ledezma, em tempos autor do
"Caracazo", massacre de centenas de estudantes que protestavam contra
a austeridade, é o governador da região de Caracas, eleito através dos
mecanismos de um regime que ele próprio e os seus tutores não consideram
democrático.
Eis como Obama em nada se distingue dos mais tenebrosos falcões que
passaram pela Casa Branca. Anote-se, por ser verdade, que na Venezuela, na
Ucrânia, na Macedónia e onde quer que tal lhe convenha, o presidente dos
Estados Unidos não tem qualquer pudor em recorrer a dirigentes e grupos de
assalto nazi-fascistas desde que seja, ele o diz, para instaurar a democracia.
O original encontra-se em
jardimdasdelicias.blogs.sapo.pt/a-veia-terrorista-de-barack-obama-748181
Este artigo encontra-se em http://resistir.info/
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