11 março 2015, Redecastorphoto http://redecastorphoto.blogspot.com (Brasil)
9/3/2015,
Tyler Durden*, Zero Hedge
Traduzido pelo pessoal da Vila
Vudu
Uma das ameaças recorrentemente
repetidas pelas nações do ocidente em sua guerra (cada dia menos fria) contra a
Rússia, é que o regime de Putin pode ser paralisado se for desligado de todas
as transações monetárias internacionais e serviços prestados pelo serviço de
distribuição de mensagens-moeda e câmbio que tem base na União Europeia
conhecido como SWIFT [1] (desligamento que, vale relembrar, a
SWIFT lamentou, como se revelou em outubro, quando foi noticiado que a
organização “lamenta a pressão” para desconectar a Rússia).
Claro, depois que se soube, revelado
em 2013, que ninguém menos que a Agência de Segurança Nacional dos EUA “monitora” secretamente os fluxos de pagamento feitos
pela SWIFT, já ninguém pode ter certeza de que “ser desligado” da SWIFT seria
castigo ou prêmio. Seja como for, a Rússia não precisou de muitos avisos, e,
como noticiamos há menos de um mês, o país já lançou sua própria
“SWIFT-alternativa”, conectando, para começar, 91 instituições de crédito.
Essa notícia, por sua vez, sugeriu
que a des-dolarização está muito mais avançada do que muitos esperavam, o que, combinado
com a venda recorde, pela Rússia de TSYs, mostra
o quanto Putin está levando a sério a ameaça de ser isolado do sistema
ocidental de pagamentos. Seria perfeitamente lógico e esperável que, sem
tardar, Putin
apareceria com seu próprio sistema.
Há duas implicações bem claras desse
uso do dinheiro como meio para fazer guerra clandestina:
(I) a menos que outros países
acompanhem a saída da Rússia da SWIFT, a ação de criar mecanismo alternativo
será honrada e valente, mas dará em nada; afinal, se todo o resto do mundo continuar
a usar o sistema SWIFT como padrão, nenhum sistema alternativo que a Rússia
invente para processar pagamentos estrangeiros terá qualquer importância; e
(II) se o exemplo da Rússia, de sair
de um sistema mediado pelo ocidente para pagamentos internacionais for
bem-sucedido e copiado, o movimento russo acelerará o esvaziamento do status do
dólar como moeda de reserva – que o dólar é, por definição, porque não há outra
moeda de reserva. Se aparecerem alternativas, todo o sistema de reserva começa
a ruir.
Hoje já há provas de que a
implicação (II) muito provavelmente prevalecerá, depois
de matéria distribuída pela Reuters, de Pequim que dá notícia de
que o sistema de pagamentos internacional da China, conhecido bem simplesmente
como China International Payment System (CIPS), que processa
transações em Yuan transfronteiras, está pronto e pode entrar em plena operação
já em setembro ou outubro.
Segundo a Reuters, o lançamento do CIPS removerá uma
das maiores barreiras à internacionalização do Yuan e deve aumentar muito o uso
global da moeda chinesa, fazendo baixar os custos de transação e os tempos de
processamento.
O sistema porá o Yuan em pés de
melhor igualdade com outras grandes moedas globais como o dólar
norte-americano, uma vez que a CIPS usará o mesmo formato de messaging de outros sistemas internacionais de pagamentos,
tornando mais fáceis e rápidas as transações.
O CIPS, que será uma supertrilha
mundial para pagamentos para o Yuan, substituirá a colcha de retalhos de redes
hoje existente, que torna muito pesado e difícil o processamento de pagamentos
com renminbi.
Em outras palavras: enquanto o
ocidente usa cada provocação que envolva a guerra civil na Ucrânia como
oportunidade para pressionar a Rússia a criar seu próprio sistema de pagamento
transfronteiras, ele já conseguiu não só que a Rússia faça precisamente isso,
mas, mais que isso, o ocidente também empurrou a China para que acelerasse o
serviço de criar e implantar seu próprio sistema para pagamentos
internacionais. Nesse processo, Rússia e China aproveitam para “avisar” ao
planeta que o dólar norte-americano é substituível como moeda de reserva.
Assim, dão a outros países (aos BRICS, por exemplo), luz verde para pensarem na
SWIFT apenas como alternativa, depois dos sistemas de pagamento (a) russo
e (b) chinês, coisa
que, com o estímulo político e financeiro adequado, aqueles países gostarão
muito, muito, de fazer).
Mas o mais perturbador é o quão
rapidamente está chegando a mudança de regime operada pelos chineses:
“Tudo saindo conforme o previsto,
[o lançamento] acontecerá em setembro ou outubro. Se for preciso tempo um pouco
mais longo, mesmo assim ainda esperamos que tudo estará em operação antes do
final do ano”, disse a fonte, que pediu para não ser identificada porque não
tem autorização para falar com a imprensa-empresa.
Esperava-se que o sistema tivesse
sido lançado em 2014, mas o lançamento foi adiado por problemas técnicos, com
muitos participantes do mercado já prevendo que não entraria em operação antes
de 2016.
Desnecessário dizer o quanto a China
gostará de ter seu próprio sistema unificado de pagamentos, o sistema que
internacionalizará ainda mais o renminbi, moeda a qual, em novembro de 2014, já
se convertera em uma das cinco principais moedas de pagamento, deslocando os
dólares canadense e australiano, segundo dados da SWIFT.
Até agora, o câmbio transfronteira
de Yuan tinha de ser feito ou num dos bancos “offshore” de compensação de Yuan
em Hong Kong, Cingapura e Londres, ou com a ajuda de um banco intermediário em
território da China.
“Com muita frequência ocorrem erros
sob o atual sistema de compensações, por causa de diferenças de linguagens e de
codificação. O CIPS é uma abertura importante, porque oferecerá
plataforma comum e aumentará a eficiência”, disse Raymond Yeung, analista
da ANZ em Hong Kong.
O lançamento do CIPS permitirá que
empresas fora da China façam negócios em Yuan diretamente com seus contrapartes
chineses, reduzindo o número de etapas pelos quais tinha de passar cada
pagamento.
Também tornará muito mais difícil
para a Agência de Segurança Nacional dos EUA “rastrear” pagamentos que entram e
saem da China, do que hoje, quando se usam intermediários cheios de furos, como
a SWIFT.
Eis como o Mercator Institute for China Studies antecipou
esse grande desenvolvimento:
O governo chinês caminha a passos
largos para uma internacionalização controlada da moeda chinesa, mediante uma
expansão passo a passo do uso do RMB no comércio internacional e investimento
chineses. Para tal finalidade, foi construída uma rede mundial de acordos
relacionados a swaps de
moeda do Banco Central, câmbio direto do RMB com outras moedas e câmaras de
compensação em RMB.
O
estabelecimento de um sistema independente de pagamentos (CIPS) para transações
em RMB e sistema alternativo ao existente, SWIFT, com certeza ampliará a
autonomia da China em relação a estruturas do mercado financeiro centradas nos
EUA.
Tabela de "Serviços ocidentais"que serão substituídos por
Rússia/China/BRICS
(clique na imagem para aumentar)
Por fim, a maior facilidade nas
transações em termos não-US$ acelerará a adoção do Yuan chinês como moeda
primária do comércio global, ou do pouco que reste dele, oposta à moeda da
engenharia financeira.
Os pagamentos em Yuan globais
aumentaram 20,3% em valor, em dezembro, na comparação com o mesmo período do
ano passado; e o crescimento para pagamentos em todas as demais moedas foi de
14,9% no mesmo período – informou a SWIFT.
China acelerou o passo da
internacionalização do Yuan em anos recentes. O banco central credenciou 10
bancos para compensação oficial do Yuan ano passado, elevando o número total
para 14 bancos, globalmente, que podem realizar transações em Yuan com a China.
A última observação a registrar aqui
é que, se o objetivo planejado na brilhante operação urdida pelo governo Obama
para expulsar a Rússia – e, por filiação geopolítica, também a China – para bem
longe de um mecanismo de transação monetária que os EUA controlavam e
supervisionavam; e para obrigar os dois mais fortes concorrentes que se opõem
aos EUA na disputa pela hegemonia global a construírem, eles mesmos, o seu
(deles!) próprio sistema de pagamentos... nesse caso... PARABÉNS! O “operação”
deu certo!
Nota dos tradutores
[1] Fundada
em Bruxelas em 1973, a Sociedade para Telecomunicações Mundiais
Interbancárias e Financeiras (Society for the Worldwide
Interbank Financial Telecommunication –
SWIFT) é uma organização cooperativa dedicada a promover o
desenvolvimento de interatividade global padronizada para transações
financeiras. Originalmente, a SWIFT tinha a seu cargo estabelecer um link de
comunicações globais para processamento de dados e uma linguagem computacional
comum para transações financeiras internacionais. A sociedade opera um serviço
de messaging para mensagens financeiras, como cartas
de crédito, pagamentos, transações protegidas, entre bancos membros em todo o
mundo. A função essencial da SWIFT é distribuir essas mensagens de forma rápida
e segura, duas exigências básicas em transações de natureza financeira.
Organizações membros criam mensagens formatadas que são passadas adiante para a
SWIFT para serem entregues à organização membro destinatária. A SWIFT opera em
escritórios instalados em Bruxelas, e processa dados de centros de dados
instalados na Bélgica e nos EUA.
Serviços prestados e clientes SWIFT
*Tyler Durden é o apelido de numerosos blogueiros que
comentam no Zero Hedge. O nome foi copiado de personagem do romance de
Chuck Palahniuk (depois filme) Fight
Club (Clube de Luta).
Nenhum comentário:
Postar um comentário