Amanda Cieglinski, enviada Especial
8 agosto 2008/Agência Brasil http://www.agenciabrasil.gov.br/
São Borja (RS) - No Sul do país, na fronteira com a Argentina, a educação é a ferramenta utilizada para romper barreiras e promover a integração. Cerca de 850 alunos brasileiros em cinco municípios que fazem fronteira com cidades do país vizinho participam do projeto Escolas Bilíngues de Fronteira, um acordo bilateral entre os ministérios da Educação dos dois países. Desde 2004, as professoras argentinas trocam de lugar com as brasileiras, uma vez por semana, para ensinar às crianças de cada país o espanhol e o português.
No município gaúcho de São Borja, que faz fronteira com a cidade argentina de Santo Tomé, província de Corrientes, duas escolas participam do intercâmbio desde 2005. Todas as terças-feiras, dez professoras trocam de lugar com as “maestras” argentinas, atravessando a ponte que passa pelo Rio Uruguai e separa os dois países.
Tanto do lado do Brasil como da Argentina, o início do projeto foi um desafio para as professoras. “Era difícil. Eu não entendia nada do que eles [argentinos] estavam falando e eles também não nos compreendiam, foi difícil a conquista”, conta a brasileira Marla Borowski, professora que faz parte do projeto.A coordenadora da Escola Municipal Aparício Mariense, de São Borja, conta que os alunos argentinos têm mais intimidade com o português do que as crianças brasileiras com o espanhol. “Eles assistem muito as novelas brasileiras e ouvem a música no rádio, por isso conhecem a língua”, explica Heloísa Oliveira. “O professor que trabalha em sala de aula precisa ser esforçado e criativo. É uma língua diferente e os alunos também são diferentes”, aponta.
Mais do que a língua, as diferenças culturais também são entraves. Acostumadas a receberem beijos e abraços de seus alunos a cada manhã, as professoras do Brasil estranharam a distância inicial nas salas de aula argentinas. E as professoras argentinas dizem que aprenderam a se relacionar de outra maneira com as crianças. “Nós nos sentimos muito bem aqui [no Brasil], as crianças são ótimas e muito carinhosas, coisa que lá na Argentina nos custa um pouco mais. Os alunos brasileiros nos ensinaram a ser carinhosas”, relata a professora argentina Claudia Estivalleti.
Brincadeiras e cantigas de roda são algumas das estratégias utilizadas pelas professoras para o ensino da língua no outro lado da fronteira. As datas comemorativas também servem de apoio ao intercâmbio cultural. Neste mês, em que se comemora o Dia do Folclore no Brasil, os alunos argentinos vão aprender mais sobre as lendas brasileiras. Na Escuela 554 Josefa Fernandez Dos Santos, em Santo Tomé, as crianças tiveram uma aula sobre o mito do Saci Pererê. Enquanto isso, as professoras argentinas vão promover nas escolas de São Borja, a Fiesta dos Ninõs, o Dia das Crianças, que é comemorado em agosto naquele país.
“Parece que é só um rio que nos separa, mas é muito mais do que isso. A gente está levando as coisas daqui para lá e aprendendo muito com eles também”, defende a professora brasileira Ondina Silva.
Para Lílian Arego, assessora pedagógica do projeto no lado argentino, as escolas participantes estão construindo um novo modelo educacional voltado para a interculturalidade. “Estamos formando um novo sujeito da educação, não para um lugar determinado como estamos acostumados a trabalhar, mas um sujeito histórico próprio de uma região, que se apropria de saber interculturais com a perspectiva de ser um futuro cidadão do mundo”, avalia.
Os resultados podem ser medidos pela opinião das crianças que aguardam ansiosas pela terça-feira, o dia da troca. Milena Guedes, 9 anos, participa do projeto desde a 1ª série do ensino fundamental. Hoje, fala orgulhosa o nome dos dias da semana em espanhol e canta as cantigas de roda argentinas. A mesma opinião tem a pequena argentina Maria dos Angeles Silva, aluna da 3ª séria da Escuela 554, em Santo Tomé. “Quando elas [professoras brasileiras] vêm é muito legal. Nós nos divertimos, fazemos desenhos e muitas outras coisas”, conta.
Apesar dos estranhamentos iniciais e da batalha diária para vencer barreiras culturais e lingüísticas, a professora Marla afirma que a oportunidade de participar desse projeto é gratificante. “Quando vieram apresentar o projeto, nós abraçamos a idéia. Sempre disse que estamos fazendo parte da história”, acredita. Além de São Borja, o projeto é realizado em Itaqui (RS), Uruguaiana (RS), Foz do Iguaçu (SC) e Dionísio Cerqueira (SC), totalizando oito escolas do lado brasileiro.
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