Vermelho/2 outubro 2007-10-02
Em um muro próximo ao Palácio de Carondelet, sede do Executivo equatoriano, podia-se ler há alguns dias: "Está chegando o 'correaço' final". Na segunda-feira haviam acrescentado outra frase: "Já chegou". Correa não pode estar mais exultante. O controle da Assembléia que redigirá uma nova Constituição era o que lhe faltava para dar o pontapé final em seu projeto de "refundar" o Equador. Em um ano, desde que ganhou a presidência em novembro de 2006, Correa conseguiu o apoio popular para fazer uma nova lei fundamental e agora não só a tem, como também a fará na sua medida. Quer um Estado forte e com uma grande presença na economia. "Ganhamos a mãe de todas as batalhas", afirmou o presidente.
Assim que soube da vitória, Correa mostrou-se disposto a dialogar com outras forças políticas, com os empresários e com todos os setores que pretende atrair. Mas nega-se a conversar com os outros dois partidos mais votados no domingo: o Prian, do magnata das bananas e ex-candidato presidencial Álvaro Noboa, e a Sociedade Patriótica, do ex-presidente golpista e destituído Lucio Gutiérrez. "Só vou dialogar com aqueles interessados no bem-estar da população, no progresso da pátria. Para que vou falar com Gutiérrez, alguém que só pensa em defender seus interesses? Com Noboa, para que, se ele se diz um grande empresário e não paga impostos ao Estado porque diz que suas empresas não obtêm lucros suficientes?", disse Correa.
Tanto nas comemorações de domingo como na segunda-feira o presidente insistiu na idéia de afastar dois dos maiores temores de muitos equatorianos, inclusive daqueles que votaram em seu projeto: a influência do chavismo venezuelano e seu caráter autoritário. "Chega de tentar satanizar [este governo], chega de tentar imobilizar o país por meio do medo. Aqui ninguém quer projetos totalitários, muito menos projetos estrangeiros", declarou Correa em seu discurso de vitória.
Além disso, nesta segunda-feira, diante da mídia estrangeira, ele se estendeu sobre como será sua política em relação às empresas estrangeiras, especialmente as do setor energético. Disse que "absolutamente" não é contra o investimento estrangeiro em seu país. "A única condição é que seja respeitada a Constituição vigente, que diz que os recursos do subsolo são do Estado, entre eles o petróleo e as minas. Aqui não é preciso nacionalizar como na Bolívia; aqui os recursos já são públicos."
"Os contratos de petróleo estão sendo revisados, alguns são muito prejudiciais para o Estado", explicou. "Mas a negociação é amigável. Já estamos conversando com quatro petroleiras, não lembro se entre elas está a Repsol. Elas sabem perfeitamente os ganhos extraordinários que estão obtendo com um recurso que é do Estado", acrescentou. E, falando concretamente das empresas espanholas, Correa disse que são "das boas".
"Com a Telefónica será preciso negociar as concessões de telefonia celular. ... Quero lhes dizer sinceramente que a Movistar foi muito mais cumpridora do que a outra grande transnacional que temos aqui. A Movistar tem um terço de um mercado dominado pela companhia Porta e paga três vezes mais impostos", explicou.
Correa salientou que seu governo é "pragmático", que há "dez economistas no gabinete" que sabem o que fazem. "O investimento estrangeiro é bem-vindo, com todo o entusiasmo. Aquele que cumpre com seus trabalhadores, com seus clientes, com o Estado, pagando impostos, com o meio ambiente. Mas o investimento estrangeiro que ainda nos considera uma colônia, que infringe os princípios legais, não é bem-vindo e terá uma resposta clara de um país soberano e de um governo soberano", enfatizou. Correa também disse que abrirá o setor bancário ao investimento estrangeiro. "Há setores que precisam de proteção, como o agrícola, e outros que se devem abrir à concorrência, como os bancos", disse. (Fonte: El País)
http://www.vermelho.org.br/base.asp?texto=26046
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