Timor Online, 9 Agosto 2007
A FRETILIN rejeita fortemente o relato parcial e inadequado no artigo de 9 de Agosto de 2007 de Greg Sheridan "A Fretilin é ainda estranha à democracia".
Caro Editor
De acordo com a interpretação da Constituição de Timor-leste pela Fretilin e por muitos peritos constitucionais, o Presidente podia escolher ou o partido político ou a coligação pré-eleitoral formada por coligação de partidos, com mais votos para formar o governo. O Presidente Ramos-Horta acreditou contudo, que podia escolher uma coligação pós-eleitoral formada por partidos que sozinhos não podiam, mas que por juntarem os seus vários lugares, podiam formar uma aliança solta no parlamento nacional. A Fretilin acredita que a interpretação do Presidente é inconstitucional, e por isso que o governo liderado por Xanana Gusmão é ilegítimo.
Através de uma séria de conferências de imprensa e de entrevistas a liderança da Fretilin tem explicado porque é que pensa que é inconstitucional a decisão do Presidente. A liderança da Fretilin tem enfatizado que usará de meios legais para contestar esta inconstitucionalidade. Até agora, estes meios legais apenas envolveram uma suspensão temporária do mandato dos membros da Fretilin do parlamento.
Em altura alguma a liderança da Fretilin perdoou a violência ou encorajou os seus apoiantes para se engajarem em protestos violentos. Na realidade, a liderança da Fretilin expressou a sua consternação com a destruição que se seguiu ao anúncio desta decisão do Presidente e com a incapacidade da polícia da ONU e da ISF liderada pelos Australianos para conter a violência.
Apesar de alguns desses perpetradores de violência poderem ser simpatizantes da Fretilin, outros podem ser alguns dos mais de 75 por cento dos eleitores que votaram contra Xanana Gusmão nas eleições legislativas e que não querem que ele governe o país.
Xanana Gusmão pode ser ainda uma figura popular na Austrália, mas em Timor-Leste é considerado bastante divisionista e é em parte culpado por ter causado a crise em 2006, e por incitar as tensões étnicas em curso que daí resultaram.
Por esta razão eu e muitos Timorenses objectamos fortemente a retórica inflamatória usada por Greg Sheridan no seu artigo. Comparar a Fretilin com o Hamas "a Fretilin está portanto a enfrentar um momento como o do Hamas. Tem de decidir se é essencialmente uma milícia armada ou um partido político respeitável” põe em foco a ignorância do editor do estrangeiro do The Australian e suja a reputação do que costumava ser uma publicação respeitável.
Sinto que é necessário chamar a atenção para as incorrecções que infestam a reportagem, que apenas ilustram a sua total falta se conhecimento suficiente de Timor-Leste para o qualificar para dar qualquer contribuição significativa ou correcta para este debate. Timor-Leste na verdade enfrenta sérios problemas institucionais e saúda o apoio para construir e reforçar as suas instituições para não ter de enfrentar os problemas com que lida presentemente.
Contudo, Timor-Leste não é um "projecto Australiano", e nem sequer precisa das expressões longas "dar-as-mãos-pelos-Australianos" do tipo defendido por Greg Sheridan, especialmente quando esse dar-a-mão significa o envolvimento Australiano num golpe para derrubar um governo democraticamente eleito conforme ocorreu no ano passado. Isto claramente não teve qualquer sucesso nem na PNG nem nas Ilhas do Pacífico, e não resultará em Timor-Leste porque é enormemente diferente desses lugares de falhada assistência internacional pela Austrália durante décadas.
José Teixeira
Deputado da FRETILIN
Antigo Ministro dos Recursos Naturais e da Energia e chefe da equipa negociadora do Governo de Timor-Leste para o tratado CMATS entre a Austrália e Timor-Leste
Dili, Timor-Leste
Nenhum comentário:
Postar um comentário