Pátria Latina, 10 junho 2016, http://www.patrialatina.com.br
(Brasil)
Prof. John McMurtry,
Global Research, Canadá
A primeira reflexão começou como uma carta
a um importante veículo da mídia-empresa internacional que frequentemente
publica o que escrevo. Mas os golpes orquestrados pelos EUA para derrubar
governos em toda a América Latina são indizíveis na mídia-empresa universal.
Nenhuma comunicação se publica que ligue os pontos na ação comandada pelos EUA
para destruir partidos políticos e quaisquer alternativas democráticas. É assim
que se exerce o poder do sistema devorador de vidas, que consegue prosseguir na
obra de depredação do mundo, agora dedicado a depredar estados
latino-americanos cujas eleições aquele sistema não tenha conseguido controlar.
No artigo de primeira página do Guardian Weekly “Venezuelans angry for reform” (27/5-2/6), a palavra “reforma” só aparece na manchete. Entrevistam-se pessoas que querem “comida” e “bens básicos” numa dita “sociedade socialista” – conversa muito nossa conhecida de tempos passados. Da crise, só falam os que falam contra subsídios e compradores consumistas frustrados.
No artigo de primeira página do Guardian Weekly “Venezuelans angry for reform” (27/5-2/6), a palavra “reforma” só aparece na manchete. Entrevistam-se pessoas que querem “comida” e “bens básicos” numa dita “sociedade socialista” – conversa muito nossa conhecida de tempos passados. Da crise, só falam os que falam contra subsídios e compradores consumistas frustrados.
A campanha geral, em
todos os fronts, apoiada pela oligarquia norte-americana, mídia-empresas e
gangues de bandidos que operam para manter artificialmente baixo o preço do
petróleo por orientação de Wall-Street, é como se não existisse. A mesma lógica
privada que se vê na
cobertura pelos veículos da mídia-empresa governa a versão
oficial de todos os golpes que devoram a América Latina contra o que os
cidadãos tenham decidido em eleições, do Brasil a Honduras.
Na sequência, depois do
artigo que trata da Venezuela, lê-se então o que realmente significa a palavra
“reforma”: [Políticas sociais reduzidas no Brasil (orig. “Social
policies scaled back in Brazil”]. Reformar significa, nesse idioma “cortar gastos
previstos para atendimento público à saúde”, “limitar o sistema de alívio às
famílias mais pobres” e outras ‘reformas’ desse tipo, que só fazem privar os
cidadãos mais pobres e a sociedade em geral de alguns bens da vida coletiva que
representantes de projetos de atendimento à sociedade são eleitos para prover.
Venezuela e Brasil não
estão sozinhos como alvos desse movimento de proporções continentais de
atentado às infraestruturas da soberania e da vida pública democráticas.
Programas sociais que prosperavam em toda a América Latina estão sendo
desmontados, descartando-se as conquistas de mais de 15 anos de eleições justas
e desenvolvimentos com vistas ao capital humano e vital.
Correspondente avanço
financeiro-facistizante usurpou os estados sociais da Grécia e da Ucrânia, para
drenar completamente todos os sistemas de apoio à sociedade e arrancar do
próprio povo compensações pelo colapso do sistema de bancos privados. Aqui
também desestabilizações e golpes para impor governos sem qualquer legitimidade
eleitoral são o modus operandi.
Todas as sociedades
estão, de fato, sendo ‘re-setadas’ e devolvidas aos procedimentos de predação
financeira da saúde pública, a derradeira carnificina que nenhum veículo, nem
da mídia estatal nem da mídia empresa noticia, e que nenhuma eleição jamais
legitimou. Esconder o vasto assalto a conquistas dos povos, por trás de vastas
mentiras, eis a moral da história de um lado e de outro dos oceanos.
Liquidar serviços
públicos e vida social pública, para garantir ganhos financeiros aos mais ricos
é a verdade sempre ativa e sempre ocultada de todos os golpes. Venezuela já é
alvo de ataques desse tipo desde antes de 1999. Governos progressistas eleitos
em Honduras e no Paraguai também foram derrubados por golpes de direita
aprovados pelos EUA. O governo da Argentina foi financeiramente estrangulado e
assaltado pela histeria dos jornais e jornalistas e por cortes judiciais que
apoiavam os fundos abutres.
O governo eleito do
Brasil foi derrubado por políticos gângsteres que escapam de serem julgados e
condenados por roubo contra o estado, e que se lançam em golpe contra a
presidenta eleita democraticamente com 54 milhões de votos – e contra a qual
não há nenhuma acusação. Equador e Bolívia entraram agora também na linha de
tiro.
Em todos esses casos, a
estratégia transnacional é ataque massivo e incansável por jornais e redes de
TV e jornalistas, e acusações incansáveis, sem sentenças e sem provas, contra
políticos eleitos –, para reverter os avanços sociais, depois de esses projetos
regressistas e de direita terem sido derrotados nas urnas, vezes sem conta.
Mas os elos
explicativos jamais chegam às conversas de rua. Governos eleitos são acusados,
e as privações crescentes que sorem os mais pobres são desconectadas de suas
causas reais: assim trabalham as forças do “partido dinheiro”. Essas mesmas
forças têm raízes nos esquadrões da morte de ditaduras passadas, sempre
excluídos das narrativas oficiais, dentro e fora das sociedades vítimas.
Mesmo depois que até o FMI admite que
seus ‘programas de austeridade’ falharam, prosseguem a propaganda dita ‘jornalística’ e a
destruição das estruturas da sociedade. Assim, as políticas e os governos mais
avançados eleitos na América Latina desde as ditaduras que assassinaram em
massa nos golpes liderados pelos EUA nos anos 1950 estão sendo hoje revertidas,
mediante operações mantidas secretas, longe dos olhos e ouvidos dos cidadãos
eleitores. As manchetes ditas ‘jornalísticas’ são construídas para nos induzir
ao erro de crer que os eleitores por alguma razão apoiariam o assalto contra
seus estados sociais eleitos. O assalto-golpe, assim como o noticiário, são
apoiados por esquemas financeiros amplos, de sabotagem contra a sociedade e as
eleições, e em todos os casos apoiados por Washington e Wall Street.
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