31 maio 2016, Carta Capital http://www.cartacapital.com.br
(Brasil)
De Nova York
Manifestações contrárias ao ex-presidente FHC (Fernando Hnrique Cardoso) e ao interino Michel Temer
marcaram edição que discutiu possível ruptura política na América Latina
Bresser-Pereira: "É mentira dizer que
garantias sociais
estabelecidas pela Constituição não cabem no PIB”
Golpe jurídico-parlamentar. Luta de classes às
avessas. Déficit humanitário em relação ao mundo real.
Os cerca de 200
pesquisadores reunidos em Manhattan no trigésimo-quarto congresso da LASA (a
sigla em inglês para a Associação de
Pesquisadores e Estudiosos da América Latina e Caribe, a mais importante organização do gênero), que
termina nesta terça-feira 31, condenaram o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff e, aplaudiram, preocupados, o sociológico Adalberto
Cardoso, diretor do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do
Estado do Rio de Janeiro (IESP-UERJ), o ex-ministro Luiz Carlos Bresser-Perira,
da FGV, e a historiadora e cientista política Helcimara de Souza Telles (UFMG)
afirmarem que a ruptura política e social no Brasil pode
se estender para
outros países da região.
Os três foram as
atrações do painel mais disputado do evento na segunda-feira, intitulado Diálogo
em Torno da Crise Brasileira, que contou com mediação do
historiador Alexandre Fortes, da UFRRJ e entrou no programa do evento na semana
passada, depois de a executiva-geral da LASA ter aprovado moção condenando o
processo de impeachment da presidenta Dilma.
A moção será votada por
todos os membros do congresso, formado por pesquisadores oriundos dos quatro
cantos do planeta, especializados em estudos relacionados à América Latina e ao
Caribe, e será aprovado se contar com pelos menos 2/3 dos votos.
“A indignação dos
intelectuais nos EUA e na América Latina com o que aconteceu no Brasil é
enorme. As consequências são gravíssimas, foi uma violência contra a democracia
e também contra os avanços sociais no país. A partir da ideia de se combater a
crise fiscal no Brasil com austeridade, o que se quer é o desmantelamento do
Estado de Bem-Estar social brasileiro, criado a duras penas. É uma mentira
dizer que as garantias sociais estabelecidas pela Constituição de 1988 não cabem em nosso PIB”, disse Bresser-Pereira.
O evento terminou com
gritos de “Fora, Temer!” e com manifestações contrárias ao ex-presidente
Fernando Henrique Cardoso, uma das atrações anunciadas pelo congresso, que
marca meio século da LASA.
Depois que um grupo
significativo de acadêmicos demonstrou não concordar com a presença de FHC em
um dos painéis, justamente por seu apoio ao afastamento da presidenta eleita, o
‘príncipe da sociologia brasileira’ decidiu não comparecer ao encontro.
“Foi uma covardia
explícita. E mais do que isso, uma arrogância que expressa bem o que a elite
brasileira pensa: não há o que se debater com esta gentalha que quer tratar a
questão da democracia brasileira em um fórum mundial e de alto nível como a
LASA. Trata-se de um senhor que já abandonou a reflexão intelectual ampla e
crítica há muito tempo”, disse a professora da UFRJ Maria Luiza Franco Busse.
Bresser-Pereira fez um
paralelo entre o cenário político no Brasil e os EUA dos anos Reagan na virada
dos anos 80. “Os EUA continuam crescendo, embora pouco, economicamente, mas
houve uma retração social e política gerada na aplicação no receituário
neoliberal radical nos anos 80. Agora iremos nós, a esta altura, no Brasil,
fazer o mesmo?”
A professora Maria
Luiza Franco Busse enfatizou a importância de se disseminar a informação no
exterior “de que o que está acontecendo no Brasil é um golpe de Estado”. E
seguiu: “Especialmente aqui, com pesquisadores do mundo todo que estão formando
outros futuros pesquisadores e cidadãos, é fundamental que a academia não
esteja afastada do mundo real. O que está acontecendo em toda a América Latina
são, como afirma o professor Bresser-Pereira, golpes jurídico-parlamentares,
mas sobretudo midiáticos. É o suporte de uma política mais do que conservadora,
e sim reacionária e retrógrada, no sentido de cooptar o Estado para servir
unicamente ao 1% mais rico. Ali, não se admite sequer a possibilidade de
inclusão social”.
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