5 junho
2016, Jornal de Angola http://jornaldeangola.sapo.ao
(Angola)
Victor Carvalho
Num período de apertadas disputas
verbais entre diferentes protagonistas da política nacional, que se confundem
muitas das vezes com acções de mera propaganda partidária que retira alguma
lucidez a quem tem a responsabilidade de expor claramente o que pensa poder ser
o futuro do país.
É gratificante ver um líder
partidário da oposição usar um discurso positivo para passar a sua mensagem,
sem perder de vista a defesa dos seus interesses enquanto responsável por uma
das formações que ajudou a fazer a verdadeira história de Angola.
Numa entrevista concedida a este jornal, Lucas Ngonda, líder da FNLA, não hesitou em reflectir nas suas declarações aquilo que ele pensa dever ser o posicionamento estratégico de todos os angolanos, apontando a união como uma das melhores formas para tirar o país da crise económica em que
Lucas Ngonda, um intelectual e professor universitário que vê a política como um meio de servir o país que ama, liderando a FNLA com a fina subtileza que aprendeu nas diferentes missões católicas por onde passou, encara a actual realidade de Angola com uma clarividência que o dignifica e que o leva a assumir com frontalidade posições políticas cimentadas na ideia positiva de que só a união poderá dar a força necessária para colocarmos de lado os escolhos de que alguns se servem para alimentar as suas ambições.
Enquanto outros partidos e outras personalidades tentam aproveitar a todo o custo a presença em Angola de numerosos jornalistas estrangeiros para a cobertura das celebrações alusivas ao Dia Mundial do Ambiente, recorrendo à já estafada estratégia de criar diversos factos políticos para terem o seu minuto de fama, Lucas Ngonda aproveitou a oportunidade da entrevista para passar uma mensagem que revela o seu grande amor a Angola e, também, as ideias que tem e com as quais se apresentará no próximo ano perante os eleitores. O exemplo agora dado por Lucas Ngonda um contraste com os que aproveitam todos as ocasiões para dar de Angola uma imagem diferente do que ela na realidade é, reflecte aquilo que separa os que têm ideias e projectos e não temem em os expor, daqueles que fazem da mentira e do oportunismo a sua forma de estar na política pensando que dessa forma poderão algum dia chegar a um patamar acima daquele onde agora estão.
Não se pense que Lucas Ngonda é um político acomodado à sua condição de deputado e de líder partidário e que, por via disso, se apresenta submisso perante a opinião pública e vergado a uma qualquer aliança com o partido maioritário que neste momento governa o país.
Ao longo da entrevista, o presidente da FNLA não hesitou em criticar o Governo e a forma como este lida com o Parlamento, nem mesmo com a displicência quanto ao modo como foi encarado o período que marcou a projecção no país dos efeitos iniciais da crise económica que se abateu em todo o mundo.
Mas essas críticas foram feitas com elegância e acompanhadas das respectivas propostas de alternativa que se exigem a um político que faça da seriedade a sua forma de tentar ganhar votos.
Esta lufada de ar fresco dada por um dos políticos mais veteranos da cena nacional, deveria servir de exemplo a ser seguido por muitos dos que se aproveitam das fraquezas nacionais, resultantes de uma conjuntura extremamente complicada, para se colocarem em bicos de pés e tentar chegar a um patamar que lhes permita atacar e minimizar todos os esforços que os angolanos estão a fazer para darem o seu contributo ao trabalho que visa um futuro melhor.
Noutros países, mesmo nalguns que certos partidos gostam de invocar como exemplos de democracia, como é o caso dos Estados Unidos e a Europa, é habitual a existência de pactos entre as diferentes forças sociais e partidárias sempre que estão em causa os interesses nacionais, sejam eles derivados de factos políticos de crises financeiras ou de ameaças à sua segurança.
Nesses casos, a palavra “união”,
agora usada por Lucas Ngonda para apontar o caminho para um fim mais rápido da
crise, ganha uma dimensão verdadeiramente nacional ficando para trás
divergências que possam colocar em causa os interesses dos seus países.
Não sendo propriamente um “pacto de regime”, esta união de esforços para defender os interesses nacionais é aquilo que, afinal de contas, Lucas Ngonda propõe para uma fase transitória da vida nacional que tornaria menos penosos os esforços que os angolanos estão a fazer para vencer a crise.
Muitos, certamente, vão querer ver nesta entrevista do líder da FNLA uma espécie de “declaração de amor” ao MPLA. São os mesmos que, demonstrando a sua pouca imaginação, teimam na velha estratégia de semear ventos correndo, por isso, sérios riscos de poderem colher tempestades.
Na política, não só em Angola como também um pouco por todo o mundo, os bons exemplos são mais difíceis de seguir do que os tiques de oportunismo demonstrados frequentemente por personalidades que, infelizmente, teimam em estar no lado errado da história. Neste caso, de uma história que está a desenrolar-se perante as atenções de todos os angolanos e mesmo aqueles que agora ainda se deixam enganar por determinadas artimanhas, um dia despertarão para a triste realidade com a qual se traçou a linha que separa os que amam verdadeiramente Angola daqueles que usam o seu nome apenas para atingir os seus objectivos políticos.
A um ano de mais uma ida às urnas para dar seguimento ao cumprimento do calendário eleitoral, que alguns ainda tentam colocar em dúvida, seria bom sublinhar a responsabilidade social que os diferentes partidos políticos têm para com o seu eleitorado sendo os seus exemplos práticos uma excelente maneira de aquilatar da sua preparação para fazer frente aos desafios que se avizinham.Nisso, Lucas Ngonda deixou transparecer estar um passo à frente daqueles que ainda recorrem à trapaça para se tentarem afirmar.
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