26 junho 2016, Jornal Domingo http://www.jornaldomingo.co.mz
(Moçambique)
O Presidente da República, Filipe
Jacinto Nyusi, exortou ontem, em Maputo, ao povo moçambicano a fazer das
celebrações do 30º aniversário da Tragédia de Mbuzine, um momento da
consolidação da paz, unidade nacional,promoção do progresso social e económico,
valores nobres defendidos por todos que tombaram em defesa da pátria e de um
Moçambique próspero, indivisível, como é o caso do saudoso Presidente Samora
Moisés Machel.
Filipe Nyusi fez esta exortação
momentos depois de depositar uma coroa de flores no Monumento dos Heróis
Moçambicanos. A mesma marca o lançamento do programa comemorativo do 30º
aniversário da Tragédia de Mbuzine, na qual perdeu a vida o proclamador da
independência e primeiro Presidente da República, Samora Moisés Machel, a
decorrer sob o lema: “ 30 Anos de Mbuzini, Celebrando a Vida e Obra de
Samora Machel”.
Dirigindo-se à Nação a partir
do
pódio montado na Praça dos Heróis, Filipe Nyusi afirmou que celebrar a vida e
obra de Samora Machel é exaltar um nacionalista, patriota de elevada craveira,
líder visionário e estadista por excelência, o homem que proclamou a
Independência Nacional e projectou Moçambique no tempo e no espaço.
“Em nome do Governo da República
de Moçambique, exortamos a todos os moçambicanos em todo o território nacional
e na diáspora a se envolver intensamente no movimento de celebração da vida de
Samora Machel, enaltecendo e aprofundando a unidade e coesão entre nós,
consolidando a paz e promovendo o progresso social e económico do nosso belo
país”,disse na sua exortação perante
altos dignitários do Estado e outras figuras de índole político e social.
Segundo afirmou, nenhum nome se
confundiu tanto com o nome de Moçambique como a de Machel. “Nenhuma vida se
confundiu tanto com os nossos próprios sonhos de liberdade. Trinta anos depois,
a sua iluminada palavra continua a ser escutada em todos os recantos da nossa
nação. Trinta anos depois as ideias e as profecias de Machel continuam a trazer
esperança para todos os patriotas”, disse o Presidente da República,
acrescentando que a vida e obra de Samora Machel não são apenas objecto de
celebração do passado, mas permanecem uma referência viva para as gerações que
lhe seguiram.
Para o Chefe do Estado, a
dimensão de um político se mede não apenas pelo modo como é aclamado pelos seus
seguidores, mas pela forma como é respeitado pelos seus opositores. “Samora
Machel alcançou admiração e respeito por causa da sua estatura moral, da sua
integridade moral e do seu humanismo que superava fronteiras de raça, tribo,
género ou religião”.
“Volvidos trinta anos após o seu
desaparecimento físico, as suas lições perduram. O Presidente Machel permanece
vivo. E inspira-nos a todos nós perante os desafios que a Nação e o Mundo
enfrentam, como se de profecias se tratasse”, frisou o Chefe do Estado.
Nyusi sublinhou que Samora Machel
foi bem mais que o fundador de uma nação livre e independente, “uma vez que
continua a ser um alicerce do orgulho de sermos quem somos: solidários com os
mais carentes, disponíveis para lutar pelos que sofrem, pelos que são excluídos.
Samora, somos todos nós, moçambicanos de Norte a Sul”.
Acrescentou que ao recordar a
vida e obra de Samora Machel se pretende renovar o compromisso de preservação
da verdade e a liberdade, nobres conquistas da luta do povo moçambicano.
“Pretendemos, enfim, exaltar o
seu papel no estabelecimento de relações de amizade, solidariedade e cooperação
com todos os povos do Mundo. Neste momento que exaltamos a obra e os feitos de
Samora Machel, estamos conscientes que as palavras não serão suficientes para
exaltar a grandeza da sua herança. Compatriotas! Celebremos a vida de Samora.
Samora vive em cada um de nós”,exortou o Presidente da Republica.
De referir que o programa
comemorativo do trigésimo aniversário da tragédia de Mbuzine irá decorrer de 29
de Setembro, data em que Samora Machel nasceu, até 19 de Outubro, dia em que
perdeu a vida com outras 33 pessoas no acidente de Mbuzini. O programa vai
compreender um conjunto de actividades políticas, culturais e desportivas, do
Rovuma ao Maputo e do Zumbu ao Índico.
Os desafios permanecem -- Armando Guebuza, antigo Chefe
do Estado
O antigo Chefe do Estado, Armando
Emílio Guebuza, diz que é preciso continuar a valorizar a Independência
Nacional, sobretudo as conquistas, fazendo face aos desafios da actualidade,
que passam pelo combate à pobreza. Para ele, o desafio continua a ser a
consolidação da paz e da unidade entre os moçambicanos.
Instado a pronunciar-se sobre as
crises económica, financeira e a dívida pública, Guebuza afirmou que o assunto
já foi aflorado no Parlamento, onde o governo foi dar os devidos
esclarecimentos convidando os cidadãos a aguardar serenamente.
“Eu gostaria de tornar claro que
as causas dos problemas que temos hoje, que felizmente já foram apresentados e
tornados públicos na ocasião por outros dirigentes e mostram que a crise não
afecta só o nosso país, mas também outros a nível internacional, mas que no
plano nacional a situação é agravada pela guerra, seca e cheias. Eu penso que
podemos nos levantar firmemente para fazer face a esse desafio”, disse Armando Guebuza.
Moçambique precisa desenvolver-se
-- Marina Pachinuapa, combatente
da luta de libertação nacional
Marina Pachinuapa, combatente da
luta de libertação nacional considera a celebração dos 41 anos da Independência
Nacional como direito de todo o povo que ganhou a liberdade depois de muitos
sacrifícios.
“O povo moçambicano teve o
direito de ficar independente. Os 41 anos que completamos hoje (sábado), são
motivo de orgulho e expressam a grandeza de um país que se libertou do jugo
colonial português”, disse Marina Pachinuapa.
Para ela, o desafio que se segue
é trabalhar no sentido de combater a pobreza que graça milhares dos
moçambicanos. “Temos a terra, a nossa maior riqueza neste país, por isso
todos somos chamados a dar a mão no processo de construção de um Moçambique,
uno, próspero e indivisível”.
Sobre a tensão militar e a crise
económica e financeira, aquela combatente afirmou que a crise económica não era
só problema dos moçambicanos, afectando todo mundo quer países da Europa, Ásia,
África e América.
“Em Moçambique a situação
torna-se mais difícil por causa da instabilidade militar que se vive na região
centro e norte. As pessoas que promovem esses actos de desordem deviam pôr a
mão à consciência e perceber que Moçambique precisa de se desenvolver e para
isso têm que parar com a guerra”, disse Marina Pachinuapa.
Não estamos mutilados, temos as
mãos… -- Ornília Machel, filha
do Presidente Samora Moisés Machel
Ornilia Machel, filha do falecido
Presidente Samora Machel, entende que a melhor forma de celebrar esta efeméride
é seguir as peugadas de todos aqueles que derramaram o seu sangue em defesa da
integridade e libertação do país do jugo colonial português.
Acrescentou ainda que a melhor
forma de dignificar tais homens é cada um dos moçambicanos colocar a mão na
consciência e partir para trabalho árduo. “Não estamos mutilados, temos as
mãos, cabeças, pelo que há que fazer o uso destes recursos que Deus nos deu
para participar na construção do país, pelo que o desafio é continuar a
trabalhar por forma a alcançar efectivamente a independência espiritual,
liberdade de expressão e independência económica”.
Para ela, a independência é
manchada pelos ataques da Renamo que acontecem em algumas regiões do país e que
impedem a livre circulação de pessoas e bens.
Ninguém deve ficar alheio -- Manuel Tomé, membro da
Frelimo
“Uma comemoração da Independência
Nacional tem sempre um significado muito grande, porque é o momento em que nós
nos revemos na história, uma história de libertação e de construção. Quarenta e
um anos podem significar alguma coisa para um homem, mas na vida de uma nação
continuam a não ser significativo. No entanto, vale apenas registar que não
fossem os percalços imprevistos no processo de construção, Moçambique estaria
muito desenvolvido. Mas estamos numa situação difícil a qual ninguém deve ficar
ou estar alheio”, palavras de Manuel Tomé quando instado a pronunciar-se sobre o
significado dos 41 anos da Independência Nacional.
No concernente às crises
económica e financeira e tensão militar, aquele político afirmou que os
moçambicanos devem ter a esperança de que tudo poder ser ultrapassado a
qualquer momento. “Sobre a dívida pública, o Fundo Monetário Internacional
já se reuniu com o Governo que até se explicou no Parlamento. Quanto ao
diálogo, os preparativos estão no bom caminho. A Comissão Mista está a
concertar, o resto é esperarmos que o encontro ao mais alto nível aconteça
brevemente para a partir dai voltarmos à paz efectiva”.
As hostilidades militares ofuscam
as celebrações -- Meriamo Comé,
munícipe de Maputo
Meriamo Comé afirmou que se não
fossem as hostilidades militares, os 41 anos da Independência teria um “sabor”
expressivo dado o desenvolvimento que o país regista quer em infra-estruturas
sociais, assim como do capital humano.
“Infelizmente, a questão das
hostilidades militares entristece a maior parte dos cidadãos moçambicanos, em
partícular eu própria, que perdi um irmão durante a guerra dos 16 anos movida
pela Renamo. Portanto, estou com mágoas, porque não sei se ele continua vivo”, disse Comé, para quem a guerra
está a atrofiar o desenvolvimento do nosso país.
Acrescentou que os moçambicanos
estão esperançosos que o encontro entre o Presidente da República e o líder da
Renamo ocorra o mais rápido possível no sentido de desanuviar a tensão. “Portanto,
apelo ao irmão que está nas matas a tomar consciência dos seus actos e voltar
ao convívio normal com os moçambicanos, porque a paz é o bem precioso que todos
nós precisamos
Falta a independência económica -- Lutero Simango, do MDM
O chefe da bancada parlamentar do
Movimento Democrático de Moçambique (MDM), Lutero Simango, reconhece a
existência de algumas conquistas, fruto da luta contra a dominação colonial,
mas refere que ainda falta conquistar a independência económica.
Segundo Lutero Simango, para
isso, exige-se alguns requisitos básicos, dos quais a paz está em primeiro
lugar, e depois é preciso haver uma reconciliação nacional efectiva e políticas
de inclusão.
“Noto que temos ainda grandes
desafios. É verdade que já alcançamos a independência política, a soberania, já
temos a nossa bandeira nacional, hino, nossas instituições, que funcionam bem
ou mal, mas elas existem. O 25 de Junho considero como um sol que brilha,
então, tem que brilhar para todos. Portanto, o
seu brilho requer políticas de inclusão”, disse.
Ainda sobre os desafios, Lutero
Simango afirmou que é preciso resolver de uma vez para sempre os conflitos que
o país enfrenta há décadas, que por causa disso, “estamos a viver em guerra
e exclusão permanente. Se tu não separas o partido e o Estado, continuaremos a
viver os mesmos problemas. É preciso ter políticas adequadas para o
desenvolvimento da economia nacional. Não podemos continuar a viver na base de
doações para o nosso orçamento do Estado”.
Inspirarmo-nos no passado -- Paulina Chiziane, escritora
A escritora moçambicana, Paulina
Chiziane considera que a crise económica actual não é a primeira de que o país
se ressente. Por isso, é necessário nos inspirarmos no passado, para depois
reunir esforços para ultrapassá-lo.
“Temos que nos inspirar do
passado, como é que no passado as crises foram superadas, e a partir daí reunir
esforços para ultrapassar a actual. A dinâmica duma sociedade às vezes tem os
seus momentos de crise. Se calhar esta crise é uma oportunidade para nos
tornarmos mais fortes, crescermos e tomarmos consciência da nossa própria
cidadania”, referiu Paulina
Chiziane.
Falando ainda sobre os desafios
do país, que celebrou ontem 41 anos de Independência, Chiziane disse que são
vários em todos os sectores. Entretanto, para Chiziane a luta pela liberdade
continua. “Esta data é a celebração da liberdade, aquele bem precioso pelo
qual deve lutar toda a humanidade e por toda eternidade”.
Texto de Domingos Nhaúle
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