10 de junho de 2016, Revista
do Consultor Jurídico http://www.conjur.com.br (Brasil)
A maioria dos ministros
do Tribunal Superior do Trabalho se posicionou nesta sexta-feira (10/6)
contra uma possível desconstrução do Direito do Trabalho no
Brasil. "Muitos aproveitam a fragilidade em que são jogados os
trabalhadores em tempos de crise para desconstruir direitos, desregulamentar a
legislação trabalhista, possibilitar a dispensa em massa, reduzir benefícios
sociais, terceirizar e mitigar a responsabilidade social das empresas",
diz trecho o manifesto assinado por 19 dos 27 ministros da corte.
A reação vem num momento
no qual o governo do presidente interino Michel Temer planeja uma reforma
previdenciária seguida de uma reforma trabalhista.
Segundo os ministros,
por desconhecimento ou outros interesses, a negociação entre sindicatos,
empresas e empregados é utilizada com o objetivo de precarizar o trabalho,
"deturpando seu sentido primordial e internacionalmente reconhecido,
consagrado no caput do artigo 7º da Constituição da República, que
é o de
ampliar e melhorar as condições de trabalho".
Intitulado Documento
em defesa do Direito do Trabalho e da Justiça do Trabalho no Brasil,
o manifesto foi lido pelo desembargador Francisco Giordani
no encerramento da 16º edição do Congresso Nacional de
Direito do Trabalho e Processual do Trabalho, que acontece em Paulínia (SP),
promovido pelo Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região. O posicionamento
dos ministros foi aplaudido efusivamente por cerca de mil congressistas.
No documento, os
ministros afirmam que é preciso esclarecer a sociedade que a
desconstrução do Direito do Trabalho será nefasta sob qualquer aspecto:
econômico, social, previdenciário, segurança, político, saúde pública, entre
outros tantos aspectos. Conforme os ministros, neste momento de grave
crise política, ética e econômica, torna-se essencial uma reflexão sobre a
importância dos direitos, em particular os sociais trabalhistas.
Entre os dados
elencados para justificar essa afirmação, os ministros apontam
que nos dois últimos anos (2014/15), foram entregues aos trabalhadores
mais de R$ 33 bilhões em créditos trabalhistas decorrentes do descumprimento da
legislação, além da arrecadação para o Estado brasileiro (entre custas e
créditos previdenciários), de mais de R$ 5 bilhões.
Propósito de retaliação
No manifesto, os ministros falam também sobre o corte orçamentário. Para eles, o corte diferenciado para a Justiça do Trabalho, maior que para os demais ramos do Judiciário, foi motivado por "declarado propósito de retaliação contra o seus papel social e institucional, levando à inviabilização de seu funcionamento".
No manifesto, os ministros falam também sobre o corte orçamentário. Para eles, o corte diferenciado para a Justiça do Trabalho, maior que para os demais ramos do Judiciário, foi motivado por "declarado propósito de retaliação contra o seus papel social e institucional, levando à inviabilização de seu funcionamento".
A Lei Orçamentária
Anual (Lei 13.255/2016) promoveu um corte de 90% nas despesas de
investimento e de 24,9% nas de custeio no orçamento de 2016 da Justiça do
Trabalho. De outro lado, a tendência é que o número de processos trabalhistas
cresçam, uma vez que há um aumento do desemprego. O TRT-15, por
exemplo, recebeu 13% a mais de demandas no primeiro
quadrimestre deste ano se comparado ao mesmo período de 2015.
Ao encerrar o
manifesto, os ministros afirmam que o Direito do Trabalho é essencial para
a valorização do social do trabalho e da livre iniciativa e para a construção
da cidadania.
"É preciso que
todos saibam que agredir o Direito do Trabalho e a Justiça do Trabalho é
desproteger mais de 45 milhões de trabalhadores, vilipendiar cerca de dez
milhões de desempregados, fechar os olhos para milhões de mutilados e
revelar-se indiferente à população de trabalhadores e também de empregadores
que acreditam na força da legislação trabalhista e em seu papel constitucional
para o desenvolvimento do Brasil."
O presidente do TRT-15,
Lorival Ferreira dos Santos, elogiou a manifestação dos ministros e disse
que o tribunal endossa o documento. "Nós temos feito nossas manifestações,
inclusive com ato público de apoio, de resgate da Justiça do Trabalho. Um
deputado quis nos colocar de joelho, a mando de muitos outros, mas nós somos
fortes. Estamos resistindo e vamos resistir", afirmou fazendo referência
ao autor da proposta de cortes no Judiciário e relator da proposta da
LOA, deputado Ricardo Barros.
No primeiro dia do
congresso do TRT-15, o ministro do TST Lelio Bentes Corrêa já havia afirmado que, devido
à situação econômica brasileira, não é o momento para desproteger o
trabalho. O ministro
ressaltou que é preciso, principalmente nesses momentos, proteger o
trabalhador. Segundo Corrêa, a flexibilização das garantias
trabalhistas é uma opção política que amplia a liberdade econômica em detrimento
dos direitos sociais. "Preserva o lucro em detrimento às garantias e
direitos dos trabalhadores", complementou.
PDF http://s.conjur.com.br/dl/manifesto-ministros-tst-defesa-direito.pdf
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