6 June 2016, Transcend Media Service https://www.transcend.org (EUA)
Glenn
Greenwald – The Intercept
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3 de junho de 2016 – Desde o começo, ficou evidente que o processo de
impeachment da presidente eleita, Dilma Rousseff, tinha como objetivo principal
o fortalecimento dos verdadeiros ladrões de Brasília, permitindo assim que
impeçam, obstruam e ponham fim às investigações da Operação Lava Jato (além de
imporem uma agenda neoliberal de privatizações e austeridade extrema). Apenas 20 dias após
assumir o poder, provas irrefutáveis do envolvimento do Presidente interino
Michel Temer em escândalos de corrupção vieram à tona. Dois ministros interinos
de seu gabinete composto apenas de homens brancos, incluindo o Ministro da Transparência, foram forçados a abandonar seus cargos depois do aparecimento de gravações secretas em que
conspiram visando obstruir as investigações nas quais se encontram envolvidos,
assim como 1/3 dos ministros do gabinete interino.
Mas os alarmantes níveis de corrupção de seus
ministros têm por vezes servido para encobrir o envolvimento do próprio Temer.
O interino também se encontra envolvido em diversas investigações de corrupção. Agora condenado formalmente por violações de
leis eleitorais, encontra-se por oito anos impedido de se candidatar a qualquer cargo
público. Ontem, o Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, estado
do presidente interino, publicou uma certidão formal que o declara culpado e impedido de se candidatar a
qualquer cargo público por ter se tornado um candidato “ficha suja”. Temer foi
condenado por
doações acima do limite de campanha permitido por lei.
Em meio a intrigas, corrupção e irregularidades no
governo “interino”, as violações da lei não são a mais grave transgressão de
Temer. Mas ainda assim revelam de forma evidente a fraude antidemocrática que a
elite brasileira tenta perpetrar no país. Em nome da corrupção, a presidenta
eleita democraticamente foi afastada e substituída por alguém que, apesar de
não estar impedido por lei de assumir cargos públicos, encontra-se por oito
anos impedido de se candidatar ao cargo que exerce no momento.
Apenas algumas semanas atrás, o impeachment de Dilma
parecia inevitável. Até então, toda a atenção da mídia oligárquica brasileira
era dirigida exclusivamente à presidenta. Mas gradualmente as atenções se
voltaram para quem estava organizando o processo de impeachment, para quem se
fortaleceria e para seus motivos reais.
Então, tudo mudou. Agora, o impeachment de Dilma,
embora ainda seja provável, não parece mais ser completamente inevitável. O Globo,
informou na semana passada que
dois senadores anteriormente favoráveis ao afastamento da presidenta, já
admitem rever seus votos por conta das gravações recentemente publicadas dos
ministros de Temer. Além disso, a Folha de S.P. ontem também noticiou que diversos senadores
estudam a mudança de seus votos. É importante observar que os meios de
comunicação brasileiros pararam de publicar pesquisas de opinião sobre a
popularidade de Temer e sobre o impeachment de Dilma.
Enquanto isso, a hostilidade a esse ataque à
democracia cresce tanto no Brasil, quanto no exterior. Os protestos contra
Temer têm crescido e se intensificado. Mais de vinte deputados britânicos revelaram queconsideram o impeachment um golpe. Mais de trinta deputados do Parlamento europeu reivindicaram o fim das negociações comerciais com o governo “interino” brasileiro por considerá-lo
ilegítimo. O grupo anticorrupção Transparência Internacional anunciou que interromperia os diálogos com o novo governo até que a corrupção fosse eliminada dos novos
ministérios. Em uma reportagem sobre a demissão do
Ministro da Transparência nesta semana, o New York Times descreveu-a como
“mais uma derrota para um governo que parece se atrapalhar em sucessivos
escândalos poucas semanas depois de Temer substituir Dilma Rousseff.”
Mas nada explica melhor a perigosa farsa que as elites
brasileiras tentam impor à população do que o líder por eles escolhido ser
impedido de se candidatar ao cargo que acabou de assumir, devido a uma
condenação judicial. Não se trata apenas da destruição da democracia no quinto
país mais populoso do mundo, tampouco da imposição de uma agenda de
privatizações e ataque aos pobres para benefício da plutocracia
internacional. Trata-se do fortalecimento de operadores corruptos –
desrespeitando as regras democráticas – cinicamente conduzido em nome da luta
contra a corrupção.
* * * * *
Ontem, em um evento no Rio de Janeiro com David
Miranda e Nathalie Drumond, fui perguntado – como sempre sou nestes eventos –
sobre o possível envolvimento dos Estados Unidos na mudança do governo. Abaixo,
um vídeo com 4 minutos de minha resposta:
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