26 junho 2016, Resistir.info
http://resistir.info (Portugal)
por Pierre Lévy*
Brexit! Acontecimento literalmente histórico.
Para as elites mundializadas, ele ultrapassa os piores pesadelos e era, na realidade, inconcebível.
Para aqueles que seguem atentamente a actualidade europeia, e estão conscientes da crescente rejeição popular que a UE inspira com muita razão, ele ao contrário era previsível.
Em primeiro lugar, uma constatação salta aos olhos. É verdade que uma parte da burguesia inglesa apoiou a opção de retirar o Reino Unido da União Europeia. Mesmo assim a clivagem é gritante: de um lado, as elites institucionais e políticas (e sindicais, com algumas louváveis excepções), a City, os bancos , os patrões das grandes empresas (1300 deles haviam lançado um apelo final dois antes do escrutínio) – e os meios urbanos abastados; do outro, os bairros populares, as cidades operários e os arrabaldes abandonados, as regiões desindustrializadas e no abandono.
É este fosso que acima de tudo
determinou o resultado . Basta de resto ouvir as caçoadas odiosas que se
jorram contra estes "meios desfavorecidos" dotados de "um nível
de educação inferior", "irracionais e movidos pelo ódio". Este
desprezo de classe, aumentado pelo despeito da derrota, diz muito sobre a
natureza real do que estava em jogo. Para as elites mundializadas, ele ultrapassa os piores pesadelos e era, na realidade, inconcebível.
Para aqueles que seguem atentamente a actualidade europeia, e estão conscientes da crescente rejeição popular que a UE inspira com muita razão, ele ao contrário era previsível.
Em primeiro lugar, uma constatação salta aos olhos. É verdade que uma parte da burguesia inglesa apoiou a opção de retirar o Reino Unido da União Europeia. Mesmo assim a clivagem é gritante: de um lado, as elites institucionais e políticas (e sindicais, com algumas louváveis excepções), a City, os bancos , os patrões das grandes empresas (1300 deles haviam lançado um apelo final dois antes do escrutínio) – e os meios urbanos abastados; do outro, os bairros populares, as cidades operários e os arrabaldes abandonados, as regiões desindustrializadas e no abandono.
É este fosso que acima de tudo
O mesmo se diz da longa lista interminável dos membros da Santa Aliança que, durante meses, tudo tentou – em particular uma incrível chantagem do caos – para evitar o "cataclismo" anunciado: G7, chefes de Estado e de governo, ministros, dirigentes de multinacionais, banqueiros, agências de notação, OCDE, FMI... Os EUA obtiveram a palma quanto a isto, com uma visita especial a Londres do presidente Obama ...
Naturalmente, cada país tem a sua própria cultura política. Mas esta oposição entre os "do alto" e os "de baixo" da sociedade é uma constante que se reencontra em todas as consultas sobre a Europa. Pois este manguito dirigido a Bruxelas é o quarto em menos de um ano. Os gregos (Julho 2015) , os dinamarqueses (Dezembro 2015) e os holandeses (Abril 2016) já haviam pronunciado um Não atroador aquando dos referendos quanto à Europa.
Esta geografia social da recusa da integração europeia fora particularmente impressionando no referendo francês de Maio de 2005 que rejeitou o Tratado Constitucional Europeu (TCE). Um escrutínio que constituiu de certa forma um primeiro tremor de terra no seio da UE.
Na época, foram os operários, e mais geralmente o mundo do trabalho, os explorados, os dominados, que se revoltaram contra o projecto europeu de que se poderia resumir assim o objectivo mais essencial: retirar aos povos ("povos" no sentido político e não étnico) a liberdade de determinar as grandes escolhas que condicionam seu devir. A expressão mesmo de "comunidade de destino" (como se definiu a UE) diz tudo: proibição de fazer escolhas diferentes daquelas da "comunidade" e, sobretudo, o "destino" ultrapassa a vontade humana...
Deve-se notar de passagem que a mais alta distinção concedida pela União Europeia se chamae "prémio Carlos Magno". Uma escolha que diz muito sobre as ambições imperiais desta "construção" que foi, no após-guerra imediato, promovida activamente por Washington.
Esta vontade recuperar sua liberdade política colectiva – o termo jurídico é soberania, um conceito frequentemente caricaturado, quando se trata do próprio quadro da democracia real – tem a ver mais habitualmente com a aspiração colectiva do que com uma motivação explícita de cada cidadão. Verifica-se que os eleitores britânicos sem dúvida não se esqueceram de como foi espezinhado o Não francês ao TCE, assim como a maneira humilhante como foram tratados os irlandeses aquando da sua exigência – efectuados duas vezes – de recomeçar sua votação porque eles não haviam dado a boa resposta da primeira vez...
Um tal abuso de autoridade não foi possível com os ingleses. Estes acabam de entregar uma mensagem simples: pode-se ir embora. A consequência é certa: a União Europeia está morta. Unicamente a forma e a data da agonia são desconhecidas.
Em 1989, a queda do Muro de Berlim abria uma era em que os dirigentes ocidentais esperavam estender sua dominação sobre o mundo inteiro, privar os povos da sua liberdade e aproveitar para impor recuos sociais literalmente sem precedentes.
O que se segue não está escrito. Mas um formidável retorno da correlação de forças esboçou-se a 23 de Junho de 2016. Sugere-se a todos os progressistas que meçam a sua amplitude.
E o sentido da mesma.
24/Junho/2016
*Pierre
Lévy: Especialista em questões europeias, dirige a redacção de Ruptures . Anteriormente foi jornalista no diário L'Humanité,
engenheiro e sindicalista. É autor de dois ensaios e um romance.
O original encontra-se em francais.rt.com/opinions/22682-union-europeenne-morte
O original encontra-se em francais.rt.com/opinions/22682-union-europeenne-morte
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L’Union européenne est morte
24 juin 2016, RT France https://francais.rt.com (France)
Le peuple ne veut plus de l'UE. Le Brexit pourrait
déclencher une avalanche d'événements, à l'exemple de la chute du Mur de Berlin
en 1989, même si leur ampleur et sens sont encore à mesurer, estime Pierre
Lévy, spécialiste des questions européennes.
Brexit ! L’événement est littéralement historique.
Pour les élites mondialisées, il dépasse les pires
cauchemars et était, en réalité, inconcevable.
Pour ceux qui suivent attentivement l’actualité
européenne, et sont conscients du rejet populaire croissant que l’UE inspire à
juste titre, il était au contraire prévisible.
Tout d’abord, un constat saute aux yeux. Certes, une
partie de la bourgeoisie anglaise a soutenu le choix de sortir le Royaume-Uni
de l’Union européenne. Il n’en reste pas moins que le clivage est
saisissant : d’un côté, les élites institutionnelles et politiques (et
syndicales, à quelques louables exceptions près), la City, les banques, les patrons des grandes entreprises (1300 d’entre eux
avaient lancé un ultime appel deux jours avant le scrutin) – et les milieux
urbains huppés ; de l’autre, les quartiers populaires, les villes
ouvrières et les banlieues délaissées, les régions entières désindustrialisées
et à l’abandon.
Cette opposition entre «le haut» et «le bas» de la
société est une constante qu’on retrouve dans toutes les consultations sur
l’Europe.
C’est ce fossé qui a avant tout déterminé le résultat. Il suffit du reste d’écouter les quolibets haineux
qui fusent contre ces «milieux défavorisés» dotés d’«un niveau d’éducation
inférieur», «irrationnels et mus par la haine». Ce mépris de classe, rehaussé
par la hargne de la défaite, en dit long sur la nature réelle de l’enjeu.
De même qu’en dit long l’interminable liste des membres
de la Sainte-Alliance qui, des mois durant, a tout tenté – en particulier un
incroyable chantage au chaos – pour éviter le «cataclysme» annoncé : G7,
chefs d’Etat et de gouvernement, ministres, dirigeants de multinationales,
banquiers, agences de notation, OCDE, FMI… Les USA remportent à cet égard la
palme, avec une visite à Londres tout exprès du président
Obama …
Certes, chaque pays a sa propre culture politique. Mais
cette opposition entre «le haut» et «le bas» de la société est une constante
qu’on retrouve dans toutes les consultations sur l’Europe. Car ce bras d’honneur
adressé à Bruxelles est le quatrième en moins d’un an. Les Grecs (juillet 2015), les Danois (décembre 2015) et les Néerlandais (avril 2016) avaient déjà fait entendre un Non retentissant lors
des référendums portant sur l’Europe.
Le terme même de «communauté de destin» dit tout :
interdiction de faire des choix différents de ceux de la «communauté».
Cette géographie sociale du refus de l’intégration
européenne avait été particulièrement impressionnante lors du référendum
français de mai 2005 qui rejeta le traité constitutionnel européen (TCE). Un
scrutin qui constituait en quelque sorte un premier tremblement de terre au
sein de l’UE.
A l’époque, ce sont bien les ouvriers, et plus
généralement le monde du travail, les exploités, les dominés, qui s’étaient
révoltés contre le projet européen dont on pourrait résumer ainsi l’objectif le
plus essentiel : enlever aux peuples (« peuples » au sens
politique, et non ethnique) la liberté de déterminer les grands choix qui conditionnent
leur avenir. Le terme même de «communauté de destin» (comme se définit l’UE)
dit tout : interdiction de faire des choix différents de ceux de la
«communauté» ; et, surtout, le «destin» dépasse la volonté humaine…
On notera au passage que la plus haute distinction
accordée par l’Union européenne s’appelle le «prix Charlemagne». Un choix qui
en dit long sur les ambitions impériales de cette «construction», qui fut, dès
l’immédiat après-guerre, activement promue par Washington.
Certes, cette volonté de récupérer sa liberté politique
collective – le terme juridique est souveraineté, un concept souvent
caricaturé, alors qu’il s’agit du cadre même de la démocratie réelle – relève
plus souvent de l’aspiration collective que d’une motivation explicite de
chaque citoyen. Reste que les électeurs britanniques n’ont sans doute pas
oublié comment fut bafoué le Non français au TCE, de même que la manière
humiliante dont furent traités les Irlandais lorsqu’on leur demanda – par deux
fois – de recommencer leur vote parce qu’ils n’avaient pas donné la bonne
réponse du premier coup…
Une telle forfaiture ne sera pas possible avec les
Anglais. Ceux-ci viennent de délivrer un message simple : on peut s’en
aller. La conséquence est certaine : l’Union européenne est morte. Seules
la forme et l’échéance de l’agonie sont inconnues.
En 1989, la chute du Mur de Berlin ouvrait une ère où les
dirigeants occidentaux ont espéré étendre leur domination sur le monde entier,
dessaisir les peuples de leur liberté, et en profiter pour imposer des reculs
sociaux littéralement sans précédent.
La suite n’est pas écrite. Mais un formidable
retournement du rapport de force s’est esquissé le 23 juin 2016. On suggère à
tous les progressistes d’en mesurer l’ampleur.
Et le sens.
*Pierre Lévy: Spécialiste des questions européennes, Pierre Lévy
dirige la rédaction du mensuel Ruptures. Précédemment, il a été journaliste au
sein du quotidien L’Humanité, ingénieur et syndicaliste. Il est l’auteur de
deux essais et un roman.
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